“A internet transformou
a inteligência das pessoas.”

 

Esse foi o tema da fala do professor e historiador Leandro Karnal, que palestrou em Passo Fundo, no dia 04 de abril, a convite da Em Resumo Magazine, Programa Ceia Giongo e agência MZ Comunicação. Nessa matéria comentamos alguns dos principais pontos abordados por ele para que você também possa refletir sobre a sua vida nas redes

Leandro Karnal convidou os presentes na palestra para refletir sobre a sua inserção nas redes sociais. Para começar, fez uma pergunta: “Quem aqui não tem celular?”. Das mais de 300 pessoas presentes, ninguém levantou a mão. O celular é hoje uma ferramenta universal, usada por nós em todos os momentos do dia, seja para o trabalho ou para o lazer.

Através desse aparelho, temos uma facilidade de acesso a muitos conteúdos que são postados a todo segundo nas redes. Karnal apresentou alguns dados, de uma pesquisa datada do mês de janeiro, que mostra que a internet tem mais de 5 milhões de terabytes em tamanho – número que já pode estar desatualizado, pela velocidade que a rede cresce a cada dia. No YouTube, por exemplo, são postadas 24 horas de vídeos por minuto. “Vídeos de uma relevância brutal”, brincou o palestrante.

A internet, porém, é feita por anônimos. As pessoas que postam e compartilham nem sempre são seres reais – e nem sempre falam sobre dados e informações reais. O espaço virtual propicia a omissão do sujeito e, todos os dias, o facebook te convida a dar a sua opinião quando te pergunta na página inicial: “No que você está pensando?”.

Segundo o professor, nunca antes as pessoas acharam tão importante dar a sua opinião. O mais simples post provoca nos sujeitos a necessidade de comentar, de dizer se gosta ou não gosta daquilo – e logo as redes sociais se tornaram um belo palco para os discursos de ódio.

O ódio sempre existiu, não foi uma criação do ambiente das redes sociais, afinal, como exemplificou Karnal, o nazismo e outras ditaduras extremas se realizaram sem a internet, apesar de terem tido um grande auxílio do rádio, na época. Porém, as discussões que envolvem comentários de ódio na internet costumam não dar em nada. “As discussões na internet são como dois torcedores fanáticos discutindo sobre qual time é melhor, não tem efeito nenhum, um torcedor não vai mudar de time por causa de uma discussão – assim como os comentários online, as pessoas discutem porque acham que há algo em ‘mim’ que é interessante”, comenta.

Todas as tecnologias que utilizamos hoje no nosso dia a dia – e que parecem indispensáveis para viver, são extremamente recentes. O whatsapp, por exemplo, nasceu em 2009. Porém, o vício que o celular e as suas funcionalidades causam já deram até nome para novas doenças e síndromes. Existe a nanofobia, que é uma fobia de ficar sem celular. “Essa é uma ansiedade específica, que causa, entre outros sintomas, aceleração cardíaca. O celular não é mais visto como um simples aparelho de comunicação, hoje se comporta como um HD externo da nossa memória. Nossa vida inteira está dentro daquele pequeno aparelho. Números de telefones, conversas, fotografias, documentos…”, ressaltou Karnal.

Há também outra síndrome chamada FOMO – Fear of missing out, em inglês. Traduzindo para a nossa língua, é como um “medo de ficar de fora” do que acontece nas redes. Nos Estados Unidos já existem até fazendas de reabilitação para quem sofre dessa síndrome.

 

Uma fonte inesgotável de informações

Foi com a invenção da prensa, por volta de 1450, que Johannes Gutenberg mudou a forma de disseminação de informações. Nessa época, acontecia o período histórico do Renascimento, em que aconteceu a quebra a unidade religiosa – que detinha na época o monopólio da informação. Hoje o que temos nas redes sociais é uma capilarização do conhecimento. As informações estão em muitos lugares da internet, e temos acesso a (quase) tudo, mas, muitas vezes, não temos tempo para ver nada.

Os dados presentes na rede não fazem parte do nosso conhecimento, assim como as informações não contribuem para a nossa formação – se não tiverem o esforço de serem bem estudadas. Karnal diz que ouve muitas pessoas dizendo que a internet diminuiu a inteligência das pessoas, mas ele não acredita nisso. “Para mim, a internet transformou a inteligência das pessoas”. O nosso desafio dentro da internet não é obter conhecimento, mas saber o que buscar e o que validar.

No ambiente virtual circula um neologismo conceituado como “pós-verdade”, que na definição dada pelo professor é algo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Essa pós-verdade propicia a veneração do eu, pois a pessoa considera verdade tudo aquilo o que acredita.

Muitas pessoas reclamam das particularidades do ambiente virtual, mas Karnal ressalta que estar nas redes é uma “servidão voluntária”, ou seja, ninguém te obriga a criar um perfil, assim como não te obriga a assistir televisão.

Ao ressaltar todos esses pontos, Leandro Karnal propôs a reflexão ao tema, para fazer nascer em cada pessoa uma possível mudança de conduta. O professor ressaltou que nesse mundo cheio de mensagens curtas e pós-verdades, a leitura é fundamental, pois é através dela que conheceremos diversos mundos e saberes. Não importa se essa leitura vai ser em um livro físico ou na tela de um tablet, mas é preciso ler. “Ler é um esforço e o sucesso ainda pertence a pessoas esforçadas. As técnicas vão ser revolucionadas a cada ano, mas sempre vai permanecer o esforço, pois, a felicidade é uma conquista”, finalizou.

 

Texto e foto de Camila Docena
Publicado originalmente na Revista impressa Contato Vip, edição de abril de 2018.

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