“O triste de tudo isso é que, `a medida que crescemos, nos acostumamos não apenas com a lei da gravidade. Acostumamo-nos, ao mesmo tempo, com o mundo em si.” (Josteen Gaarder)
A experiência de fazer comentários em emissora de rádio local tem permitido compartilhar olhares, compreensões e inquietudes sobre temas e assuntos muitas vezes maltratados, até mesmo pelos meios de comunicação.
Creio e defendo o livre exercício das liberdades de expressão, opondo-me a iniciativas e manifestações que negam a importância e a necessidade de verdadeiros conhecimentos, num assombroso culto à mediocridade e à desinformação.
Com efeito, o tema escolhido para esta crônica surgiu após ouvir uma manifestação de um amigo radialista, o qual questionava a necessidade de manter nos currículos escolares as disciplinas de filosofia e de história. Expressou sua opinião em tom provocativo; confesso que me senti provocado, respeitosamente desafiado.
Fui, então, rever alguns dos estudos que fiz e tenho feito, também sobre essas duas disciplinas do conhecimento e da formação educacional e acadêmica – devolvendo com uma pergunta:
Quem despreza e desdenha da filosofia e do estudo da história, o faz por excesso de saberes ou por desconhecimento?
Se é por excesso, o que não acredito, não quer que outros tenham acesso as mesmas fontes e conteúdo; se for por desconhecimento, o que é mais provável, está a falar do que não sabe, logo não compreende – numa perigosa postura de propagar a cegueira intelectual própria – na expressão do poeta Mario Quintana, é o verdadeiro autodidata, o ignorante por conta própria.
George Orwel, em uma de suas classificas obras – quando li pela primeira vez era uma obra de ficção – 1984, aponta que o Grande Irmão, num modelo de panopiticon – sistema de poder e controle, recomendou que fossem suprimidas palavras dos dicionários, empobrecendo o vocabulário seria mais fácil manter um sistema de dominação sem resistências.
O conhecimento produz pessoas conscientes que podem questionar o poder e os poderosos do momento.
Aliás, não se pode esquecer que a palavra filosofia – no sentido primário – significa exatamente amigo do saber, amigo do conhecimento, pois “só os filósofos têm ousadia para se lançar nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existência.
Uma sugestão para leitura instigante ´um livro clássico de um autor norueguês “O mundo de Sofia”, sugiro e recomendo como uma leitura importante para iniciantes e inquietos, uma verdadeira viagem a história da filosofia.
Um pensador já escreveu que um povo que não conhece a sua história está fadado a repetí-la. O estudo e a compreensão histórica de um povo é essencial para compreender a realidade, o que temos, assim como para prever e construir outras possibilidades para o futuro.
Assim, nessa breve e sintética reflexão, mesmo sem muitas pretensões, cumpre formular algumas indagações: se não sabemos quem somos, o que e como pensamos sobre as coisas do mundo; o que foi vivido, o que vivemos e como iremos viver, repudiando a importância da filosofia e do estudo histórico, não estamos empobrecendo a consciência individual e coletiva para manter e propagar modelos de dominação, que tem no obscurantismo e na desinformação as formas mais eficientes para não se submeter a análises críticas?
Liberdade de pensamento, de expressão e de opinião são valores que precisam ser alimentados, nutridos e estimulados com bons e qualificados referenciais… lembrando uma frase do ex-presidente americano Barack Obama: “na vida, na política, a ignorância não é uma virtude…”.
Afetuosamente, encerro dizendo que é preciso salvar a leitura, fazer um ode à filosofia e ao estudo crítico da história.
Autor: Alcindo Batista da Silva Roque
Edição: Alex Rosset