…e a sua última palavra o matou!
Olhe este corpo em seu último passeio, quão serenas são suas mãos,
que já é devorado, antes mesmo de baixar os palmos.
Sente-se e o admire pela última vez; é a triste despedida de um alegre desejo seu.
E ao vê-lo partir, o que era sua metade, pense:
Quem morreu? Quem ficou? Ou foi a metade dos dois que partiu?
Lamente este desfile, o último, onde alguns são solidários
E carregam em seus ombros um cruel caixão.
Aquiete-se e ouça a sua partida, você que sempre a desejou.
E o dia chegou!
Assista, como se parte em vida para o fim, um rosto descorado que anda pela sala, rumo ao infinito, em seu olhar indiferente a todos os que o cercam.
E tanto faz, neste pequeno cortejo, que, apesar da reza,
passará em seguida, apenas em um olhar fixo, que a todos despreza.
Ria por dentro, assim como riu, quando lhe era sentida minha dor
_ sofra, inútil, como me fez sofrer… Era o que dizia. Diga-o agora, amor!
Inicie o choro, baixo e em falsete.
Todos verão seu plágio, nestes meus últimos passos.
Mas alerte os homens que me carregam, para que não sacudam demais este trágico baluarte.
Como que, em um solavanco abram-me as pálpebras,
e, além do teto frio, inerte, eu possa ver seu último fingir.
Para então se cumprir o que o poeta Nelson previu
em versos eternos, com apelo e muita dor
embora os mudei um pouco, quase nada,
para lhes devolver a data e a cor,
enfim,
tire suas lágrimas do meu caminho, farsante,
que eu quero passar com meu andor.
Autor: Nelceu Alberto Zanatta. Também publicou poema “A menina a janela o cego” no site: https://www.neipies.com/a-menina-a-janela-e-o-cego/
Edição: A. R.