Em março de 2020, quando fomos surpreendidos pela pandemia da Covid 19, imaginávamos algo passageiro, fato que os cientistas contestavam. Surgiram muitas críticas ao dito alarmismo que, na opinião dos céticos quanto à gravidade, começava a prejudicar a nação, especialmente a economia.
Depois de um ano e alguns meses, vê-se que a pandemia persiste e continua fazendo vítimas. Estes últimos tempos têm sido marcados pela consciência da enfermidade e pelo luto. Muitas famílias foram atingidas pela doença e também pelo luto devido à perda dos entes queridos.
No cenário de pandemia generalizada, fomos provocados à reinvenção ou à atitudes resilientes para continuarmos vivendo. Os processos tais quais estávamos acostumados não decorreriam da mesma forma. A máscara deixou de ser um instrumento “folclórico” e passou a ser de uso cotidiano e permanente. A atitude de lavar as mãos, tornou-se essencial no cuidado pessoal. A tônica do cuidado extrapolava o âmbito pessoal e estendia-se à família e à sociedade. Usar máscara e lavar as mãos implicava em responsabilidade social e demonstração de compromisso com o cuidado da vida e da vida do outro.
Infelizmente, atitudes de cuidado e proteção à vida foram ligadas às ideologias ao ponto da pessoa que defendesse o uso da máscara ser chamada de comunista. Os disparates estenderam-se para outras direções, inclusive em teorias conspiratórias quanto ao uso da vacina. Em tempos que eram necessárias boas e verídicas informações circularam e continuam circulando muitas informações falsas. Muitos ainda acreditam, mesmo com evidências contrárias.
A reinvenção fez-se necessária. Fomos alçados a novas necessidades em vista da preservação da vida e da manutenção das atividades ordinárias ligadas à economia, à convivência familiar e com amigos e à prática religiosa. Entramos em um tempo de espera paciente, de adiar processos. Isto não se traduziu em tempo perdido.
Entramos no tempo dos processos mais lentos e cuidadosos. Nestes meses, fizemos planos e não os concretizamos. Organizamos atividades, mas fomos impedidos de levá-las para frente. Algumas iniciativas, aparentemente urgentes, foram suspensas e o mundo não ruiu. Ações consideradas prioritárias não foram assumidas e viu-se que poderiam ficar em segundo ou até terceiro plano.
Atrás das nuvens da pandemia e do desespero, vimos muita luminosidade boa. Descobriu-se o vizinho que se colocou à disposição para ajudar aqueles que não podiam sair de casa. Partilhou-se procedimentos em vista de um cuidado maior. Algumas pessoas dedicaram muito tempo em confeccionar máscaras para doar àqueles que não podiam comprar. Redescobrimos o bom uso da tecnologia e das redes sociais.
Muitos viram que a correria a que estavam acostumados não era tão interessante assim. A sociedade deu-se conta do valor dos educadores e educadoras que passavam horas no cuidado das crianças e adolescentes e também tiveram que se adaptar aos novos métodos de ensino.
Compreendeu-se o valor do trabalho das profissionais da limpeza pois, no pano passado no chão e na desinfecção dos móveis e ambientes está um princípio de saúde. Nos damos conta do valor desse trabalho. Quem passou pelo hospital viu que junto ao médico e enfermeiros existem tantos outros profissionais lá atuando e que são fundamentais para a recuperação da saúde.
Mesmo que alguns teimem em olhar somente para o seu mundo, alicerçado nos pilares do egoísmo, nos damos conta da necessidade da solidariedade.
As redes sociais não foram usadas apenas para semearem a desinformação e a mentira. Por elas, também passaram também as boas informações e várias iniciativas de solidariedade. A entre ajuda tem permitido fazermos esta travessia menos machucados e mais conscientes da nossa condição humana frágil, contudo propensa à comunhão.
Sentimos falta do abraço, do aperto de mão, do afago. Por vezes, não reconhecemos o amigo ou familiar atrás da máscara. Há tempos que não vemos sorrisos. Estas coisas fazem falta. Outras nem tanto. Neste tempo de enfermidade e luto, mas também de solidariedade e partilha, vamos fazendo a travessia em constante reinvenção de nós mesmos e das nossas relações.
Que lá no final disso tudo estejamos melhores aos olhos do outro e aos olhos de Deus.
Em junho de 2020, o jornalista e cartunista Leandro Dóro já fazia importantes perguntas e algumas respostas sobre o pós pandemia: “Quais aspectos serão predominantes ao final da pandemia? Quais irão morrer? Cada um tem uma resposta particular. Mas também necessitamos de uma pesquisa científica avalizada em métodos para que possamos ter uma abalizada interpretação do porvir. Leia mais!
Autor: Pe. Ari Antônio dos Reis
Edição: Alex Rosset