Se quisermos combater a censura,
não será ridicularizando seus excessos,
mas contestando seu cerne.
A censura é multiforme e camaleônica. Ela nunca morre, apenas dorme. Hoje o seu modus operandi é via aparelhamento da cultura pela extrema-direita no poder.
O trator do obscurantismo investe pesado contra as instituições de cultura e lazer. Um exemplo claro é o que está acontecendo no sistema S (que inclui Sesc, Sesi, Senai, Senac, Sebrae e outras instituições ligadas às confederações patronais do País).
É uma guerra subterrânea, quase invisível ao olho público, que o bolsonarismo está dirigindo às expressões do espírito no Brasil. Programações culturais estão sendo obrigadas a serem canceladas e existe um clima de autocensura por conta das indicações do governo, que se alinham a cultura neopentecostal.
A sanha moralista e amante da censura começa a macular a reputação de instituições como o Sesc que têm se configurado em anos recentes como refúgio da liberdade de expressão.
Assim, a censura vai ganhando novas formas e regenera o corpo destruído, como certas espécies de vermes. O governo, claramente, quer controlar as manifestações culturais, com o apoio de “machões e bolsogatas” acuados pelos avanços na questão de gênero.
Um filme sobre Chico Buarque sofreu interferência do governo quando de sua exibição no Uruguai. A vida de Carlos Marighella, retratada em um filme de Wagner Moura, foi proibido.
A Caixa Federal agora ganhou um “manual” que traz orientações sobre “possíveis riscos de atuação contra as regras dos espaços culturais, manifestações contra a Caixa e contra o governo e quaisquer outros pontos que podem impactar”. Este “manual” orientará o que poderá ou não ser mostrado no espaço Caixa Cultura.
No Banco do Brasil não é diferente. Censura descarada de fazer inveja ao DIP de Vargas que censurava a manipulava a cultura na ditadura do Estado Novo.
O governo parece querer controlar a cultura pelas portas de entrada e saída, dizendo o que pode ou não ser apresentado. Esquece que a cultura é livre, independente e, em seus melhores momentos, antagônica ao Estado.
A censura no governo Bolsonaro é explícita e há uma forte razão: quem quer impedir os outros de refletir por conta própria tem que começar muito cedo.
Tem que começar proibindo a imaginação. E por isso, se quisermos combater a censura, não será ridicularizando seus excessos, mas contestando seu cerne.
Não será zombando de seus erros, mas defendendo a capacidade que têm o pensamento – e a fantasia – de criar mundos novos.
A censura jamais conseguirá reprimir a liberdade de pensamento e a imaginação.