A verdadeira história da Dona Aranha

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Naquela tarde, a floresta voltou a ser como antes.
Havia espaço pra todos, pequeninos e gigantes.




Eu sou o Grilo Falante, conheço Pinochio e Geppetto.

Num tornado fui a Oz, caí na toca do coelho.

Quatro perguntas respondo, deitado na minha rede:
1) ─ Quando foi que a Dona Aranha quis escalar a parede?
Ninguém me havia explicado, e perguntei pra toda gente:
2) ─ Por que a Dona Aranha era teimosa e desobediente?
3) ─ Que parede era aquela?
4) ─ E por que ela subiu?

Deve haver uma razão. Será que ninguém a viu?
Foi meu avô quem contou, catando em sua memória.
Da heroína Dona Aranha, guardava o resto da história.

Meu avô disse: “─ Eu sei a história inteira da Aranha.
Presenciei, inda menino, a sua grande façanha.
Foi num tempo muito antigo, em que os grandes animais dividiram a floresta, cortaram as asas da paz.

A onça-pintada e a jiboia queriam tudo pra elas.
Fizeram, com os bichos fortes, grande muro sem janelas.
A parte onde tinha frutas, água e som de cachoeiras seria só dos bichos grandes e não era brincadeira.
─ Do lado de cá: só os fortões, do lado de lá: os fraquinhos.
Exceto Anta e Preguiça, que ficam com os pequeninhos.

Todo os bichos maiores foram construindo o muro.
─ Assim será para sempre desde agora e no futuro.
─ Do lado de lá vão ficar os grilos e as joaninhas, as formigas, caramujos, beija-flores e andorinhas.
─ Cá com os fortes, queremos carcarás e urubus, tamanduás e suçuaranas, cascavéis e urutus.

E assim tudo foi feito, meu avô tudo foi vendo.
Bem no meio da floresta, grande muro foi crescendo.
Que ninguém cruzasse o muro, o recado estava dado.
Quem fosse desobediente seria bem mastigado.

Todos os bichinhos calaram, por um tempo foi assim.
Tornou-se a comida escassa, e a água chegou ao fim.

A Dona Aranha pensou, dialogou com a Preguiça.
Floresta é coisa de todos, era, o muro, uma injustiça.
Mas a ideia foi da Anta, por todos logo aprovada.

Missão para a Dona Aranha, capaz de grande escalada.
Chovia torrencialmente. Jiboia e onça dormindo.
Pelo muro construído Dona Aranha foi subindo.

Para subir na parede a chuva foi atrapalho.
Dona Aranha era teimosa, não largaria o trabalho.
Já no alto do muro, bem executou a ideia.
Em cada canto de pedra foi prendendo a sua teia.
Embora chovesse forte, desceu trazendo as pontas da teia enorme tecida. O muro era uma afronta.

Depois de trazer as pontas de bem alto até o chão,
Aranha, Anta e Preguiça chamaram todos à reunião.
Cada animal pequeninho a outro daria a mão.
Seguindo Anta e Preguiça fariam um grande cordão.
E a teia presa ao muro foi sendo puxada aos poucos.
E os grandes do outro lado:  ─ Os pequenos estão loucos!

O muro foi derrubado por Grilo e Caracol, por Formiga e Abelha, e então surgiu o sol.

Jiboia e onça, nervosas, se engasgaram na verdade:
 ─ Como é que Anta e Preguiça tinham alguma qualidade?

Naquela tarde, a floresta voltou a ser como antes.
Havia espaço pra todos, pequeninos e gigantes.
Seu Sabiá compôs a música, olhando do muro a ruína.

Teimosa e desobediente, foi, a Aranha, uma heroína.

Todos os bichos do mato, cantaram até o fim da tarde.
A música da Dona Aranha que hoje todo o mundo sabe:
“A Dona Aranha subiu pela parede…”

3 COMENTÁRIOS

  1. Essa brincadeira, com alterações pequenas no texto, virou o livro “Por que a Dona Aranha Subiu Pela Parede? ” que ganhou o Prêmio Minuano de Literatura em 2022, e foi adotado pelo Year Two da Rede Maple Bear Canadian School, a maior rede de escolas do mundo. O livro está disponível no site http://www.physaliseditora.com.

  2. Amei. Voltar para a infância é impossível, ler estas histórias é ficar no topo da imaginação, como adulto. Mas para uma criança é o caminho da imaginação.
    Imaginação é a arma mais poderosos da humanidade, saber usar…

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