É fácil ser militante e correr poucos
riscos em tempos de calmaria.
A democracia testa seus defensores
em seus piores momentos.
Márcia Tiburi é de Vacaria. Foi o que anunciou com alegria o advogado e professor Carlos Frederico Guazzelli no meio de um debate sobre fascismo hoje à noite (19 de junho de 2018) no Café Nossa Cara, no Bom Fim. Guazzelli é vacariense e estava se exibindo.
Há muito tempo não temos muito o que exaltar por aqui. O fascismo, um dos temas que Márcia Tiburi gosta de abordar, ganha feições variadas no Estado desde antes do golpe de agosto de 2016.
O Rio Grande que alguém algum dia inventou de chamar de o Estado mais politizado do Brasil (e muitos acreditaram nessa lenda) é visto hoje como a república do relho.
Márcia mexe com o orgulho dos vacarienses porque se atreveu a se apresentar como pré-candidata ao governo do Rio pelo PT. Criou o fato político do mês. A professora de filosofia e escritora mora no Rio há quatro anos. Vai para uma guerra.
Márcia vai para a linha de frente da política numa hora em que muitos estão saindo.
Quem ainda estiver em dúvida sobre o que deve fazer em meio à longa ressaca do golpe, que se inspire no gesto corajoso de Márcia. Pelo Rio, por Marielle, pelas mulheres, pelo Brasil, por Lula, pela democracia.
Marielle representava uma grande parcela da população carioca, foi a quinta mais votada da cidade. Representava um conjunto de ideias que defende as minorias (sociais), que busca igualdade e justiça. Era mulher, negra, lésbica e favelada. Estava ocupando um espaço de poder que há séculos tentam deixar o mais distante possível desta parcela da população. (Ingra Costa e Silva)
Uma mulher vai encarar a disputa pelo governo no Estado em que os homens não conseguem descobrir ou não querem descobrir quem matou uma mulher negra, favelada, de esquerda, militante política, vereadora, defensora das comunidades pobres e dos direitos humanos, bissexual, formada em sociologia.
A valente Marielle merece que sua história e sua memória sejam homenageadas pelo gesto de uma gaúcha de Vacaria. Sem gauchismos e sem bravatas.
Márcia se dispõe a enfrentar a barra de um Estado quebrado, os traficantes, as milícias, os capitães Nascimentos, os amigos do José Padilha, a Globo, o Jornal Nacional, os traumas causados pela intervenção federal, os golpistas, os fascistas com chiado, os conchavos das máfias dos garotinhos e dos cabrais.
É fácil ser militante e correr poucos riscos em tempos de calmaria. A democracia testa seus defensores em seus piores momentos.
No livro “Como Conversar com um Fascista – Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro”, editado pela Record, Márcia nos ajuda a refletir sobre o medo que os fascistas têm das mulheres.
Pois vai em frente, Márcia Tiburi. Mete medo neles.
Em outro texto, escrevi: Quando aparecer algum pregador direitoso querendo se livrar de Hitler, citem este livro fantástico. E leiam o relato de Silvia, porque é uma das raras obras sobre o nazismo pelo ponto de vista do jornalismo e sobre como o jornalismo de esquerda se engaja, em momentos graves, à luta contra as grandes ameaças.