A dialética do senhor e do escravo

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As contribuições de Hegel são imensas para compreender as relações pedagógicas
contemporâneas. Hegel influenciou importantes pensadores contemporâneos não só no
campo filosófico, mas também na educação, sociologia, direito, antropologia.

Frederich Hegel (1770-1831) é considerado um dos mais importantes filósofos alemães do século XIX. Nasceu na cidade de Stuttgart, foi seminarista protestante durante um período estudando em Tübingen, mas logo abandonou a pretensão de se tornar pastor. Foi professor na Universidade de Iena, catedrático na Universidade de Heidelberg e catedrático na Universidade de Berlim onde também foi Reitor.

Hegel escreveu um número expressivo de obras que marcaram fortemente o pensamento moderno/contemporâneo. Dentre as principais obras destacam-se a Fenomenologia do Espírito, Ciência da Lógica, Enciclopédia das Ciências Filosóficas, Lições de História da Filosofia, Lições de Estética, Lições de Filosofia da Religião, Lições de Filosofia da História e Princípios da Filosofia do Direito.

A vastidão de temas abordados por Hegel permite inferir que sua obra possui uma dimensão sistemática, pois procura incluir em um sistema integrado todos os grandes problemas e questões da tradição filosófica, da ética à metafísica, da filosofia da natureza à filosofia do direito, da lógica à estética, das questões do cotidiano às profundas reflexões do mais denso e profundo pensamento filosófico. É considerado por muitos como o último filósofo sistemático, pois depois dele a concepção de filosofia como sistema entre em crise.

Hegel é um filósofo difícil de ser lido, pois tentar compreender seu sistema exige entender sua linguagem própria, altamente técnica, complexa e global. Não é possível entender um conceito hegeliano sem entender todo o seu sistema de pensamento.

A título de exemplo de um dos temas tratados por Hegel, podemos citar o problema da formação da consciência. Este problema é abordado no texto “a dialética do senhor e do escravo” na obra Fenomenologia do Espírito. Por meio da metáfora da dialética do senhor e do escravo, Hegel procura retratar o processo da constituição da identidade da consciência em sua luta pelo reconhecimento pelo outro, a outra consciência.

Nas palavras do próprio Hegel: “A consciência-de-si é em-si e para-si quando e porque é em si e para uma Outra, quer dizer, só é como algo reconhecido”. Uma frase bem estranha para quem não compreende a forma de escrita de Hegel. Traduzindo, podemos dizer que inicialmente uma consciência visa submeter a outra, ao aprendê-la como objeto. Porém, precisa ser reconhecida pela outra, ou seja, precisa considera-la como sujeito. Assim, a outra consciência é ao mesmo tempo sujeito e objeto.

O senhor submete o escravo, contudo, uma vez que a relação é dialética, dependendo ele próprio de que o escrevo o reconheça como senhor, assim o superior depende de que o inferior o reconheça como superior. Trata-se, portanto, de um reconhecimento desigual. O senhor só é senhor se for reconhecido pelo escrevo e vice-versa.

A dialética do senhor e do escravo descreve uma relação assimétrica entre duas consciências que se tratam como sujeito e objeto, e não uma relação entre dois sujeitos, como deveria ser, uma relação de reconhecimento mútuo e recíproco.

As contribuições de Hegel são imensas para compreender as relações pedagógicas contemporâneas. Hegel influenciou importantes pensadores contemporâneos não só no campo filosófico, mas também na educação, sociologia, direito, antropologia.

Como acertadamente expressa meu grande amigo João Wohlfart “na Pedagogia do Oprimido Paulo Freire transforma alguns pontos angulares da filosofia hegeliana numa Filosofia da Educação. Assim como a filosofia hegeliana significa uma radical mudança no pensamento filosófico que vai dos gregos até Kant, a teoria educacional enquanto Filosofia da Educação, de Paulo Freire, significa uma nova concepção de educação e requer dos profissionais da educação novas habilidades e novas atitudes”. Tem razão Hegel quando diz que “o real é racional e o racional é real” no sentido de que “a história universal nada mais é do que a manifestação da Razão”.

Encontramos em Hegel uma forte justificação para compreender que o mundo não está determinado e que até as piores ditaduras e imposições podem ser confrontadas se compreendermos a dialética do senhor e do escravo.

Autor: Dr. Altair Alberto Fáveroaltairfavero@gmail.com Professor e Pesquisador do Mestrado e Doutorado do PPGEDU/UPF. Autor da crônica “Um contrato social em defesa do bem comum”: https://www.neipies.com/um-contrato-social-em-defesa-do-bem-comum/

Edição: A. R.

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