A filosofia é um conhecimento rebelde na sua essência e supõe seguidores apaixonados por jogar-se por um mundo mais justo, livre do conformismo, da apatia e da mediocridade.
A filosofia está em crise! Se esta afirmação te assusta, não se preocupe, ela tem uma base muito óbvia: os seres humanos de todos os tempos estão passando sempre por uma época de crise. Por quê? Porque a vida é crise, a vida é mudança e crescimento contínuo.
A mudança implica pensar sempre no que fomos, no que somos e no que queremos ser dentro de um quadro de possibilidades que devemos combinar para que estejam a nosso favor. Não por conveniência, mas porque devemos aproveitar a possibilidade de estarmos vivos, de sabermos aproveitar ao máximo cada momento.
Crescer significa ser levado a mais, a continuar com um processo de expansão, de saber que somos maiores e mais importantes do que somos hoje. Mudança e crescimento: duas características da crise, portanto aceitemos os tempos de crise com paz de espírito. São oportunidades de crescimento.
Se você está num processo de mudança e de crescimento, alegre-se! Mauricio Langón, filósofo uruguaio, diz: “Na adolescência, filosofar torna-se uma questão de vida ou morte, do sentido da vida, de inserção no complexo processo de mudança no mundo” (Langón, M., 2005), o que nos leva a pensar que os adolescentes e jovens deste mundo podem ver a filosofia como uma possibilidade de arriscar a sua vida por algo, se esse algo lhes interessar realmente.
Daí o desafio de filosofar como jovens, terá sentido se for para se rebelar de cara à complexidade.
Mas mesmo na nossa sociedade -que acredita ser avançada e moderna- os adolescentes e jovens ainda não são tomados em sério. São vistos como incapazes de jogar o grande jogo, principalmente porque são considerados imaturos ou porque não compreendem as coisas importantes, tantas coisas que deixam os adultos tontos.
Muito se exige das crianças, mas em ocasiões importantes não lhes é permitido ter uma palavra a dizer, porque as coisas importantes são cuidadas pelos “adultos”. Isto é um grande erro na nossa sociedade!
Ao mundo adulto falta a humildade de reconhecer que não podemos fazer tanto quanto dizemos e que estamos errados mais vezes do que estamos certos em muitos aspectos da vida. Mesmo a ciência, a disciplina que se desenvolveu em grande medida nas últimas décadas, continua a mostrar as suas falhas e limitações, porque o próprio ser humano é limitado e incompleto.
A tarefa do professor ou professor de filosofia deve partir da humildade de saber ter cuidado com o que procura provocar nos seus alunos. Partimos do pequeno (a nossa ignorância) para fazer o outro (o estudante) crescer, para lhe dar as ferramentas para se rebelar.
Roda de Conversa 2 – Experiências atuais no ensino de filosofia: em busca de perspectivas, do GEPES-UPF, mediada por Diego Pereira Ríos. Assista: https://youtu.be/fai8RZUs3U0?t=1718
Outra pensadora uruguaia, Andrea Genis, referindo-se a Sócrates, afirma que ele é “…o mestre da dúvida de si mesmo, exorta o discípulo a preocupar-se consigo próprio, a preocupar-se consigo próprio, a entrar num processo de auto-conhecimento que transforma a sua vida” (De filosofia y educación. Del cuidado de sí y conocimiento de sí, Puchet, E. Epílogo, 2013). Isto descreve claramente a tarefa de cada professor de filosofia: levar o aluno a um auto-exame da sua vida, das suas ideias, da herança cultural e familiar com que formou a sua visão do mundo, a sua concepção do mundo. Porquê? Para que possam criticar (do grego “krino”: separar, discernir, julgar) o mundo em que vivem, perceber a distância entre palavras e ações, entre o que nós adultos dizemos e o que fazemos.
É impossível evitar a crise (da mesma raiz grega da crítica) que o aluno deve atravessar e que deve conduzir a uma crise a seu professor. Isto implica que a adolescente-jovem se torna um rebelde: alguém que quer romper com a ordem estabelecida, porque percebe que o que lhe é dito coincide com o que o vê fazer. Rebelde, sim, e as suas armas estão no desarrolho do pensamento crítico.
A rebeldia da filosofia é uma tarefa que implica o desenvolvimento de um pensamento crítico que pode julgar a realidade que nos rodeia (Lipman, M), conseguindo separar o estritamente real do aparente. E o julgamento é feito com palavras, palavras que os adolescentes e jovens não hesitam em usar sempre que percebem incoerência em nós, os adultos.
A filosofia é um conhecimento rebelde na sua essência e supõe seguidores apaixonados por jogar-se por um mundo mais justo, livre do conformismo, da apatia e da mediocridade. A filosofia procura dar à luz os rebeldes que pensam num mundo melhor e transformá-lo com ações concretas. E nisto, estamos juntos, caros amigos dos “Filósofos da Vida”.
Muito encorajamento e rebeldia no caminho do pensamento!
A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a conformar-se, que está insatisfeito com o status quo, que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como. (Nei Alberto Pies) Leia mais!
(Artigo inicialmente escrito para Blog do Projeto Filósofos de la Vida, 2019, Medellín, Colómbia)
Autor: Diego Pereira Ríos
Edição: Alex Rosset