Aprender com a timidez

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Talvez seja prudente, enquanto educadores, reavaliarmos nossas convicções e prestarmos atenção aos “tímidos” e “introvertidos” que se “escondem” no anonimato das aulas e assim, criativamente, encontrarmos estratégias pedagógicas para aproveitarmos o potencial que se encontra escondido nestes alunos.

Num mundo onde saber falar em público é altamente valorizado, onde a extroversão é algo privilegiado e onde o “aparecer” é a “bola da vez”, dizer que a timidez, a introversão e o anonimato são também características importantes de serem elogiadas, pode soar estranho para a grande maioria das pessoas.

Quem defenderia a timidez como uma virtude? Quem faria um elogio para pessoas que gostam mais de ouvir do que falar? Em que aspectos o ficar quieto e a introspecção poderiam ser mais apreciados do que a exposição e a fala espalhafatosa?

No entanto, num mundo marcado pela excesso de informação, de fala e de exposição, a sabedoria do silêncio aliada com o aprendizado da timidez pode ser altamente importante para viver uma vida prudente e bem conduzida.

A escola, de modo geral, supervaloriza aqueles que possuem um alto grau de inteligência linguística, os que participam ativamente nas aulas, enquanto considera os tímidos e os introvertidos como alunos apáticos, problemáticos e pouco valorizados no acontecer pedagógico.

Num processo de escolarização em que os trabalhos de grupo e a participação ativa dos estudantes são altamente considerados, os “quietos” e “calados” dificilmente poderão ter status de destaque no universo escolar.

No entanto, num estudo recente da escritora e consultora empresarial Susan Cain, formada em direito pelas universidades de Princeton e Harvard, cuja síntese está publicada no livro O poder dos quietos, traduzido recentemente no Brasil (Editora Agir, 2012), defende que a introversão e a timidez podem ser altamente produtivas e de que pessoas com essas características podem ser altamente criativas e importantes no atual cenário social, empresarial e acadêmico.

Em seu estudo, baseado em outras pesquisas de antropólogos, sociólogos, psicólogos, filósofos, biólogos evolucionistas, estudiosos da administração e principalmente em biografias de grandes personalidades, Susan Cain mostra que “é um grande equívoco considerar que os introvertidos não podem ser bons líderes”. Na sua avaliação, “líderes introvertidos produzem melhores resultados que os extrovertidos por serem mais propensos a deixar funcionários talentosos discorrerem sobre suas ideias, em vez de tentar colocar seu próprio carimbo sobre elas”. Com isso Susan combate a falácia do “trabalho em grupo” e argumenta que, em muitos casos, incentivar ou até forçar as pessoas a trabalhar juntas pode reduzir a capacidade de criação e a própria produtividade.

Conforme está expresso em uma bela e instigante reportagem sobre o assunto publicada na Revista Mente Cérebro do mês de junho de 2012, “introvertidos não são necessariamente tímidos, embora traços de personalidade de pessoas com essas características frequentemente se sobreponham.

Os primeiros são, basicamente, atormentados pelo medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto que os segundos são marcados pelo desconforto em ambientes excessivamente estimulantes”.

Na minha percepção, acredito que estudos como os de Susan Cain são oportunos para repensarmos o modo como projetamos ou organizamos nosso trabalho pedagógico nas escolas e universidades.

Talvez seja prudente, enquanto educadores, reavaliarmos nossas convicções e prestarmos atenção aos “tímidos” e “introvertidos” que se “escondem” no anonimato das aulas e assim, criativamente, encontrarmos estratégias pedagógicas para aproveitarmos o potencial que se encontra escondido nestes alunos.

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

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