Indiscutivelmente, proporcionar mais segurança externa nos locais de ensino não chega nem perto da alternativa que verdadeiramente produziria o prazer de aprender e não proporcionaria espaço para a violência.
Esse é o título da Revista número 7 do Geempa, publicada em julho de 1999, portanto editada há 24 anos.
Estamos todos aterrorizados com as violências que tem ocorrido em escolas tanto do Brasil, como dos Estados Unidos. Várias vezes essas violências são praticadas por alunos ou ex-alunos, provavelmente vingando a violência da qual eles foram vítimas, não aprendendo na mesma escola.
Segundo Freud, o prazer de aprender é maior do que o do orgasmo. Só que prazer de aprender não é o de simplesmente memorizar, o que as escolas tem como objetivo de ensino.
As escolas ainda estão longe de se atualizar cientificamente sobre o que é aprender de verdade. Elas se satisfazem com a fixação temporária na memória, em imediata avaliação do que é apresentado pronto pelo professor em aulas expositivas, nas quais não acontece a indispensável troca entre alunos, sentados rigidamente um atrás do outro. Ora, tal fixação na memória é transitória, de curta duração, e não produz, nem de longe, o famoso prazer de aprender ao qual se refere Freud.
O prazer de aprender vem de uma conquista que resulta de um processo pessoal lindo, mas exigente e trabalhoso. Esse prazer se assenta sobre genuínas experiências de pensar. Pensar não é ficar sabendo de cor algo recebido pronto de fora, pela explicação de alguém. Pensar só acontece quando se formula pergunta e se constrói pessoalmente a resposta. Para que isso aconteça o papel do professor é completamente diferente do que até hoje ele exerce tanto no ensino fundamental, como no ensino médio, no ensino universitário ou nas pós-graduações.
O professor, para exercer efetivamente o seu papel, como tão bem assinala Sara Pain, precisa ter dois saberes – o da sua disciplina e o da didática dessa disciplina. E a didática é uma nova ciência, que tem hoje o suporte precioso da Teoria dos Campos Conceituais e da quarta teoria sobre o aprender que é o Pósconstrutivismo, na sequência histórica do Inatismo, do Empirismo e do Construtivismo, para a qual é preciso também formação universitária atualizada.
Não basta aos professores terem conhecimento do conteúdo das suas disciplinas. Precisam eles se apropriarem de outro campo científico – o de como se as ensina. E esse outro campo científico compreende elementos radicalmente diferentes do que até hoje prevalece nas salas de aula.
Escrevo-lhes sobre esse tema, no qual tive a sorte de muito me aprofundar, porque, indiscutivelmente, proporcionar mais segurança externa nos locais de ensino não chega nem perto da alternativa que verdadeiramente produziria o prazer de aprender e não proporcionaria espaço para a violência.
Autora: Esther Pillar Grossi
POA, 13/04/2023.
Fotos: Divulgação/arquivo pessoal