A palavra que simboliza o sentimento dos brasileiros em 2024 foi revelada pela pesquisa ‘Palavra do Ano’, conduzida pela CAUSE em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA e o PiniOn app. Em sua nona edição, o termo ‘Ansiedade’ liderou com 22% das menções, seguido por ‘Resiliência’ (21%), ‘Inteligência Artificial’ (20%), ‘Incerteza’ (20%) e ‘Extremismo’ (4%). Leia mais:https://roraimaemtempo.com.br/cidades/ansiedade-e-eleita-a-palavra-do-ano-no-brasil-mostra-pesquisa/)
O encerramento de um ano é tradicionalmente marcado por balanços e projeções. Revemos os planos traçados, avaliamos os resultados alcançados e elegemos a direção para o próximo ciclo.
Mas e quando a palavra que define o espírito do ano é “Ansiedade”? Como projetar o futuro sob a influência de uma sensação que, em sua essência, é caracterizada pela inquietude, pela pressa e pela dificuldade em lidar com a espera?
A ansiedade não é apenas cansaço mental ou emocional. Ela é uma perturbação que afeta profundamente a nossa relação com o tempo.
Quando estamos ansiosos, não preparamos o futuro com calma; ao contrário, colidimos com ele, muitas vezes sem planejamento, deixando-nos vulneráveis a frustrações e desilusões. Esse “choque com o futuro”, como bem pode ser descrito, reflete não apenas nossas tensões internas, mas também ameaças externas significativas: as mudanças climáticas, as desigualdades sociais crescentes, a perda de biodiversidade e as crises geopolíticas que redefinem constantemente o cenário global.
Esses desafios coletivos demandam respostas que transcendam a ansiedade individual e exigem colaboração, solidariedade e a “pressa de fazer caridade”. Essa pressa, diferentemente da ansiedade paralisante, é movida por um senso de urgência positiva, pela busca de soluções que não apenas remendam o presente, mas plantem sementes de esperança para o futuro.
No entanto, a esperança é um ato paradoxal.
Ela exige que reconheçamos os desafios com clareza, sem negá-los, mas também que acreditemos em nossa capacidade coletiva de superá-los. Como construir um futuro sustentável, socialmente equitativo e com isonomia cidadã diante de um mundo em turbulência? A resposta pode residir na diferença entre ansiedade e pressa de esperançar.
Enquanto a ansiedade atropela as vibrações retroativas de vida, desorganizando a continuidade das nossas experiências, a pressa de esperançar é proativa. Ela nos impulsiona a agir com intencionalidade, equilibrando urgência e planejamento. Essa abordagem demanda uma reavaliação dos valores que nos guiam. É necessário cultivar a paciência ativa, aquela que nos permite agir no presente com a consciência de que cada pequeno gesto tem impacto no futuro.
Enfrentar a ansiedade significa aceitar que a incerteza é parte da vida.
Isso envolve criar espaços para reflexão e diálogo, onde medos possam ser compartilhados e ressignificados coletivamente. Nenhum futuro é sustentável se construído de forma individualista. A colaboração entre diferentes setores da sociedade é crucial para resolver problemas globais e garantir justiça social. Em tempos de crises sistêmicas, manter a esperança é, em si, um ato revolucionário. A esperança nos convida a olhar além das dificuldades imediatas e imaginar o que pode ser alcançado com esforço e determinação.
O ano de 2024, com a ansiedade sendo a palavra síntese, nos desafia a ressignificar o conceito de tempo e de planejamento. Mais do que um estado mental ou emocional, a ansiedade pode se tornar um catalisador para a mudança, desde que não nos rendamos a ela. A transição da ansiedade paralisante para a pressa de esperançar exige coragem, organização e uma consciência ampliada de que somos todos coautores do futuro.
Assim, que possamos encerrar o ano 2024 com a compreensão de que o verdadeiro desafio não está apenas em enfrentar nossas inquietudes, mas em transformá-las em energia criativa e construtiva. Afinal, a ansiosa espera pelo futuro pode ser substituída por uma esperança ativa e coletiva, na qual cada passo à frente seja guiado por valores que promovam uma vida digna e harmoniosa para todos.
Autor: José André da Costa, msf. Também escreveu e publicou no site em 2024 “Tapera: espaço das lembranças vividas”: www.neipies.com/tapera-espaco-das-lembrancas-vividas/
Edição: A. R.