Cada detalhe da festa é um fragmento da rica tapeçaria cultural que compõe Campina das Missões, unindo passado e presente, Brasil, Rússia e a cultura gaúcha, em um diálogo sereno, construindo um futuro lindo para a cidade e seus habitantes.
No último domingo, dia 13 de outubro, a pitoresca Campina das Missões se encheu de alegria e devoção em sua festa patronal, dedicada a São João Evangelista, também chamado de o Teólogo pela Igreja Ortodoxa. A comunidade, unida por um propósito claro, mostrou-se engajada não apenas em suas tradições religiosas, mas também em um compromisso palpável com o desenvolvimento consciente de seu passado cultural, econômico e social.
Ruas sendo aprimoradas com os pavimentos intertravados que adornam as ruas da cidade são um símbolo eloquente dessa harmonia, permitindo que a água da chuva penetre no solo, respeitando a natureza que nos abriga. Esse cuidado com o meio ambiente, bem enfatizado por mim, uma arquiteta urbanista, reflete uma consciência coletiva, que se estende ao dinamismo econômico evidente na feira rural, que também conhecemos e visitamos. Ali, o empreendedorismo floresce, promovendo produtos locais e resgatando a essência da produção familiar.
A Casa do Agricultor Rural, uma iniciativa que busca conservar tanto a tradição alemã quanto a tradição russa, por meio de sua indústria e artesanatos típicos, demonstra esse fio de ouro que move boa parte da cidade, em constante desenvolvimento numa busca pelo tempo perdido, reatando seus laços com o passado, para honrá-lo e torná-lo sempre presente.
A festa em si, ocorrida ao lado da Igreja dedicada a São João, é de grande vitalidade para esses veios da tradição local. A missa, celebrada em um ambiente de reverência, uniu os presentes em um só espírito. O aroma da Slavianka, uma cerveja preta tipicamente russa, recentemente criada, encantava os paladares, enquanto convidava à celebração da vida e à partilha de histórias que ecoam de geração em geração.
E assim, como uma ponte entre três culturas, o dicionário russo-gaúcho-brasileiro, criado pelo Dr. Jacinto Zabolotsky, um dos responsáveis pela organização de todo o evento e cônsul honorário da Rússia no Brasil, serve de metáfora para a interseção de identidades – o encontro de culturas em um só lugar.
Cada detalhe da festa é um fragmento da rica tapeçaria cultural que compõe Campina das Missões, unindo passado e presente, Brasil, Rússia e a cultura gaúcha, em um diálogo sereno, construindo um futuro lindo para a cidade e seus habitantes.
Concluindo com as palavras de Sêneca, “que a virtude ecoa no silêncio”, presenciamos em Campina não apenas a celebração de um ritual rubricado, mas a perpetuação de tradições vivas, onde uma comunidade, mesmo diante dos reveses do tempo, consegue se manter crescente e coerente com seu passado, apesar do correr desses mesmos dias – cortando a distância do tempo pela ponte do presente. A festa é uma manifestação dessa mesma virtude, que se faz ouvir desde dentro do coração da comunidade, ecoando em cada risada, em cada prece, em cada copo levantado em homenagem ao que é sagrado e ao que nos une. Assim, Campina das Missões se reafirma como um modelo de respeito e tradição, onde tradição e modernidade caminham lado a lado.
Leia mais sobre centenário da imigração russa no sul do Brasil: www.neipies.com/centenario-da-imigracao-russa-no-sul-do-brasil/
Autora: Catarina Feijó / Revisão: Luigi Falcon
Edição: A. R.