No país são 130 estupros que acontecem por dia.
Isso significa que quatro em cada dez mulheres
que você conhece já foram estupradas.
E esses números podem ser ainda maiores, uma vez que a
maioria das mulheres que passa por essa situação horrível não faz a denúncia.
Num período em que as mulheres estão cada vez mais empoderadas para denunciar casos de estupro, o Brasil contabiliza cerca de 50 mil por ano, sendo que 10 mil destes são estupros coletivos, ainda é necessário encarar um sistema e uma Justiça machista que ainda acreditam que o estupro só acontece após a penetração. Vale lembrar que a nossa lei foi alterada em 2009 e que de acordo com o Código Penal Brasileiro estupro é constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
A Lei 12.015 de 2009 extinguiu o crime de atentado violento ao pudor e incluiu essa conduta em estupro. Sendo assim, qualquer ato com sentido sexual praticado com alguém sem seu consentimento, até mesmo um toque íntimo, é considerado estupro pela lei.
No início do mês um cidadão ejaculou no pescoço de uma mulher dentro de um coletivo urbano na cidade do Rio de Janeiro. Liberado pelo juiz que alegou que o homem não teria causado nenhum constrangimento à vítima, ele repetiu o ato no dia seguinte, com outra moça, em outro coletivo urbano. Este senhor já tinha quinze passagens pela polícia por motivos, senão iguais, semelhantes.
No país são 130 estupros que acontecem por dia. Isso significa que quatro em cada dez mulheres que você conhece já foram estupradas. E esses números podem ser ainda maiores, uma vez que a maioria das mulheres que passa por essa situação horrível não faz a denúncia. Seja por vergonha, pela falta de preparo da rede de acolhimento da mulher vítima de violência ou pelo medo dos julgamentos, a maioria não denuncia porque a sociedade impõe que a culpa foi dela que estava no lugar escuro, que andou com as pessoas erradas, que usava roupa muito curta.
Todo dia, de uma forma tão frequente, acabamos naturalizando todo tipo de barbaridade que a sociedade nos submete. E aí, você ia querer ser mulher numa sociedade como esta?
Sua culpa é ser mulher.
Seu fardo é ser mulher e viver numa sociedade machista que naturaliza a cultura do estupro a ponto de permitir que alguém interprete que receber uma ejaculada no pescoço, sem consentir, não causou constrangimento.
É ter que aguentar playboy na balada achando que pode enfiar a mão dentro do teu vestido, sem o teu consentimento, porque você “já estava bêbada mesmo”. É ter que aguentar cara tirando o pinto para fora da calça e esfregando em ti dentro do metrô. É ter que acelerar o passo toda vez que vê um estranho andando atrás de ti na rua e não tem mais ninguém naquele lugar.
E isso acontece pelo simples fato de que os homens acreditam que podem fazer o que bem entenderem conosco. Quando falamos de estupro temos que ter claro que não estamos falando de sexo: estamos falando de poder. Estamos falando de violência.
Quando um homem estupra uma mulher, nada mais é do que essa pessoa acreditando que os seus desejos, o que ele quer, são mais importantes do que o que a mulher quer. Ele se considera superior e por isso pode “fazer a escolha por ela”.
O que chamamos de cultura do estupro só é possível
por estarmos inseridos em um contexto com profunda desigualdade entre
os gêneros, a desumanização das mulheres e a objetificação de seus
corpos. Isso não é minha opinião, mas os fatos que a sociedade nos
confirma diariamente quando, por exemplo, dizemos que a culpa é dela
porque estava lá.
Isso é o machismo, que a gente tanto fala, posto em prática.
E a gente fala sim, faz textão, faz vídeo, denuncia, coloca o dedo na ferida do patriarcado.
Porque não são só os índices que aumentaram: o que aumentou foi a nossa coragem de falar sobre o assunto e mudar a realidade.
Não vamos mais nos calar!
Vamos falar de estupro, de aborto e de todos os assuntos que estejam ligados à vida (ou à causa da morte) de milhares de mulheres e vamos apontar sim, o dedo na cara de quem não respeita os nossos direitos individuais.
Mas e você: está pronto para nos ouvir?