Amor ou civismo?

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O amor à Pátria, o respeito aos símbolos nacionais
e o orgulho de sermos brasileiros perpassam
o ambiente escolar todos os dias.

Durante o mês de setembro, em especial, levanta-se discussões nos meios de comunicação de massa a teoria de que estamos desencantados com os rumos da nação. Consequentemente, brasileiros estariam sem civismo e sem amor à Pátria. Afirma-se, também, que as escolas deixaram de ensinar o patriotismo e o amor ao Brasil.  Permito-me discordar frontalmente desta tese.

Levianamente, os mais convictos destas teses, dizem que o mal da nação estaria nos políticos corruptos e em partidos políticos que estariam promovendo mais suas bandeiras do que a bandeira do Brasil. Que os brasileiros estariam deixando de lado a exaltação de amor à Pátria para digladiar-se com os demais pelos créditos e paixões do partido A, B ou C. Dizem, ainda, que partidos de esquerda estariam na origem da falta de amor à Pátria. Em síntese: o problema do Brasil seria a política (coisa do demônio) e, principalmente, os partidos de esquerda seriam os maiores culpados pela falta de civismo dos brasileiros.

Vejam. O amor sempre é relação, é feito de apostas e acordos, vividos permanentemente. O amor é doação, e tudo o que contradiz a doação fere e machuca. O civismo, por sua vez, pode ser uma forma de amor, mas não é a única forma de amar um país. (Vejam: sou gaúcho e gosto muito desta terra. Isso não quer dizer que eu deva seguir o tradicionalismo que, embora seja uma forma de amar o Rio Grande do Sul, não é a única forma de amá-lo. Sou gaúcho, mas não sou tradicionalista).

O civismo é autoritário e impositivo, já o amor nasce livre e desimpedido, espontâneo e duradouro. O civismo precisa ser medido, enaltecido e demonstrado, já o amor ao Brasil brota livre, instantâneo e sem medidas definidas para ser vivido pelos brasileiros.

Em oportunidades espontâneas e livres, os brasileiros apreciam muito a bandeira e o hino nacional. As cores da diversidade cultural, regional e étnica de tantos povos que aqui fazem sua morada são sobrepostas pelas cores da bandeira, maior símbolo de identidade nacional.

O sentimento de amor ao Brasil gera-se através da participação, da importância e do envolvimento que dispensamos, cotidianamente, como cidadãos brasileiros. Em setembro de 2016, defendi que “uma das maiores atitudes cívicas e cidadãs é demonstrar amor à Pátria interessando-se por ela, participando ativamente dos acontecimentos que a envolvem no atual momento histórico. Afirmar democracia é atitude relevante e decisiva para vislumbrar o futuro desta nação. É necessário afirmar e debater, de forma ampla, aberta e plural a “participação como um direito humano”, a fim de sensibilizar e comprometer a todos com a luta por sua efetivação no cotidiano de todos e de cada pessoa”.

A confusão generalizada entre civismo e amor ao Brasil produz uma dicotomia absurda e desnecessária. Talvez aí esteja explicação do mecanismo chave da compreensão desta confusão, na medida em que justamente os que mais lutam por um Brasil para todos os brasileiros são enquadrados pelos outros como se não o amassem.

A maioria dos brasileiros ama nosso país, mas manifesta seu amor de diferentes formas. Ocupar as ruas sempre é um ato de amor, que se manifesta através de lutas, de manifestações por liberdade, democracia e direitos, ou também por intencionadas manifestações cívicas de amor e apreço ao país em comemorações da Semana da Pátria.

O amor à Pátria, o respeito aos símbolos nacionais e o orgulho de sermos brasileiros perpassam o ambiente escolar todos os dias. Justamente, por isso, a escola também é espaço para as críticas ao modo de ser, pensar e agir de todos os brasileiros porque todos desejamos o melhor para o Brasil.

Lutar por direitos, por liberdade e por dignidade humana é, para mim, a maior demonstração de amor ao Brasil e a todos os brasileiros. Um país que tanto amamos não pode considerar que “lutar por direitos e cidadania é crime”.

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