Protagonismo, em tempos de ataques à sua profissão docente!

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Regina Costa dos Santos vem se destacando
na defesa da educação pública municipal, de qualidade social,
e na defesa dos interesses dos professores e professoras
em Passo Fundo, RS, como dirigente do CMP Sindicato.

É uma liderança sindical com trajetória e experiências anteriores ao seu trabalho de professora de educação infantil. Desde muito jovem, Regina participa de grupos de jovens, de organização de coletivos de mulheres e de trabalhadores, a partir de seus locais de trabalho e de seus bairros.

Regina Costa dos Santos é Destaque na Educação, reconhecida por seus pares como uma liderança forte, convicta e batalhadora. Conheçamos mais de Regina por ela mesma.

NEI ALBERTO PIES: “Nem sempre professora, mas desde jovem na luta”. Como, quando e porque o seu interesse pela educação?

Acredito que o próprio envolvimento com grupos de base foi contribuindo para ingressar no magistério.

Não teve uma data, local ou ainda uma determinada situação. Acredito que as vivências do processo de formação foram me direcionando para profissão docente, onde as referências de professores e pessoas que fui tendo ao longo da minha vida e a utopia de contribuir na construção de um mundo mais justo e humano foram fundamentais.

Desde muito jovem tenho facilidade em trabalhar com grandes grupos e profissionalmente sempre me imaginei dando aula, tanto que tenho dificuldade de me ver em outra profissão, com o mesmo êxito que desenvolvo a atividade docente.

Recordo-me que logo que ingressei no curso normal-magistério, no EENAV esta pergunta era recorrente dos professores(as) no primeiro dia de aula, diferente de outras colegas não era pelo AMOR as crianças, mas pelo respeito ao SER HUMANO e por acreditar que a educação cumpria e cumpre um papel fundamental na transformar do mundo em um lugar mais justo e humano.

Claro que não fácil, pois oriunda de uma família muito pobre, tive muitas dificuldades para estudar, mesmo no período do magistério que era público, morava em um bairro da periferia que ficava distante da escola e não tinha dinheiro para comprar vale transporte e fazer as muitas cópias (Xerox) e os trabalhos, logo fazia muitos quilômetros a pé e o jeito era copiar dos os xerox no caderno e fazer os trabalhos utilizando restos de materiais que coletava dos amigos(as).

Para fazer a universidade foi ainda mais complicado, pois em Passo Fundo a faculdade era particular e naquele período era um LUXO de poucos terem uma graduação, com ajuda de amigos e a inserção do mercado de trabalho possibilitou que pudesse me formar. Fiquei quase 10 anos, pois com poucos recursos, casa para manter e um filho pequeno para sustentar muitas vezes acabava por ter que trancar os estudos e retomar um tempo depois, mas tudo, no seu tempo, foi dando certo.  

Fotos: CMP Sindicato/Ingra Costa e Silva


NEI ALBERTO PIES:  O que significa para ti ser professora de educação infantil e representar no Sindicato dos professores os interesses de todos os professores e professoras da rede municipal de ensino de Passo Fundo?

É uma grande responsabilidade, mas coletivamente vamos nos completando e buscando alternativas para superar os desafios.

Em 2003 ingressei na EMEI Sonho Encantado, na época pela ´´cooperativa´´ na fase de transição da assistência social para educação, tudo era muito precário muitos alunos por turma e de idades diferentes, uma carga horária extensa, com recursos humanos e material escassos…

Foi na educação infantil que fui me constituído professora e sindicalista. Pois uma não existe sem a outra.

Víamo-nos diante do caos e sem ter a quem recorrer foi neste período que começamos a refletir sobre nossa realidade de trabalho e a importância de estarmos em espaços que contribuíssem para mudar esta realidade, por intermédia de uma colega tive meu primeiro contato com Centro Municipal dos Professores, associação, a qual originou o CMP sindicato, mais tarde. Em 2006 ingressei na rede como professora efetiva, o que possibilitou reivindicar juntamente com minhas colegas melhores condições de trabalho e buscar estar mais perto da associação, na qual em 2010 concorri e comecei a fazer parte da direção.

Importante, destacar que mesmo não sendo dirigente sindical a partir da nossa organização no local de trabalho, fomos construindo coletivamente alternativas para melhorar nossas condições de trabalho.

NEI ALBERTO PIES: Como o seu trabalho de militância ligado à juventude, aos grupos e coletivos de jovens, mulheres e trabalhadores vem constituindo a sua trajetória de professora e liderança sindical?

Estar na liderança de um sindicato e estar sendo desafiada diariamente a “remar contra a maré´´, considerando que estamos em uma sociedade onde se sobressai as práticas individuais e competitivas da sociedade e do mundo do trabalho.

Ter a oportunidade de me constituir em grupos de base, através da análise da realidade e da formação a partir da ação militante, me permitiu entender muitas coisas que o espaço acadêmico não nos oferece, o que chamo de faculdade da vida, pois foi nestes espaços que aprendi a viver coletivamente onde o outro importa, onde ninguém é bom de mais que não precise das outras pessoas. 

Defendo que o trabalho de base, neste caso, a escola deve ser o orientador da atuação sindical e das ações de transformação da educação.

NEI ALBERTO PIES: Na sua visão, qual é a importância das mulheres professoras na política sindical e educacional?

A mulher no movimento sindical e na educação sempre foi merecedora de destaque seja pela função de liderança, seja como parte de uma categoria que predomina o público feminino e é formadora de opinião e que tem um papel fundamental na sociedade.  

Importante e fundamental a participação efetiva da mulher na luta sindical, na política educacional e partidária e demais instâncias de poder, porque nós somos as verdadeiras representantes da classe feminina e a nós cabe estar, lutando pela emancipação das mulheres, pela nossa profissão docente e pela educação pública de qualidade.

É comprovando que se queremos mudar a sociedade, esse processo perpassa pela educação onde somos as protagonistas, as quais somos essenciais, pois somos cerca de 86% dos profissionais que atual na educação.

Neste sentido, nossos sindicatos e instituições de educação devem levar em consideração a realidade de trabalho e de vida das mulheres, onde estamos e atuamos em várias frentes, seja como mulheres, mães, esposas, professoras…

Tenho defendido por onde passo que se queremos um mundo mais justo e igualitário perpassa por estar ocupando os espaços de liderança.

NEI ALBERTO PIES: Quais são, hoje, os maiores desafios da profissão docente?

Os desafios são muitos, pois vivemos atualmente vários ataques a profissão docente, que perpassam pelo desmantelamento dos planos de carreira, cargas horárias extensas que são fruto dos baixos salários, onde acabamos por ter que trabalhar vários turnos para poder aumentar a renda, acrescido da desvalorização social da carreira, falta de condições humana e material de trabalho e as dificuldades sociais e aprendizagem.

Entendo que este cenário de descaso vem sendo desgastante para nossos professores, no entanto não podemos nos abater, temos que encarar e a organização dos profissionais da educação é uma alternativa, onde costumo dizer que são desafios coletivos e individuais.

Coletivos, no que diz respeito a estar LUTANDO por investimentos financeiros significativos dos governantes na educação e políticas públicas para educação de qualidade e de valorização da profissão docente.

Individuais, no que diz respeito a compreender a importância de ser protagonistas na defesa da profissão docente e da educação de qualidade. O sentindo de pertencimento é primordial para ressignificar o processo de organização e mobilização da categoria.

NEI ALBERTO PIES: Quais são, hoje, os maiores desafios da escola pública para que seja um ambiente de qualidade social, que interessa a todos os envolvidos nela (estudantes, professores, professoras, pais e mães)?


Acredito que um dos maiores desafios é estar resistindo aos ataques à educação pública e a profissão docente, participando de forma efetiva da construção de uma sociedade justa e democrática, lutando contra qualquer tipo de violência e discriminação e
pela a defesa da escola pública, gratuita, democrática, laica e de qualidade, que garanta da plena liberdade de ensinar e aprender.

NEI ALBERTO PIES: Qual a importância da atuação e organização do CMP Sindicato neste momento histórico do país e da educação em nossa cidade?

Não tem como falar dar importância do Sindicato dos Professores Municipais de Passo Fundo sem lembrar do processo de criação, o CMP Sindicato foi fundado em 2015, uma entidade criada pelos professores e professoras da rede, que diante da necessidade de ter de fato e de direito um sindicato que defenda os direitos da categoria, que lute por melhores condições de trabalho e de vida para professores e que se mantenha firme na defesa da educação de qualidade para nosso município.

Esta entidade nasceu repleta de sonhos, lutas e muita ousadia e vem cumprindo o papel importante, no que diz respeito a organização e mobilização da classe trabalhadora, destaco que em tempos difíceis para classe trabalhadora, ter uma entidade aguerrida e convicta da necessidade da luta, toda a classe trabalhadora ganha.

Tenho muito orgulho do nosso sindicato, pois mesmo com todos os ataques as organizações sindicais, temos nessa entidade a esperança de retomarmos nossa dignidade profissional e resgatar a importância da educação na construção de um outro mundo, o qual acredito que é possível.

Sim, o CMP Sindicato e todos os sindicatos de trabalhadores são fundamentais para classe trabalhadora, foi e será através destas entidades que conquistamos, manteremos e teremos avanços profissionais, no entanto cabe lembrar dirigentes passam e as entidades ficam, mas os trabalhadores são corresponsáveis pelo protagonismo e os rumos que a organização sindical irá tomar, e mais se queremos o fortalecimento da LUTA dos trabalhadores precisamos de sindicatos fortes, e só será possível quando a massa dos trabalhadores entenderem a importância.

NEI ALBERTO PIES: Uma frase pela qual vale a pena viver.

“Sonha e serás livre de espírito… luta e serás livre na vida. ´´(Che Guevara)

NEI ALBERTO PIES: Uma frase que define Regina Costa dos Santos.

“Lute pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”. (Olga Benário Prestes)

NEI ALBERTO PIES: Uma frase sobre educação.

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”.  (Paulo Freire)

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