Agricultura Familiar e juventudes no RS

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Será que alguma escola pública valoriza a realidade dos jovens da agricultura familiar? Alguma escola desenvolve um projeto específico, que contemple as demandas, os desejos e as necessidades destes jovens?

A agricultura familiar compõe a história e a realidade de uma importante parcela da população gaúcha. Ela tem importância significativa para assegurar segurança alimentar e nutricional da população brasileira, uma vez que é responsável por 70% dos alimentos consumidos no país.

Caracteriza-se, ainda, no aspecto da sustentabilidade da produção e manejo dos alimentos, onde se respeita a biodiversidade e os recursos naturais, a produção é livre do uso de agrotóxicos e a produção é mais diversificada e de maior qualidade. Promove também o fortalecimento das comunidades e de pequenos municípios do RS através de organizações solidarias e agroecológicas de produção, que garantem o abastecimento dos mercados locais, além de distribuir renda dentro do próprio segmento.

O RS, conforme o Censo Agropecuário 2017, apresentado pela Emater/RS/Ascar contava com 365.094 unidades dentro desta característica, ficando em quarto lugar nesse ranking, atrás da Bahia, Minas Gerais e Ceará.

Já conforme critérios do IBGE, seriam 294 mil estabelecimentos (80,5%) foram classificados como de agricultura familiar, detendo 25,3% das áreas. Esse recorte é baseado em quatro critérios da Lei 11.326/2066: o estabelecimento deve ter área de até quatro módulos fiscais; utilizar, no mínimo, metade de trabalho familiar no processo produtivo e de geração de renda; auferir, também no mínimo, metade da renda familiar de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento e ter a gestão do estabelecimento ou empreendimento estritamente familiar.

Outra característica assumida pela agricultura familiar é que, independentemente do tamanho da propriedade, essas unidades têm por objetivo a produção para venda ou subsistência, onde boa parte a produção é para consumo próprio do produtor e de sua família. Eventualmente, parte da produção é comercializada para atender a outras necessidades das famílias que dependem muito da atividade agropecuária para sua sobrevivência econômica.

Os jovens da agricultura familiar no Ensino Médio

Será que alguma escola pública valoriza a realidade dos jovens da agricultura familiar? Alguma escola desenvolve um projeto específico, que contemple as demandas, os desejos e as necessidades destes jovens?

Os jovens que moram em pequenos municípios ou comunidades do RS apresentam dificuldades de participação na gestão da unidade familiar, muitas vezes ficam sem remuneração pelo seu trabalho, tem pouca ou nenhuma autonomia; poucas oportunidades de lazer, esportes, entretenimento ou conexão com o mundo virtual, o que acarreta a saída dos mesmos para as cidades, especialmente as jovens mulheres.

 A falta de perspectivas e as buscas por uma vida melhor são, muitas vezes, estimuladas pelas próprias famílias a um processo migratório. Esta realidade acarreta o envelhecimento da população rural e a masculinização (maioria da população de homens no meio rural) e a inserção precária destes jovens no mundo do trabalho urbano.

Os jovens da agricultura familiar demandam uma atenção especial, sobretudo de políticas públicas que valorizem os seus estudos, conjugando com suas necessidades de renda, de valorização de seu trabalho, de apoio à sua permanência no campo, de incentivos para viabilizar a sua sobrevivência junto a estas unidades produtivas, como também de qualificação tecnológica e digital.

As escolas públicas, sobretudo de Ensino Médio, podem contribuir para valorizar e potencializar a criatividade, a sabedoria e o conhecimento das gerações mais jovens. Podem criar projetos adaptados à realidade da agricultura familiar. Farão isso? Ou continuarão educando fora da realidade, promovendo apenas o “deslumbramento” das realidades urbanas?

Referências:

Consultas feitas em: https://estado.rs.gov.br/agricultura-familiar-e-desenvolvida-em-25-da-area-rural-no-rs-aponta-ibge

http://www.emater.tche.br/site/area-tecnica/inclusao-social-produtiva/juventude-rural.php#.YNOGU-hKg2w

Autor: Nei Alberto Pies

Edição: Alex Rosset

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