A guerra chegou aqui

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Pela paz. Fim das guerras. Trata-se de sermos solidários com os povos em geral, vivendo em território israelense, vivendo na Faixa de Gaza ou nos países vizinhos atingidos, com mortes que se contam às milhares.

Já na Guerra da Rússia e Ucrânia sofremos respingos por aqui. Quando se exigia coro uníssono pela PAZ, abriu-se uma disputa política e ideológica para saber quem tinha mais ou menos razão. Nas guerras ninguém tem razão. 

Neste momento, a Guerra já existia, quando os ataques do Hamas aconteceram. Condenamos cada ato deste grupo, pois não representa uma saída. A saída é a paz. Seria a sábia e justa convivência entre um Estado de Israel e outro Palestino –  o caminho que se aguarda há 75 anos.

A guerra chegou aqui. Na véspera do dia de Nossa Senhora Aparecida, a Câmara Municipal de Porto Alegre não aprovou uma simples moção de “solidariedade às vítimas do conflito instalado na Faixa de Gaza, em defesa da paz”. Fosse uma alegação de “problemas de redação” da mesma, poder-se-ia ter feito uma emenda. Não. O dia foi de “guerra” de palavras, de versões, de narrativas, de uso de vídeos e fotos de outros tristes episódios, todos eles repudiáveis. Era uma moção “da esquerda”. A maioria tinha que derrotar a minoria.

Esquecem-se dos apelos do Presidente Lula pela libertação de crianças, dos seus reiterados apelos pela Paz. No momento em que o Brasil está com papel proeminente na ONU, a Câmara local nega uma Moção.

Nos milhões de textos, vídeos que aparecem, sobram não só o horror da guerra, das mortes de inocentes, como sobre a desinformação e a má-fé.

Por isso, em se tratando de questões de conflitos religiosos, na verdade não se trata essencialmente disso, me socorro do teólogo luterano, conhecedor do Antigo Testamento, Sílvio Meincke.

Diz ele numa mensagem a mim descrita:

“Penso que se deva fazer uma clara distinção: o Estado de Israel que está em guerra, não é idêntico ao Povo Judeu Bíblico. Ser um judeu significa professar a religião judaica, baseada no Antigo Testamento. Esses judeus encontram-se em todo mundo e não precisam estar morando no Estado de Israel. Ser judeu não significa pertencer a determinada etnia, a determinado grupo racial, porque há judeus árabes, alemães, brasileiros, espanhóis, etíopes, russos, holandeses e por aí vai, assim como existem cristãos de todas as etnias. RESUMINDO: O povo judeu é um grupo religioso espalhado pelo mundo”

Já os ISRAELI, os cidadãos e as cidadãs do atual Estado de Israel, que está em guerra, são pessoas de inúmeras origens e etnias, que decidiram morar naquela região. Há muitos brasileiros entre eles e muitíssimos alemães, ao lado de holandeses, russos, africanos, americanos, ibéricos, britânicos e outros. Muitos deles não professam a religião judaica bíblica, mas tem outra religião ou nenhuma, são agnósticos, ateus. RESUMINDO: o povo que mora no atual Estado de Israel são os ISRAELI e não os JUDEUS.”

Esclarecido, portanto, o tema da “religião”, distinguindo-se do que é uma “etnia”. Estas coisas estão sendo confundidas por desinformação, por ignorância mesmo do tema, quando noutros casos é má-fé mesmo.

Porém, temos que atentar para os temas como a economia da região. Não se trata de um “deserto”. Vejam o que me diz ainda Sílvio Meincke:

Sobre o atual chanceler Netanyahu pesam muitas acusações de corrupção. Temendo processos e uma provável condenação, ele se refugiou na imunidade parlamentar. A única possibilidade de ser eleito e ter imunidade foi seu partido LIKUD fazer alianças com os partidos ultra ortodoxos, que representam os religiosos da extrema direita, que fazem uma leitura bíblica literal e fundamentalista. Eles querem restaurar o antigo Estado Judeu Bíblico, que foi destruído no ano 70, pelo Império de Roma, quando o povo judeu se revoltou contra a opressão. Hoje, o Povo Palestino se revolta contra a opressão que sofre há 75 anos do Estado de Israel. O Estado de Israel atual foi criado pela ONU, em 1948, depois da Segunda Guerra Mundial.”

Disto tudo acima descrito, concluo que não se trata de orar por Israel como pedem algumas correntes. Israel é um Estado, tem governo, tem parlamento, apesar dos ataques de Netanyahu ao Judiciário, ainda tem um Judiciário; trata-se de rezar pelos mortos dos dois lados.

Trata-se de sermos solidários com os povos em geral, vivendo em território israelense, vivendo na Faixa de Gaza ou nos países vizinhos atingidos, com mortes que se contam às milhares.

Nos somamos ao governo brasileiro em sua luta pela paz na Ucrânia e no Oriente Médio. Estamos com Lula quando condena as mortes, quando busca acordos através da ONU, maior autoridade mundial para solução de conflitos.

O debate que a Direita trava é insano, como vimos aqui com quatro anos de um governo genocida, fascista. Como vimos com a tentativa fascista de golpe em 8 de janeiro.

A Esquerda não pode entrar nas provocações que jogam a cada segundo na Internet. Devemos responder de outra forma, esclarecendo, sem entrar num confronto com adversários desqualificados, pois eles necessitam de interlocutores. Não podemos ser interlocutores de fascistas ou gente ignóbil que se faz de pacifista.

Temos que ter mote próprio, por isso me vali dos ensinamentos do Sílvio Meincke para poder esclarecer do que estamos falando, do que de fato está acontecendo.

Pela paz.

Fim das guerras.

Autor: Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito. Autor da crônica: Os gaúchos: https://www.neipies.com/os-gauchos/

Edição: A. R.

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