Que triste a escola que não oportuniza
a chance de seus estudantes sonharem, chorarem,
debaterem livremente sobre o presente e o futuro.

 

Acompanhei a manifestação dos adolescentes atravessada pela maternidade e pela docência. Como mãe de duas meninas, vi o olhar de admiração da mais velha pelas colegas da antiga escola que usaram o horário do intervalo para se expressar. Ainda no campo materno, percebi pais preocupados com o excessivo espaço que a política poderia estar ocupando na formação dos filhos.

Desde então uma imagem não me sai da cabeça: era 1984. No pátio da minha escola, também na hora do intervalo, um aluno grita: pessoal, hoje vai ser votada a emenda Dante de Oliveira, que prevê eleições diretas para presidente! É um dia histórico! O aplauso foi geral, uma alegria tomou conta. Ali, embaixo daquele caramanchão, a gente se sentia vivo. Não teve professor na jogada, o intervalo terminou, e a consequência subversiva disso foi um enorme sorriso, que teimava em não sair da nossa expressão.

Que triste a escola que não oportuniza a chance de seus estudantes sonharem, chorarem, debaterem livremente sobre o presente e o futuro.

Num tempo em que boa parte da vida deles se passa na web – esta sim, cheia de riscos – a escola é o lugar mais seguro, o espaço mais preparado para mediar as possibilidades do olhar.

O que preocupa, nesta onda revisionista, é o clima de ameaça que ronda os espaços de ensino, incluindo as universidades, a suspeição sobre o papel dos professores, o questionamento sobre o sentido da autonomia do ensino.

Não deveria ser necessário, mas é preciso lembrar que a liberdade é vital para criar métodos pedagógicos e modos de pensar a sala de aula. Mas não governa sozinha. A autonomia está condicionada à Constituição Federal e a uma série de leis, normas, regimentos internos, planos, metas, reuniões, enfim. Sem falar no compromisso – por vezes centenário – de cada instituição de ensino com a ética e o desenvolvimento integral de seus jovens.

Por certo que a escola não é imune a questionamentos e erros, mas é preciso cuidar a dose, para que a atenção não ganhe o tom de censura. No lugar de prevenir, o remédio pode ter como consequência a secura.

Quando o olho de um professor para de brilhar, a escola perde a poesia. E como diz aquele professor de literatura que refundou a sociedade dos poetas mortos, nada contra as demais matérias, mas é a poesia que nos mantêm vivos.

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