Aos pais cujos filhos deixaram a igreja

1987

Haja o que houver, jamais desista de seus filhos. Mas não tente impor-lhes sua fé.

Sim, sei o quanto dói cria-los no caminho da fé e vê-los se afastar da igreja ao ingressar na vida adulta. A gente se vê tomado de culpa, perguntando-se: Onde foi que errei?

Perdemos noites de sono. Perguntamo-nos onde eles estarão naquele momento. Se pudéssemos, retrocederíamos no tempo para poder colocá-los no colo novamente e protegê-los das ameaças deste mundo hostil.

Às vezes, erramos. Quase nunca, intencionalmente. Noutras vezes, simplesmente acontece sem que tenhamos feito nada para contribuir para o seu afastamento.

Mil coisas se passam pela nossa cabeça.

Como posso continuar pregando o evangelho se meus próprios filhos já não o seguem? Que credibilidade terei para ensinar a outros o que nem eles mesmos vivem?

Tais questões têm alguma pertinência, porém, devo salientar que estão longe de serem as mais importantes.

Esqueça o que os outros vão falar. Deixe de lado seu orgulho e preocupação com sua imagem. Pense neles, exclusivamente neles.

Não será com indiretas pelas redes sociais que você vai trazê-los de volta. Muito menos com sermões sobre o “filho pródigo” ou sobre “voltar ao primeiro amor.” Lembre-se de que eles cresceram ouvindo estes e tantos outros sermões.

O que fazer, então? Como reagir ao vê-los encantados com o que o mundo lhes pode oferecer?

Primeiro, vamos entender quais as possíveis razões de haverem se afastado.

Alguns se afastaram ao verem suas igrejas se comprometendo politicamente com o que consideram mais incongruente com os valores que abraçaram.

Outros se afastaram por enfrentarem uma crise legítima de fé. De repente, o que ouvem na igreja parece não fazer mais sentido diante das demandas do mundo que lhes cerca, ou diante do que têm aprendido na escola ou faculdade.

Outros ainda, se afastaram por desejarem experimentar aquilo que a igreja proíbe.

Há, também, os que se afastaram por razões ligadas à sua orientação sexual ou identidade de gênero.

E há os que se afastaram por problemas relacionados à sua própria família, como desentendimento com os pais ou o divórcio dos mesmos.

Certamente, há outros motivos que poderíamos relacionar aqui. Sejam eles quais forem, não devem ser motivo para questionarmos a legitimidade da experiência que tiveram com Cristo.

Jamais ponha em xeque a conversão deles. Só Deus conhece profundamente os seus corações e as razões que os levaram a se afastar.

Evite expor em redes sociais os eventuais conflitos enfrentados por vocês. A intromissão das pessoas só prejudicará ainda mais a relação de vocês, podendo, inclusive, inibir qualquer reaproximação da fé.

A menos que você tenha sido um pai ou uma mãe completamente relapso (a), não se culpe pelo afastamento deles.

A verdade é que cada um precisa percorrer sua própria jornada espiritual. Não dá para terceirizar nossa espiritualidade. A subjetividade é solo sagrado, onde ninguém deve se atrever a pisar sem estar descalço de suas suposições, preconceitos, ou mesmo, certezas.

Você já deve ter se perguntado: “Por que justamente comigo?” ou “Por que não com outros pais menos zelosos que eu?” Sugiro que substitua esta questão por outra: Por que não comigo? Afinal, ninguém é melhor do que ninguém. Aconteceu até com Billy Graham, considerado o maior evangelista do século XX, que enquanto fazia cruzadas evangelísticas reunindo multidões ao redor do mundo, seu filho se drogava e se entregava aos prazeres desenfreados da carne. Foi este mesmo filho que o sucedeu no ministério após sua morte.

Haja o que houver, jamais desista de seus filhos. Mas não tente impor-lhes sua fé.

Independentemente de estarem ou não na igreja, os princípios e valores que você lhes ensinou os acompanharão pelo resto de suas vidas, e isso é a evidência inconteste de que você cumpriu e tem cumprido sua missão.

Console-se com o fato de que “aquele que começou a boa obra, há de completa-la até o dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6). Deus jamais abandona uma obra pela metade.

O que você pode fazer? Orar, amar, acolher.

Ore por seus filhos diuturnamente. Peça que o Espírito Santo se encarregue de colocar as pessoas certas em seus caminhos, e de dirigir-lhes os passos.

Se antes, você buscou protegê-los do mundo, possivelmente agora terá que protegê-los da maldade fermentada na própria igreja.

Não permita que rotulem seus filhos. Confronte a hipocrisia daqueles que se aproveitam do momento para tripudiar como se estes tivessem a família perfeita. Defenda sua cria!

Eventualmente, o mundo vai decepcioná-los. Quando isso acontecer, não jogue na cara deles. Não diga algo do tipo “eu não te disse?” Isso só vai piorar as coisas. Quando todos os decepcionarem, abrace-os fortemente. Cubra-os de amor.

Eles podem até resistir aos seus argumentos, mas serão absolutamente vulneráveis ao seu amor.

Autor: Hermes C. Fernandes

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