Essa mentalidade obscurantista é perversa e doentia, pois quanto mais as pessoas desacreditarem na ciência e na organização racional da vida em sociedade, mais estarão propensas a se tornarem subservientes ao poder autoritário e às formas cruéis de dominação que geram medo e desespero na coletividade.
Em tempos de Fake News, de certos bípedes que se autoproclamam “cidadãos de bem”, que defendem o indefensável, que elegem como mito um personagem patético genocida, que destilam ódio pelas redes sociais e que atacam perversamente quem pensa diferente, torna-se sensato pensar defender a ciência e sua importância para evitar a barbárie e salvaguardar a civilidade. Digo isso porque estes mesmos bípedes que durante a pandemia foram contra a vacina e as evidências científicas, se colocaram contra os avanços da ciência e chegaram a proclamar o absurdo do terraplanismo.
Na minha avaliação tais manifestações, além de serem absurdas e criminosas, são espelhamento de uma mentalidade obscurantista que enganou e continua enganando os ingênuos, confunde os indecisos e instaura o caos da irracionalidade que só beneficia os poderosos, os donos do poder, os truculentos, os oportunistas e detentores do capital.
Essa mentalidade obscurantista é perversa e doentia, pois quanto mais as pessoas desacreditarem na ciência e na organização racional da vida em sociedade, mais estarão propensas a se tornarem subservientes ao poder autoritário e às formas cruéis de dominação que geram medo e desespero na coletividade.
Historicamente, um dos grandes pensadores que lutou contra essa mentalidade obscurantista foi o italiano Galileu Galilei (1564-1642). Seu nome certamente é lembrado quando se fala em Ciência Moderna: tornou-se o criador da física moderna, quando anunciou as leis fundamentais do movimento; foi considerado um dos maiores astrônomos de todos os tempos, pelas observações que fez com o telescópio que ele mesmo criou; e tornou-se um dos mais importantes inventores do método científico moderno pela forma como passou a abordar os fenômenos da natureza. Por tudo o que representou em termos de ciência e de filosofia, de forma justa, Galileu Galilei é considerado um dos pais da Ciência Moderna.
Galileu Galilei nasceu na cidade de Pisa/Itália, num período de profundas e importantes transformações. Depois de fazer seus estudos iniciais, frequentou durante um tempo um monastério como noviço. Depois de sair do monastério, dedicou-se por um tempo aos estudos de medicina, mas logo foi atraído pela matemática, a partir dos estudos de Euclides e Arquimedes, dedicando-se principalmente ao estudo de problemas de balística, hidráulica e mecânica. Seu zelo pela investigação e suas descobertas no campo das matemáticas possibilitaram que em 1592 fosse nomeado catedrático de Matemática na Universidade de Pádua, onde continuou seus estudos em física, desenvolvendo suas concepções sobre geometrização desta área de investigação.
O zelo pelo método científico fez com Galileu estabelecesse alguns princípios que continuam válidos até hoje.
O primeiro princípio do método é a observação dos fenômenos, tais como eles ocorrem, sem que o cientista se deixe perturbar por preconceitos extra-científicos, de natureza religiosa ou filosófica.
O segundo princípio consiste na experimentação, ou seja, nenhuma afirmação sobre fenômenos naturais pode ser aceita sem que haja uma verificação de sua legitimidade através da produção do fenômeno em determinadas circunstâncias.
O terceiro princípio estabelece que o correto conhecimento da natureza exige que se descubra sua regularidade matemática e com isso é possível prever certos fenômenos que ocorrem na natureza. Com tais princípios, Galileu possibilitou uma nova visão da natureza e dos fenômenos naturais, pois para ele “o livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos” e sem o conhecimento de tais caracteres, “os homens não poderão compreendê-lo”.
Galileu foi um defensor da teoria de Copérnico de que a terra está em movimento e gira ao redor do sol. Tal teoria havia levado Nicolau Copérnico a fogueira. Galileu também foi denunciado, julgado e condenado por defender tal teoria. Para não ser queimado na fogueira, em junho de 1633, aos 70 anos, foi obrigado a ajoelhar-se diante do Tribunal da Inquisição, em Roma, e a abjurar a teoria copernicana.
Em 1992, passados 360 anos do julgamento de Galileu, com profunda humildade o Papa João Paulo II revogou oficialmente sua condenação, dizendo que era necessário “remover as barreiras, ainda incitadas em muitas mentes pelo episódio Galileu, que possam obstruir uma relação frutífera entre ciência e fé”.
O gesto do Papa sobre o caso Galileu certamente deveria servir de inspiração para que possamos pensar e olhar para os acontecimentos do presente com menos preconceitos, ódio, rancor e cegueira moral. É a capacidade de pensar que nos possibilita uma convivência mais amigável e produtiva com o conhecimento científico e que este nos ajude a sermos seres humanos melhores, livres de notícias falsas (Fake News) que circulam irresponsavelmente pelas redes sociais e que ameaçam o surgimento de um novo obscurantismo em pleno século XXI.
Autor: Dr. Altair Alberto Fávero
Edição: A.R.
Texto bem interessante! É bom poder adquirir mais conhecimentos. Pena que ainda existem pessoas que querem voltar no tempo. Parabéns pelo texto!