A humanidade se acostumou com a morte?

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Não podemos ficar indiferentes diante da morte produzida pelo coronário de vírus, bactérias, fome, desigualdades e injustiças. 

O filósofo Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) disse que Deus morreu. Não pode ser verdade, em hipótese alguma. Independente do nome que se lhe atribua, Ele está vivo. Muito vivo e presente. Assim creio. – Você tem provas disso, indagou o matemático? – Sim, respondi. – Quais? – Todas aquelas que não podem ser refutadas pela fé e mais todas as que se pode associar pela razão. Então, o antropólogo emendou: – Sim, Ele está presente para vigiar e punir.

Essa pandemia é a prova concreta do castigo de Deus sobre a humanidade por causa do pecado. Bem, aí o assunto fica bastante delicado: Será Deus um “vigilante castigador”? Se não o for, por que permite as tragédias, as pandemias e a morte?

Não pretendo refletir aqui sobre as questões acima. Elas são muito complexas e esse texto é muito breve. Ademais, é extremamente difícil tentar explicar a existência, a essência e a atuação de Deus com nossas categorias humanas e científicas.

De minha parte, creio que, em essência, Deus é uma profusão de amor; uma fusão de misericórdia com justiça; um misto de cuidado com liberdade. E nisso reside o mistério diante do qual uns duvidam, outros ignoram; uns se amedrontam e outros o buscam e a Ele se entregam.

Se misteriosa é a existência e presença de Deus entre nós, igualmente o é a origem, a consistência, a duração, o trépido fim ou a continuidade da nossa vida. E com a morte em eminência, atacando toda a humanidade de muitos modos e há um bom tempo também de forma persistente, aguda, grave, global e insólita por meio no “novo” (já nem tanto) coronavírus, tais questões emergem ainda mais retumbantes em nós.

Neste cenário de morte por atacado, estará a humanidade se acostumando com ela? A pergunta parece mal formulada. Como pode alguém se acostumar ou ficar tranquilo diante da morte, da sua e da dos demais?

Depois de um ano de incômoda (trágica, para um grande número de pessoas) convivência com o Covid-19, entre muitos a solidariedade se fortaleceu, o cuidado consigo e com os outros se ampliou; a dedicação e a abnegação de inúmeros profissionais na linha de frente foi e está sendo algo emocionante. Esse é um lado da história, que precisa sempre ser ressaltado e aplaudido.

Entretanto, há outro lado que é o da banalização da doença, do sofrimento humano e da morte. É o lado na negação da importância, do empenho e dos alcances da ciência. Soma-se a isso, o fundamentalismo político, religioso, étnico e de gênero, que produz a cegueira, o fanatismo e, no limite, o patrocínio da barbárie e da morte.

As bandeiras sobem e descem. Depois voltam a subir no campeonato brasileiro (e mundial) da morte. Elas têm cores convencionadas por gravidade de perigo que vão do amarelo ao preto.

Neste triste campeonato em que a bandeira preta está hasteada em muitos lugares, precisamos garantir a vitória da vida e da saúde, o que é possível com os cuidados redobrados e vacina para todos, urgentemente! Mas, é indispensável também vencer os negacionismos, o individualismo pessoal e familiar, a cultura do ódio, as guerras mudas sobre assuntos essenciais.

Não podemos ficar indiferentes diante da morte produzida pelo coronário de vírus, bactérias, fome, desigualdades e injustiças. Dar ouvidos a quem grita, estender a mão a quem precisa, superar preconceitos e discriminações, aprender com o sofrimento próprio e alheio, cultivar o diálogo com todos, produzir unidade na diversidade sempre é tempo. E agora é mais necessário do que nunca!

Autor: Dirceu Benincá

Edição: Alex Rosset

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