Gostamos de saber de pequenas (grandes) coisas da vida. E é fato: pessoas com alta inteligência emocional nos seduzem e nos levam a “voar” com elas.
O terminal antigo do aeroporto da nossa cidade era pequeno. Antes da entrada do prédio principal, havia uma praça redonda com bancos curvos, de onde se viam ao longe campos e campos, e, mais longe ainda, os edifícios da cidade. E o silêncio! Aquele silêncio absoluto.
Quando soa forte a turbina de um avião, eu me levanto. Estou aguardando a chegada de um familiar. Associo viagem a alegria, nunca a tristeza. Ainda criança, meu coração batia mais forte ao imaginar que um dia, quem sabe, poderia entrar em um dos aviões que passavam por cima da nossa casa.
— Professor! – ouço uma voz feminina me chamar.
Valentine e Rosária me contam que completaram cinco dias na nossa cidade, visitando Diego, primo de Rosária, e outros familiares. Seus nomes são outros e, na verdade, não tenho certeza se me lembro deles. Foram tantos os alunos que tive… Iniciavam viagem de retorno ao México, onde vivem há vários anos. Sempre simpatizei com elas e creio que elas também comigo. Por isso não nos esquecemos.
Diego se junta a nós. Ficamos os quatro a lembrar das aulas na faculdade.
Valentine tem uma inteligência emocional acima da média. Percebe fácil os sentimentos do outro e sabe colocar as palavras na medida e no tom certos. Nas aulas, fazia colocações a partir de um ângulo novo. Me surpreendia.
Valentine nos conta que foi um ato falho de Rosária que a fez perceber que havia reciprocidade em seu amor.
Lembra a nós do ano em que o fundador da psicanálise escreveu “A psicopatologia da vida cotidiana”: 1901. Freud, disse ela, certa vez, atraído por uma jovem, cometeu o seguinte ato falho: em vez de agarrar uma cadeira para alcançar a quem chegava, agarrou “as cadeiras” da jovem. E o que ele fez? O que todos faríamos: retirou as mãos o mais rápido que pôde e disfarçou.
A chamada para o embarque fez com que nos despedíssemos.
Qual ato falho de Rosária teria feito com que Valentine percebesse a reciprocidade do amor por ela? Perguntei ao Diego, que ficou ao meu lado, aguardando o avião levantar voo.
— Professor, não sei. Mas sei o que fez minha prima se apaixonar por Valentine: sua inteligência muito acima da média. Inteligência emocional. Ela consegue nunca magoar.
— E rapidamente torna a conversa em uma conversa íntima.
— Retira o outro da solidão existencial.
— Diego, quando descobrir qual o ato falho de Rosária que atraiu Valentine… Me conte!
Pois é, gostamos de saber dessas pequenas (grandes) coisas da vida. E é fato: pessoas com alta inteligência emocional nos seduzem e nos levam a “voar” com elas.
Autor: Jorge Alberto Salton, autor da crônica: A culpa não serve para nada: https://www.neipies.com/a-culpa-nao-serve-para-nada/
Edição: A. R.