Quem quer impedir os outros de refletir
por conta própria tem que começar muito cedo.
É o que está fazendo o governo Bolsonaro
nestes seus primeiros caóticos cem dias.
A uniformidade ideológica e a luta contra qualquer dissidência constitui a base para a centralização e o fortalecimento do poder totalitário. Para instaurar uma verdade oficial, é necessário o controle da sociedade em todos os níveis.
Assim, não há nada, nem no âmbito público nem no privado, que permaneça excluído e não implique o monopólio estatal. A propaganda utiliza-se de estereótipos e os fatos são desfigurados.
As primeiras vítimas, em tais circunstâncias, são os jornalistas e seus veículos, isto é, rádio, televisão e jornais. São vítimas do crime de lesa-inteligência, que tem as mais variadas formas de manifestação.
Agora mesmo, um colega jornalista, enviou-me um texto dando conta que as piores previsões para a comunicação pública do “novo” governo de direita instalado no país vão se concretizando.
Censura nas redações, ameaça aos trabalhadores e fechamento de veículos abrem este 2019 nos diversos veículos de caráter público em todo o país.
A EBC, por exemplo, foi transformada pelo governo em uma mera reprodutora de propaganda do governo Bolsonaro e dos militares. Durante mais de 10 anos a Empresa Brasil de Comunicação, TVBRASIL, Agência Brasil e as Rádios Nacional e MEC seguiram linha editorial própria, diferente dos veículos estatais.
Agora a programação destes veículos irá atender exclusivamente ao governo. Noticiários, entrevistas, flashes de hora em hora, só trarão temas ligados ao governo. De bônus, a TV será invadida por programas da Marinha e do Exército brasileiro. Ou seja, a TV Brasil será simplesmente a TV do governo Bolsonaro. Ulala!! Isto me fez lembrar os tempos da ditadura do Estado Novo de Vargas(1937/1945), que usou o rádio para exaltá-la e a ditadura militar (1964/1985) que valeu-se do rádio e da TV.
A nova onda de perseguições e censura passou a ser exercida sobre os jornalistas da TVBrasil, como as proibições de citar a ditadura e o golpe militar no Brasil e de usar a palavra “fuzilamento” no assassinato de um músico no Rio com 80 tiros por homens do exército.
O que está em jogo, diante de tais práticas, é a luta pela liberdade de expressão e o direito à comunicação da população, bandeira fundamental para garantir as liberdades democráticas do país.
O governo está tentando dizimar a comunicação pública brasileira. Um exemplo foi o que o governo Sartori fez aqui com a Fundação Piratini. Todos devem estar lembrados.
Sempre, em todos os tempos, os governos autoritários, viram no intelectual e no profissional de imprensa como cidadãos perigosos e, se comunistas, “desde há muito, tanto mais temíveis”.
Quem quer impedir os outros de refletir por conta própria tem que começar muito cedo. É o que está fazendo o governo Bolsonaro nestes seus primeiros caóticos cem dias.