A sublime arte de envelhecer

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Envelhecer com arte exige a sabedoria dos agradecidos que reconhecem ser tudo graça de Deus, que tudo depende da solidariedade humana, pois sozinhos não somos ninguém, principalmente, na velhice.

Roubei o título do monge beneditino, Anselm Grün, pois fiquei encantado com esse título, que diz mais da metade daquilo que tenho a pretensão de dizer com este artigo.

É sumamente importante saber que se pode viver com arte, mesmo na velhice, e que essa é, uma forma sublime de viver. Pelo que percebo na minha própria vida, o envelhecimento vai chegando de mansinho, como algo que chega, dando mil avisos prévios, que não podem ser ignorados por quem os recebe.

A arte de envelhecer bem, é uma construção que vem de longa data e à medida que a idade chega, exige do construtor redobrada atenção.

Envelhecer com arte supõe que se tenha aprendido a viver, já que a vida é uma longa escola de infinitas oportunidades de aprendizagem. A velhice, pode até não ter mais tantos encantamentos, mas com certeza, nos ensina a ver além das aparências e tem a oportunidade de revelar segredos, que guardou ao longo do tempo, e que ainda podem fazer suspirar profundamente o coração.

Envelhecer com arte, não supõe tanta ciência, mas não dispensa, de forma nenhuma, a sabedoria, principalmente, a sabedoria dos humildes para aceitar que seus passos sejam mais lentos, que seus joelhos já não se dobrem com tanta facilidade e não sejam mais tão firmes.

Não dispensa a sabedoria dos humildes para aceitar as incertezas como companheiras do cotidiano da vida, para aceitar que o olhar esteja constantemente mergulhado no infinito, que os desassossegos sejam companheiros das mateadas no entardecer e que a saudade goste de matear com mil lembranças que ficaram de outros tempos.

Envelhecer com arte é ter a sabedoria dos humildes que aceitam que a mente pode estar dando sinais de esquecimento, que a finitude insista em nos dizer, que o fim pode estar   próximo e que numa busca de consolo e segurança, dizer, como vi escrito na porta do quarto de uma irmã velhinha do Colégio Rosário de Rio Pardo: “Fica conosco, Senhor, pois já é tarde”.

Envelhecer com arte exige a sabedoria dos agradecidos que reconhecem ser tudo graça de Deus, que tudo depende da solidariedade humana, pois sozinhos não somos ninguém, principalmente, na velhice.

É no entardecer da vida que os agradecidos deixam aflorar hinos e cânticos de ação de graças, que os agradecidos deixam brotar preces de gratidão por mil palavras que soaram como se fossem melodias em seus ouvidos e até chegaram ao coração, quem sabe, sofrido pelos desencantos e infortúnios do tempo.

Envelhecer com arte é reconhecer mil gestos de pessoas que, no caminho da vida, se associaram a nós e foram tomando parte da nossa história, gratuitamente, como pessoas amigas.

Envelhecer com arte é manter a alegria que as limitações da vida tentam roubar, é conformar-se por não ter mais os impulsos inovadores da juventude, é não criar perigos imaginários, “sabendo que muitos temores nascem do cansaço e da imaginação”.

Envelhecer com arte é elaborar, ao longo do tempo, uma imagem bonita de Deus, um Deus companheiro que com sua misericórdia torna os nossos pecados pequenos, como nos disse o Papa Francisco, um Deus que protela o castigo que merecemos pelas nossas faltas, até que perca a validade, um Deus que faz abundantes semeaduras no campo da vida, apesar de conhecer, muito bem, a aridez do solo, um Deus que ama, acima de tudo, a justiça e o direito, um Deus que nos enche de bênçãos e de graças diariamente, um Deus que é novo em cada manhã, por isso, supera o prognóstico dos sociólogos.

Quem quer envelhecer com arte, terá que ter também a compreensão que nos relacionamentos, nesta idade, se pode ter decepções com as pessoas que, nos buscavam por utilidade. Mais do que nunca, nesta idade, quem quer ter saúde de alma e de corpo deve selecionar as fontes de abastecimento.

Alguém disse ao ser perguntado pela idade que tinha: “Não pergunte pela minha idade, pergunte pelo que eu ainda posso fazer.”  É uma ótima resposta de alguém que, mesmo sentindo a idade chegando, não se deixa abater por ela e se mantém na ativa e feliz com aquilo que ainda pode fazer.

A arte de viver, que torna a vida sublime, mesmo na velhice, certamente está ao alcance de todos, mas não acontece por acaso. É construção de cada um de nós que reconhece ter se tornado responsável por este dom maravilhoso que é a vida e se tornou um sublime construtor.

Para Iltomar Siviero, “as condições de vida são importantes porque interferem no envelhecimento tardio e até em evitar que certas doenças e demências se manifestem. Mas, por melhor que sejam as condições de vida, elas não atrasam os anos e, com o avanço da idade surgem, gradualmente, dificuldades e lentidão física, afetando diversos órgãos que desafiam as pessoas a buscar novos interesses e formas de relacionamento, impactando, de algum modo, na dimensão pessoal, social e mental/espiritual”. Leia mais!

 Autor: Pe. Euclides Benedetti

Edição: Alex Rosset

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