Precisamos deixar de nos ver como o centro do mundo e apostar mais na promoção de valores coletivos e universais. Somente assim superaremos esta profunda crise.
Vivemos tempos que predominam narrativas e ideias que produzem diariamente um mito persistente de que, pela própria natureza, os humanos são egoístas, agressivos e, em situações de crise, suscetíveis ao pânico. Na realidade, diz Rutger Bregnan, é o oposto. É na crise que os humanos dão o melhor de si.
Apesar de algumas práticas de atestados falsos, dos fura fila da vacina, da negativa de uso máscara, de descumprimento de protocolos e aglomerações proibidas, estas pessoas e manifestações são de uma minoria. Nestes 15 meses de pandemia, apesar de maus exemplos, inclusive de autoridades públicas, prepondera a coragem dos profissionais de saúde, a solidariedade dos voluntários e o altruísmo da grande maioria das pessoas. Ou seja, as pessoas, em sua grande maioria, são decentes e éticas.
Resgato esta ideia e visão da obra Humanidade: uma história otimista do homem. Nela evidencia-se que são apenas algumas elites, ditadores e déspotas, governos e generais que costumam apelar à força bruta para evitar cenários que só existem na cabeça deles. Baseados na suposição de que o cidadão comum é regido pelos próprios interesses, assim como eles, reforçam generalizações que não representam a totalidade das comunidades humanas. Cabe insistir que nossa humanidade deve sobrepor-se a animalidade, nossa sociabilidade sobre individualidade, nossa inteligência coletiva sobre o egocentrismo, a cooperação sobre a ganância e a justiça sobre a desigualdade promovida. A educação deve promover as potencias afetivas humanas positivas em detrimento das negavas e pessimistas.
Os seres humanos se tornarão melhores quando conseguirmos mostrar quem são e como podem humanizar-se durante toda sua vida, pois não nascemos humanos prontos, mas com capacidades de nos humanizarmos. Como? Através da educação, do trabalho, da ciência e da cultura. Nós não vamos conseguir dissolver nenhum tabu, nenhum paradigma, se não for pelo caminho da educação, cuja, principal missão, é formar humanos, por humanos, para o bem da comunidade.
A partir da ruptura social, aprofundada pela Covid, é preciso repensar o papel do ser humano na Terra. Precisamos deixar de nos ver como o centro do mundo e apostar mais na promoção de valores coletivos e universais. Somente assim superaremos esta profunda crise.
A perspectiva ética almejada deve estar assentada numa relação de vida boa com o outro, para o outro, em sociedades e instituições. Portanto, é injustificável que o homem imponha e generalize os seus valores, inevitavelmente particulares, pois ele não é a causa nem o centro do mundo.
Autor: Gabriel Grabowski
Edição: Alex Rosset
No mínimo, polêmico. Fiquei a pensar na amplitude da palavra decente e por consequência nas culturas que formam o ser que é ser antes de humano em todas as suas formas. A palavra decente carrega em si um sem números de possíveis interpretações. Para cada ser a decência assume uma forma que está atrelada a sua maneira de estar e ser no mundo. Talvez resida aí o primeiro conflito: o que é decente para uns, não necessariamente será para outros. Nem precisamos ir longe, basta olharmos como o ser humano age em relação as suas crenças religiosas. Por quase toda sua existência os mitos fizeram parte da sua “humanização”, mitos que para muitos seriam onipotentes e onipresentes e que estabeleciam e ainda estabelecem a maneira certa ou errada de se viver de forma mais harmoniosa com o mundo. Mas não é o que ocorre na prática. Judeus, mulçumanos, católicos e por aí a fora buscam viver de forma decente em conformidade com suas crenças e queimamos o otimismo decência na largada. Para um religioso ortodoxo, aquele que não compartilha das mesmas crenças também não compartilha das mesmas decências e muito menos da maneira de ser e viver no mundo. A religião, presente em todos os cantos onde o humano habita é um pequenino exemplo de conflito moral e ético. Imagina, todo o resto das nossas animalidades humanas.
Otimismo e pessimismo, dualidade que compõe o animal humano. Ambos tão necessários para a vida. Não somos nem mais um, nem mais outro por natureza, somos um ser, do tipo humano, que compõe a natureza tal qual conhecemos e nela, busca definir e redefinir regras para sua existência, a todo momento. Temo pelo utopia dos nossos desejos de sociedade igualitária num mundo de indivíduos únicos, mesmo quando falamos da mesma espécie. A natureza parece privilegiar as desigualdades na corrida pela vida.