A Ética a Nicômacos de Aristóteles

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O ser humano feliz é aquele satisfeito consigo mesmo, que se ama e ama seus amigos de forma generosa e desinteressada. São estes e tantos outros aspectos que nos induzem a dizer que a Ética a Nicômacos, apesar de ter sido escrita há mais de 24 séculos, continua nos dando preciosas lições para pensar os dilemas do nosso tempo.

Aristóteles, discípulo de Platão, é considerado um dos maiores pensadores do ocidente e um dos filósofos mais completos da antiguidade grega clássica. Em sua época, nada ignorou de tudo o que se conhecia. Foi pesquisador, filósofo e fundador de diversas ciências. Sua obra gigantesca desafia até hoje a compreensão dos estudiosos e teve uma imensa repercussão sobre o desenvolvimento de toda a filosofia ocidental. Foi professor, fundador de uma escola (o Liceu) e preceptor de Alexandre, rei da Macedônia.

Aristóteles escreveu sobre lógica, física, biologia, metafísica, política, arte e ética. Seu pensamento é tão importante na história da filosofia que podemos dizer com certa segurança que não é possível realizar um curso de filosofia sem estudar Aristóteles.

A obra Ética a Nicômacos figura como sendo um dos escritos mais amadurecidos do pensamento de Aristóteles. Dividida em dez livros, possivelmente se trata de apontamentos de aulas dadas ao seu filho Nicômacos, a obra trata sobre a excelência moral e a excelência intelectual e busca definir quais são as coisas boas para o homem e determina o sentido do Bem Supremo.

Em outros termos, Aristóteles fala dos princípios da educação do cidadão e a sua maneira, contribui de modo considerável para contemplar a imagem da finalidade da educação da Antiguidade Clássica. Assim, para ele, o objetivo fundamental de sua teoria política e ética consiste em concretizar a noção de felicidade.

Analisando os diversos sentidos em que a felicidade é compreendida, uma vez que, segundo a opinião unânime, todos buscam alcançá-la, Aristóteles acaba por concluir que ela coincide com o prazer decorrente da plena realização das virtudes inerentes à natureza humana. Quando o ser humano consegue afinar os desejos e as ações com seu pensamento, agindo em plena consciência com a própria natureza e realizando os fins que lhes são próprios, ele atinge a plena felicidade que não se limita a honra, o poder, o sucesso ou o prazer. A felicidade plena reside na vida virtuosa.

No entanto, o conhecimento da virtude, por si só, não suficiente para determinar o comportamento do ser humano. A virtude não nasce com o ser humano e também não adquirida definitivamente. É preciso exercício e esforço constante para se aprimorar a virtude. Assim, a virtude, associada às noções do fazer e do agir, torna-se uma das noções mais fundamentais da educação no âmbito de uma pedagogia ativa, que ainda hoje constitui o objetivo principal da reflexão pedagógica moderna.

A virtude, na perspectiva de Aristóteles, reside na capacidade humana de encontrar o equilíbrio, a justa medida. As virtudes morais, portanto, têm como condição a temperança, ou seja a capacidade de dominar a esfera do desejo e das emoções sem se deixar dominar por ela. Enquanto o vício é resultado do excesso ou da falta, a virtude constitui a capacidade de buscar a justa medida, o meio-termo. Assim, enquanto as ações virtuosas geram disposição para a virtude e esta, por sua vez, será causa de atos virtuosas; de outro lado, as ação que resultam numa desmesura ou descontrole dos afetos e dos desejos são a origem dos vícios e que, por sua vez, levam os seres humanos a cometerem atos inadequados, porque reforçam os vícios.

Para Aristóteles, a amizade é uma forma de coroamento da vida virtuosa e a maior fonte de felicidade para o ser humano. A felicidade nessa perspectiva não pode ser comprada em supermercado, nem vir por encomenda por transportadora; também não reside no acúmulo de riqueza e poder; também não está nos títulos honrosos ou no sucesso efêmero divulgado nos meios de comunicação.

O ser humano feliz é aquele satisfeito consigo mesmo, que se ama e ama seus amigos de forma generosa e desinteressada. São estes e tantos outros aspectos que nos induzem a dizer que a Ética a Nicômacos, apesar de ter sido escrita a mais de 24 séculos, continua nos dando preciosas lições para pensar os dilemas do nosso tempo.

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

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