Aprender criativamente, fazendo o que é óbvio!

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Com os recursos das novas tecnologias, tudo está ao nosso alcance para tornarmos a escola mais viva na aprendizagem. Não somos professores de tecnologia, mas sem elas não podemos mais atuar nas salas de aula.

Resolvi redigir esta crônica por duas importantes motivações: primeiro, para agradecer à homenagem e o reconhecimento da Secretaria Municipal de Educação e do Senhor Prefeito Municipal da minha cidade pela passagem do Dia dos Professores e Professoras. Segundo, para dizer da importância das homenagens aos professores, pelo seu dia, virem acompanhadas de formação, traduzida em conhecimentos pedagógicos e motivacionais para estes seguirem as suas jornadas e desafios diários nas salas de aula.

O melhor presente aos professores e às professoras de uma rede de ensino é o seu reconhecimento. O reconhecimento social, tanto da profissão quanto do serviço público que professores e professoras prestam ao conjunto da população, sobretudo aos que moram, lutam e constroem sua cidadania a partir das periferias. O reconhecimento da dignidade docente, através de justas remunerações, do oferecimento de boas condições de trabalho e da observância de seus direitos.

O Workshop deste último dia 18 de outubro, em homenagem ao dia dos Professores e Professores teve a mediação de José Moran, especialista em metodologias ativas, modelos híbridos de educação e temas contemporâneos da educação. A sua abordagem foi feita a partir da pergunta: Como ensinar de forma mais criativa, hoje?

Assim que acessou o palco, José Moran foi costurando sua postura e fala; absolutamente humanizantes. Aos 76 anos, seus testemunhos, suas histórias de vida, suas palavras demonstraram empatia e solidariedade ao contexto e às realidades vivenciadas por professores e professoras em todo Brasil, inclusive a nós, de Passo Fundo, RS.

Moran revelou seus mais profundos e sinceros conhecimentos, associando-os às suas experiências e práticas (práxis).

Começou afirmando que aprendeu a ser professor mais pela prática do que pela teoria. Que, passando por profunda crise profissional aos seus quarenta anos, começou a sentir mudanças significativas com os jovens com quem atuava, seja no Ensino Básico ou na Universidade. Mas que teve se colocar um grande desafio: voltar a sentir prazer ao ministrar aulas ou abandonar a profissão.

Moran relatou que, durante seis meses, teve de se recriar/aprender criativamente a humildade, embora carregasse convicção de que sempre dialogava e tivesse o mais profundo respeito para com os seus estudantes. Ledo engano. Como recriou-se? Deixando de levar tudo pronto aos estudantes, passando a escutá-los, a envolvê-los mais nas questões de conteúdos e na resolução de situações-problema. Como professor, passou a não mais presumir tudo, mas trazer propostas, planejar e dialogar junto e com os estudantes, para que seu interesse pelo conhecimento se traduzisse em envolvimento nas atividades coletivamente acordadas.

Em seguida, abordou a questão que julguei central na sua exposição: o óbvio (fazer o que a gente menos faz). Na sua visão, no mundo atual, o que é óbvio precisa cada vez mais ser dito, apresentado e resgatado.

Referiu a fala do Senhor Prefeito que, antecedendo-lhe, falara sobre a importância de todos os interessados na educação (professores e professoras, sindicatos e administração municipal) sempre travarem o mais franco e aberto diálogo. O que, segundo ele, deveria ser óbvio, mas precisa ser dito, anunciado e exercitado, permanentemente.

Mas, voltando às relações de ensino-aprendizagem, que envolvem professores e estudantes, Moran destacou alguns aspectos (óbvios) que passamos a relacionar.

Como aprender criativamente?

  1. Faça o melhor que você pode fazer, nas condições e nas realidades com as quais você atua;
  2. Você está a serviço dos estudantes, dos seus desejos e de suas necessidades de aprendizagem;
  3. Aprenda que vale a pena estar na escola. O estudante percebe as suas atitudes e as suas motivações como docente;
  4. As crianças são muito hábeis e sábias para fazer uma radiografia da gente, confrontando o que você fala e o que você faz;
  5. A criatividade é uma relação de confiança e verdade (consigo mesmo e com os estudantes);
  6. Busque sempre a coerência entre o que se fala e o que se é;
  7. A criança também pode ensinar e, portanto, também pode propor;
  8. Administre e atenda mais as ânsias do fazer das crianças: por que esperar tanto, se ela deseja fazer e experimentar já, agora.

Na parte final de sua participação no evento, José Moran destacou a importância de haver um espírito de equipe, coletividade e parcerias nas escolas e em uma rede municipal de educação. Afirmou: “quando tem alguém que manda e outro que obedece, tem execução, não envolvimento”. Lembrou, ainda, que educar e criar não são coisas nada fáceis, mas um desafio posto a todos os que acreditam na verdadeira educação.

Ponderou, ainda,  que no pós-pandemia, os desafios se apresentam em forma de dificuldades e possibilidades. Que, com os recursos das novas tecnologias, tudo está ao nosso alcance para tornarmos a escola mais viva na aprendizagem. Que não somos professores de tecnologia, mas que sem elas não podemos mais atuar nas salas de aula.

Partilhou, ainda, o autor Mitchel Resnick e a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (https://aprendizagemcriativa.org/ ) como referências de sua fala e de suas aprendizagens. Por fim, Moran disse que, ao experimentar novas possibilidades de aprender e ensinar criativamente, também foi modificando a sua própria vida e existência.

Brindou os presentes ainda com bela frase de Paulo Freire:

Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco. A escola em que se pensa, em que se cria, em que se fala, em que se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim a vida”.

Nós, professores e professoras da rede municipal de Passo Fundo, te aplaudimos e nos fortalecemos nos desafios da ação docente com tuas generosas e ricas falas e vivências, José Moran. Seguiremos em jornada, lembrando que tecnologias e metodologias nunca são um fim em si mesmas, mas sempre estarão carregadas de intencionalidade pedagógica (que seres humanos queremos formar?); sempre serão construídas por sujeitos aprendentes e seres humanos, também em formação: os professores e as professoras.

Escrever crônicas, com referências reflexivas, era uma prática do educador brasileiro Rubem Alves. É uma prática de sistematização, que ajuda muito na elaboração de aprendizagens, a partir de eventos ou encontros formativos.

Fotos: Júlio Ferreira, SME Passo Fundo

Autor: Nei Alberto Pies

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