A luta contra o Totalitarismo

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O aspecto mais perigoso do totalitarismo é que ele trata os indivíduos como se fossem supérfluos. Os indivíduos já não são mais singulares e contribuintes importantes para a cultura e para a política, mas sim criaturas que podem ser facilmente sacrificadas para a ideologia ou condicionadas a agir de maneira previsível e obediente.

Hannah Arendt (1906-1975) é uma importante e controversa pensadora política cujas opiniões não podem ser facilmente rotuladas. Diferente de muitos outros pensadores famosos de seu tempo, que usavam a erudição como forma de se destacar no cenário intelectual, Arendt é uma escritora clara, concisa, pois escreveu para o público em geral, não para plateias meramente acadêmicas. Seus escritos são extremamente férteis para pensar o mundo atual, pois ocupou-se de diversos temas e diversos assuntos polêmicos e instigantes.

Nasceu na Alemanha, filha de uma família de judeus assimilados, estudou em boas escolas na alemãs, doutorou-se em filosofia com uma tese orientada pelo grande filósofo existencialista Karl Jaspers, que teve por título “O conceito de amor em Santo Agostinho”. Com a ascensão do nazismo na Alemanha, refugiou-se na França e depois nos Estados Unidos, onde obteve a condição de cidadão americana em 1951 e onde viveu até o final de sua vida.

Uma das tantas obras escritas por Arendt, e que a tornou famosa no mundo todo, foi As Origens do Totalitarismo. Escrito entre 1945 a 1949 e publicada em 1951, o livro trata dos três pilares que cristalizaram o totalitarismo reinantes na primeira metade do século XX: antissemitismo, o imperialismo e o racismo. Ao tratar do antissemitismo moderno (primeiro pilar do totalitarismo) Arendt explica que não se trata do antigo “ódio aos judeus”, de inspiração religiosa. Trata-se de uma “ideologia laica”, ligada as condições da sociedade europeia do século XIX que redefiniu o papel dos judeus. A velha hostilidade cristão contra o povo que tinha matado o Filho de Deus, não é a mesma que Hitler mais tarde expressou e mobilizou para perseguir e condenar aos campos de extermínio.

Para Arendt, a Totalitarismo é a mais horrível forma de governo, pois não se limita a destruir o espaço público, como faz qualquer tirania que se preze, acrescentando ao isolamento a experiência de sentir-se desamparado, solitário, não pertencente ao mundo. Por isso o totalitarismo é comparado por Arendt como sendo um furação que derruba tudo o que se acha em seu caminho.

O totalitarismo não é deliberadamente planejado ou estruturado, mas se torna um movimento de destruição caótico, não utilitário, insanamente dinâmico, que ataca todos os atributos da natureza humana e do mundo humano que possam tornar possível a política.

No totalitarismo, diz Arendt, a polícia secreta e as várias organizações de espionagem contribuem para a atmosfera de paranoia na qual não se pode confiar em ninguém e ninguém sabe o que as outras partes do governo estão fazendo, à exceção daqueles que se acham nos mais altos níveis de comando.

Para explicar as estruturas do totalitarismo, Arendt utiliza a metáfora de um cebola: cada camada protege o líder no centro que detém o controle definitivo; cada camada conhece apenas seu próprio negócio e tem grande dificuldade em compreender a completeza da cebola como um todo. Por isso, os governos totalitários são piores que os governos tirânicos. Estes procuram eliminar os críticos ativos mediante violência; os totalitários suprimem todos os meios que possam ajudar as pessoas a pensarem, questionarem e desafiarem o Estado.

O aspecto mais perigoso do totalitarismo é que ele trata os indivíduos como se fossem supérfluos. Os indivíduos já não são mais singulares e contribuintes importantes para a cultura e para a política, mas sim criaturas que podem ser facilmente sacrificadas para a ideologia ou condicionadas a agir de maneira previsível e obediente. Com o totalitarismo temos o “mal radical”, ou seja, a crença de que humanos são supérfluos e descartáveis. Alguma semelhança com os dias atuais?

Para os que tiverem interessem e se aprofundar disponibilizo a seguir o link para o acesso gratuito de uma Coletânea Leituras sobre Hanna Harent: Educação, Filosofia e Política, organizada por mim e pelo professor Edison Alencar Casagrande, atual Pró-Reitor Acadêmico da UPF. Nos 13 capítulos da coletânea, diversos pesquisadores discorrem sobre diversos aspectos em relação a Hannah Arendt.

Vale a pena a leitura.

Segue o link de acesso: https://www.researchgate.net/publication/358923482_Leituras_sobre_Hannah_Arendt_-_educacao_filosofia_e_politica_1

Autor: Altair Fávero. Também publicou no site “Um contrato social em defesa do bem comum”: https://www.neipies.com/um-contrato-social-em-defesa-do-bem-comum/

Edição: A. R.

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