Professora Emérita 2017
é referência para a rede municipal de Passo Fundo
e para comunidade escolar na qual atua.
O ano de 2017 foi marcado pelo reconhecimento da dirigente do CMP Sindicato, vice-presidente do Conselho Municipal de Educação e diretora da EMEF Antonino Xavier Vera Lúcia Mondin dos Santos, que recebeu das mãos do vice-prefeito João Pedro a distinção de Professor Emérito, conferida pela Prefeitura de Passo Fundo.
Com uma trajetória marcada pelo afeto com os alunos e colegas, Verinha desenvolve um trabalho que consolidou os laços da comunidade em torno da escola em que atua desde a nomeação na rede municipal, em 1992.
Atuante não só na vida escolar e na comunidade, como também nas lutas travadas pela qualidade da educação pública e valorização do magistério, a professora foi homenageada pela trajetória marcada pela luta para a melhoria das condições físicas da escola e pela efetiva mudança que conseguiu promover na vida de diversas gerações de alunos. Alunos, colegas e comunidade também prestaram homenagens à professora através de apresentações artísticas e da entrega de flores. Na oportunidade, o Secretário de Educação Edemilson Brandão reforçou que Vera foi escolhida por ser um exemplo de luta pela educação.
Pedagogia como instrumento de transformação
Graduada em Educação Física, antes de prestar o concurso do município, atuou nas redes particular e estadual, mas foi na rede municipal, especificamente na EMEF Antonino Xavier, que Vera passou os últimos 25 anos.
Dentre os orgulhos que Vera demonstra durante a conversa que conta sobre sua trajetória, está a dedicação com a escola. A relação que vai além do vínculo de trabalho é envolvida de amor e afeto, além do cuidado no desenvolvimento de uma pedagogia transformadora, que já colhe como fruto a união da comunidade.
“A razão da escola são os alunos, aqueles que estão ali. Então, se você não tem uma proposta político-pedagógica que sirva, a escola se torna inoperante. Não se torna uma escola boa de ir, uma escola que possa unir a comunidade e nós percebemos isso numa época que a comunidade sofria com a violência, a pobreza absurda e o alto índice de analfabetismo”, relata.
Na década de 90, a AXO era uma escola despreparada para a comunidade, sem estrutura. Além dos buracos no chão, vidros quebrados e ratos que corriam pela antiga Brizoleta, não existia uma escola diferenciada, proposta para a comunidade. Foi quando a equipe da qual Vera já fazia parte percebeu que aquela escola não servia para aquelas famílias: era urgente que a escola tivesse a identidade daqueles pais e alunos.
Há cerca de 15 anos, a escola desenvolve uma pedagogia diferenciada. Primeiramente, com a pedagogia do amor, depois a pedagogia do abraço, que foi quando se explicou que a escola era para acolher, não era uma inimiga, seguido pela pedagogia da emancipação, em que se continuou o processo que estava trazendo resultados.
“Se está lá e não ajuda para melhorar a vida daquelas pessoas, para que serve? Com o tempo, a estrutura física foi melhorando, mas não adianta estrutura se não tiver acolhida e espaço para a comunidade vir e se sentir acolhida. Depois desse processo, a comunidade se sentiu valorizada tanto na questão pedagógica, de acolhida quanto na questão de estrutura, e se sentiu parte da escola, criou um laço conosco. Hoje nossos ex-alunos trazem seus filhos para estudar aqui na escola, porque eles sabem desta relação”, conta orgulhosa.
“Acho que uma escola tem que ser afetiva. O laço com o aluno e a comunidade tem que ser real. Acredito que uma escola acolhedora, alegre, afetiva faz a diferença na vida das crianças. Educação é oportunidade. Eles precisam de espaço, uma luz, um caminho, ter uma opção, enxergar que existem outras possibilidades”, salienta.
De luta!
Com a fala mansa e amorosa, Vera buscou diversas melhorias para a escola em que sempre atuou. Defensora ferrenha da educação pública de qualidade, desempenha um importante papel como vice-presidente do Conselho Municipal de Educação e integrante de espaços como o Fórum Municipal de Educação, por exemplo.
Desde o início da sua carreira, Verinha atua ativamente das lutas pelas pautas do magistério e foi uma das defensoras da criação do Sindicato dos Professores Municipais. Foi uma das idealizadoras da transformação do CMP em Sindicato representativo do magistério municipal. “As lutas são constantes. Eu acredito que autonomia tanto da rede pública quanto da rede privada precisa acontecer. Nós precisamos ter uma questão geral que são as leis, a LDB está aí, e essa autonomia de cidades e localidades precisa existir. Uma escola não pode ser igual à outra, uma criança não é igual à outra, as comunidades precisam de escolas que sirvam para as suas necessidades”, destaca.
Vera lembra que o magistério é uma categoria massacrada, que enfrenta diversas dificuldades para atuar, como as famílias que não vão até a escola e deixam que decisões sobre a vida dos alunos tenham de ser tomadas pela escola, que fica sozinha.
“Nos sentimos abandonados em várias questões políticas da atuação do professor, mas precisamos continuar tendo esperança, oferecendo esse caminho. Porque a escola é a única trincheira de civilidade que eles ainda têm, em várias comunidades, e a nossa é uma delas. Sempre fui em busca dos direitos dos alunos, dos professores, dos pais, da comunidade, todas as questões que são de direito são bandeira de luta”, desabafa.
A professora aponta que, se você quer um local onde as crianças possam ter um exemplo e onde possam contar com uma estrutura acolhedora, esse caminho é a escola. Para ela, as escolas de periferia devem oferecer tudo que as crianças dali têm direito.
Nessa luta por educação pública de qualidade e luta pelos direitos da categoria, Vera destaca que o CMP Sindicato sempre teve atuação direta e as categorias precisam de quem as represente. “Alguém precisa estar à frente desta luta. Precisamos de pessoas que lutem nestas questões da vida funcional do professor municipal, principalmente quando o funcionalismo público tem sido acusado de tantas crises. Nós somos lutadores por uma sociedade melhor e eu estendo essa homenagem a todos os meus colegas da rede municipal, a todos os dirigentes do CMP Sindicato, Conselho Municipal de Educação e por todos que lutam por uma educação melhor, uma educação pública de qualidade”, disse.
Dança da vida
Um dos projetos que marcaram a carreira da professora foi o “Criança na Dança da Vida”. Incentivada pelo CMP, que na época ainda era associação, Vera e outra colega montaram uma apresentação de dança com os alunos da rede. O espetáculo foi um sucesso e, no ano seguinte, a Secretaria Municipal de Educação abraçou o projeto, subsidiado pela SME, onde, duas vezes por semana, as professoras cedidas trabalhavam dança com alunos de diversas escolas. Esses alunos, por sua vez, levavam o aprendizado para suas escolas multiplicando o conhecimento passado por Verinha. Anos depois, várias alunas do projeto desenvolveram suas carreiras voltadas para atividades da dança ou educação física, área em que atuam até hoje.
Esta reportagem foi produzido pela jornalista Ingra Costa e Silva e publicada no Jornal Impresso Educação e Debate do CMP Sindicato de Passo Fundo, RS.
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