Há uma sequência de propostas bisonhas
intercaladas ao longo do tempo no Governo Bolsonaro
que criaram cortinas de fumaça quando surgem
problemas mais graves no país.
As políticas que se fortaleceram como dever de estado, ao longo dos anos, sofrem estranhos abalos. A forma de ataque a conquistas populares é atropelar tudo com aguilhões de falso comando, como se o povo fosse uma tropa animal, sem dono. Estamos tentando interpretar o modelo insinuante adotado pela gestão federal bolsonarista, visando consolidar medidas administrativas tipo “passar e boiada”.
Alguns súditos são escalados no governo para aplicarem o método de admissibilidade de medidas nitidamente esdrúxulas. Ao presidente é reservado o momento de confirmar, se não houver reação contrária. As tentativas de contrariar o bom senso decorrem periodicamente.
No começo, foi o próprio presidente que se arvorou julgador implacável do papel da imprensa. Saiu chutando o balde tentando impor autoridade de julgador absoluto contra jornalistas que faziam perguntas que julgava intoleráveis. Foram episódios de grosseria, mirados na truculência de Trump, ofendendo o ritual dito liturgia palaciana. Pergunta questionadora era logo fulminada com resposta ou gesto ríspido, aplaudido pelo coreto selecionado previamente de adeptos.
Bolsonaro passou a julgar veículos de comunicação e repórteres visando emplacar estilo de julgador sumário. Depois vieram ministros e assessores dizendo coisas estranhas ao pensamento democrático. Os mais tóxicos, que não resistiram. O propósito era consolidar o dueto “Bolsonaro e Deus”, que foi logo mostrando o lado perverso da modalidade tentada. E se Deus cochilasse ficaria em segundo lugar.
Agora veio a ideia de desmontar o SUS e privatizá-lo. O decreto presidencial foi abortado diante da escancarada temeridade perante a mais concreta organização de estado, o SUS.
O ministro da Fazenda já acenou com a sugestão de formar recursos para o programa Bolsa Família, ou coisa parecida, mediante suspensão de atualização aos rendimentos dos aposentados. Bolsonaro sabia que isso seria dito. Preferiu esperar a repercussão que repeliu a ideia. Então pronunciou-se como quem fora pego de surpresa e disse que não tocaria na renda dos aposentados. Apareceu como o salvador da pátria. Jogada de marketing.
Houve a sequência de propostas bisonhas intercaladas ao longo do tempo que criaram cortinas de fumaça quando surgem problemas mais graves no país. Atualmente, o plantão de asneiras é mantido pelo ministro do Meio Ambiente que claramente desdenha ideais preservacionistas e defende desmatamento. A perspicácia do vice-presidente Mourão consertou em parte o que seria catástrofe ambiental com as queimadas na Amazônia.
Ricardo Sales ocupou-se em criar narrativas absurdas sobre as causas dos sinistros. Assim foi no derramamento de petróleo que danificou nossas águas, e nos incêndios das matas. O ataque foi generalizado às ONGs, à esquerda, aos comunistas, enfim, em formas provocantes e solertes. No mesmo rumo, a propositada omissão diante da escancarada realidade que exige investigação e ação governamental. Leia mais.
Neste momento, o pódio da inconsequência democrática é ostentação para o líder governista Ricardo Barros, que propõe uma nova constituinte. Em sua argumentação alega o direito a pegar carona na luta chilena, ainda sob uma constituição emanada no governo ditatorial de Pinochet. Infeliz comparação.
O Brasil consagrou sua Carta Magna em 88 e vem mantendo este pacto legal, com muita luta. Foi a mais concreta obra democrática para redimir-se dos horrores da ditadura de 64.
O líder governista apresenta seus motivos de desconstituição, apregoando uma nova constituinte, num momento de enorme crise nacional, que não oferece serenidade sequer para discutir a possibilidade de uma nova Constituição. Diz que é preciso reduzir direitos e criar deveres. São meras palavras sem lógica e sem essência, que mais se assemelham ao embuste ideológico.