À margem

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Nasceu à margem

E nela ficou.

Cresceu à margem

E, à margem do rio, corria.

Não eram as margens plácidas do Ipiranga.

E, se o fossem, diferença não faria.

Ia e vinha, à margem.

Andava à margem,

Mesmo quando do rio se afastava.

Não só morava à margem.

A margem morava nele.

Nele e em outros tantos…

Meu Deus, quantos?!

Quanto por cento da população está à margem?

Não sei.

Meu Deus, são tantas as margens!

E de tantos tipos!

Não há pesquisas confiáveis a respeito.

Há respeito? E confiança?

Pesquisas até existem.

E, nos resultados, sempre a tal “margem de erro”

De dois pontos percentuais para mais ou para menos,

Não importa.

Minto.

Importa sim,

Importa muito.

Importa tanto

Que, quando quem está à margem

Se exporta,

Há sempre alguém que lhe fecha a porta

E o deporta

À margem que o pariu.

Autora: Roseméri Lorenz, mestre e doutora em Letras pela UPF- RS. Atua como professora de Língua Portuguesa e Literatura nos ensinos médio e superior. E-mail: rosemerilorenz1@gmail.com Também escreveu e publicou no site “Decepção pronominal”: www.neipies.com/decepcao-pronominal/

Edição: A. R.

5 COMENTÁRIOS

  1. A Roseméri, além de ótima poetisa (revelada somente agora, para mim), é um dos seres humanos mais incríveis dentre todos que povoaram meus dias, minha existência.
    Como aluna, foi luzidia sempre; como parceira de trabalho, brilhante o tempo todo.
    Lê-la, Nei Pies, fez-me muito bem e deixou-me muitíssimo feliz.
    Parabéns e obrigado!

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