Até quando o país vai tolerar
esta
série de ameaças à ordem constitucional?
É preciso entender que não se constrói o futuro
com experiências fracassadas do passado.
Completaram-se 51 anos da outorga do famigerado e ignóbil AI-5 por Costa e Silva, medida que permitiu a ditadura fechar o Congresso, cassar parlamentares e juízes do STF e abolir garantias individuais, entre elas o habeas corpus.
O AI-5 que vigorou até 1978, abriu uma temporada obscura de perseguições, torturas e mortes e permitiu ao governo militar implementar, sem sustos, uma política econômica impopular e concentradora de renda.
Mais de meio século depois, eis que as viúvas da ditadura reaparecem defendendo a possibilidade de um novo AI-5. A obsessão da família Bolsonaro por saídas autoritárias é por demais conhecida. Um dos rebentos do clã, Eduardo, foi o primeiro a acenar com tal insanidade.
O pai presidente, ao saber do fato, comentou que era apenas um “sonho” do filho. Na verdade, um pesadelo. O AI-5 é incompatível com a democracia. “Sonho” só se for para o clã Bolsonaro e seus alucinados seguidores da extrema-direita.
Agora, extrapolando todos os limites aceitáveis, o “liberal” ministro Paulo Guedes trouxe novamente à pauta a possibilidade de um novo AI-5. O inusitado é que tais liberais acham isto perfeitamente normal, num deboche a Locke e Adam Smith.
É bem verdade que Guedes serviu a um dos mais violentos regimes ditatoriais do continente, o de Pinochet no Chile.
Em 2018, em entrevista à revista Piauí, o nosso Chicago Boy afirmou que o fato de a ditadura chilena ter deixado 40 mil vítimas, entre torturados, assassinados, e desaparecidos, era “irrelevante do ponto de vista intelectual”. Uau!!
Delírios como os de Guedes fazem parte da fase autoritária que vive o neoliberalismo no mundo atualmente, a exigir líderes linha-dura para seguir o receituário que há 40 anos deixa rico mais rico e pobre sem futuro.
Guedes, segundo renomados economistas, seria a expressão dessa fase, por ser dono de um autoritarismo econômico e de mercado. Na sua visão, é preciso autoritarismo político: sem repressão o mercado não funciona.
Assim, não surpreende a ameaça do ministro que tem uma evidente identificação com o presidente a quem serve, notadamente, na veia autoritária. Não é à toa que ambos se inspiram em Augusto Pinochet.
Meus assustados botões indagaram: até quando o país vai tolerar esta série de ameaças à ordem constitucional? É preciso entender que não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado.