Podemos optar por cooperar com os outros em vez de culpá-los; podemos compartilhar como sabiamente já aconteceu em outras épocas de crise e assim enfrentar com lucidez e sensatez a própria pandemia; podemos promover e avançar em busca de um conhecimento científico que nos ajude a enfrentar de forma mais rápida a pandemia e tantas outras que poderão acontecer no futuro. Ou não, muito antes, pelo contrário.
Até mesmo as piores e mais cruéis experiências podem se tornar lições de vida se tivermos a capacidade e a mente aberta para aprender com os erros, percepção dos equívocos cometidos e consciência da finitude humana.
Quase dois anos de pandemia, que provocou mortes, incertezas, medo, angústias, crise sanitária, fragilidade econômica, corrupção no governo e seus aliados, perdas irrecuperáveis e tantos outros dilemas humanos, podem se tornar uma oportunidade para uma balanço avaliativo, um olhar retrospectivo e um replanejamento do nosso modelo civilizatório, ou mesmo de nossas escolhas e de nosso modo de vida.
Como bem observa o reconhecido e prestigiado historiador israelense Yuval Harari (2020) num escrito recente, “epidemias desempenharam um papel central na história humana desde a Revolução Agrícola e frequentemente deflagraram crises políticas e econômicas”. Resta saber em que medida somos capazes de aprender com as crises e que tipo de enfrentamento somos capazes de fazer para superá-las.
Sobre este aspecto concordo como Harari quando diz que “o maior risco que enfrentamos não é o vírus, mas os demônios interiores da humanidade”, que afloram em tempos de crise também provocados pelo vírus. Os demônios internos são o ódio, a ganância e a ignorância.
São demônios porque dividem, produzem violência e fragilizam ainda mais a condição humana. O ódio se faz sentir quando, com medo ou acuados, culpamos os outros pela crise pandêmica ou inventamos um suposto inimigo para acusar, muitas vezes baseados em fake news; a ganância se faz sentir quandoalguns poderosos se aproveitam da crise para aumentar seus lucros, como fazem as grandes corporações, certos grupos empresarias, donos de estabelecimentos ou até mesmo políticos corruptos que ganham barganham vantagens em função da crise; a ignorância se torna um demônio, quando acuados pela crise alguém espalha mentiras, acredita em ridículas teorias da conspiração, nega a ciência e a vacina, desrespeita as orientações sanitárias e não se dá conta que a forma mais eficiente e eficaz de enfrentar a pandemia e acreditar no conhecimento de quem estuda e não em falsos pastores e políticos genocidas.
Os três demônios indicados por Harari são letais e muito presentes no cenário brasileiro: as redes sociais estão minadas de maldade, pois frequentemente vemos postagens absurdas de discurso de ódio que circulam livremente sem a mínima capacidade reflexiva de dar-se conta de como tais atitudes podem ser tóxicas para o tecido social; enquanto milhões de brasileiros são jogados no mapa da fome, encontramos empresários, comerciantes, banqueiros, “empreendedores”, investidores, falsos pastores, políticos medíocres que se aproveitam da situação de crise para saquear a soberania nacional, aumentar suas riquezas e condenar os pobres a miséria e a morte; apesar de ser um fenômeno mundial.
O Brasil está se tornando o centro do negacionismo da ciência, da vacina, do conhecimento por conta de uma legião de falsos pastores, de políticos oportunistas e de setores conservadores da sociedade que espalham preconceitos e produzem o câncer social do racismo, da homofobia, de ignorância cega, das crendices destrutivas, do ódio ao pensamento crítico e do desprezo aos pobres.
De forma oposta aos demônios humanos que afloram em tempos de crise, podemos reagir de outra forma. Podemos por exemplo optar por cooperar com os outros em vez de culpá-los; podemos compartilhar como sabiamente já aconteceu em outras épocas de crise e assim enfrentar com lucidez e sensatez a própria pandemia; podemos promover e avançar em busca de um conhecimento científico que nos ajude a enfrentar de forma mais rápida a pandemia e tantas outras que poderão acontecer no futuro.
Mas, para isso acontecer, é necessário sair de uma forma perversa de egoísmo medíocre, de autocentramento, de ganância e de violência que tem tomado conta de certos grupos políticos e associações que promovem a maldade.
As crianças precisam ser educadas. Elas precisam ser educadas para possamos nos sair melhor do que hoje estamos nos saindo de crises como essa; precisam ser educadas para que eduquem os adultos negacionistas que as cercam e que querem acelerar processos de retorno à vida normal, mas se negam a usar máscaras, tomar as medidas higiênicas necessárias e não aglomerar; precisam ser educadas para ajudá-los a não louvar governantes desumanos e irresponsáveis. (Francisco Carlos Santos Filho, psiquiatra). Leia mais: https://www.neipies.com/escola-pandemia-e-capacidade-de-pensar/
Autor: Altair Fávero
Edição: Alex Rosset
Demônios que infestam a nossa mente, embaçam nossos olhos e castram nossos sentimentos.
Grato Zenaide pelos comentários sempre generosos
Abraços
Altair
Verdade!!!!!!! Se houvesse mais credibilidade na ciência e mais conscientização entre os homanos, muita vidas poderiam ter sido salvas.