Elas não esqueceram as fraldas, os brinquedos,
os travesseiros, nem todas as pequenas coisas
necessárias às crianças e que as mães conhecem tão bem.
[Primo Levi]

No livro de Primo Levi “É isto um homem?” podemos perceber o sofrimento dos judeus no campo de concentração de Auschwitz. Um sofrimento que rouba a dignidade do homem, fere a alma, deixa um vazio dentro de cada um dos prisioneiros e uma pergunta maior que não se cala diante de tanta dor: por que estamos aqui?

Na mesma obra, Primo Levi conta do seu sofrimento e das crianças no campo de concentração e nos diz:

“Foi assim que morreu Emília, uma menina de três anos, já que aos alemães configurava-se evidente a necessidade histórica de mandar à morte às crianças judias” [LEVI, Primo. É isto um homem. Disponível aqui. Acesso em 30 de novembro de 2018. p. 16.]

Algumas crianças de Auschwitz quando desciam dos trens iam direto às câmaras de gás. Eram separadas dos seus pais, ficavam sozinhas, tinham as suas cabeças rapadas, vestimentas tiradas e colocavam um pijama listrado, usavam uma espécie de tamancos. Algumas viviam por alguns dias deitadas em beliches com mais uma criança em cada cama deitadas com as pontas dos pés para as cabeças da outra.

Papel das crianças na II Guerra Mundial.

As crianças aguardavam, ansiosamente, pela volta dos seus pais que os soldados alemães diziam estarem trabalhando e que logo mais estariam com elas. Nunca houve a festa prometida pelos soldados alemães às crianças de Auschwitz na chegada dos seus pais, nunca houve a brincadeira prometida e nem a comida gostosa. O pedaço de pão duro era disputado entre as crianças, igualmente com homens e mulheres.

As mães dessas crianças trouxeram todas as suas coisinhas guardadas em sacolas e malas. Elas esperavam poder brincar com os seus filhos, voltar para casa, que aquele pesadelo acabasse logo. Elas amavam os seus filhos e queriam estar ao lado deles, mas não foi assim com a maioria dessas mães. Algumas delas foram imediatamente enviadas às câmaras de gás e separadas dos seus filhos. As crianças que ficaram sozinhas choraram sem entender direito o que acontecia naquele local chamado Auschwitz. E ninguém nunca entendeu o que aconteceu ali, nem nunca entenderá.

Quando iam às câmaras de gás, as crianças eram chamadas para um passeio e inocentemente ficavam alegres como quem vai para um parque de diversões, lá muitas vezes se encontravam com as suas mães, seus avós e alguns pais que não tinham forças para o trabalho esperando, assustados, pela morte. Conforme, Primo Levi nos conta Auschwitz foi um horror. Um lugar que nunca antes deveria ter existido e como nos alerta o filósofo francês Alain Badiou que fiquemos atentos para que esse mal nunca mais torne a acontecer.

Aqueles meninos e meninas tão inocentes e puros nos seus pequenos mundos não podiam imaginar o que estava por trás daquelas cercas de arames de Auschwitz. A dor e a saudade que seus pais sentiam da separação e de terem que trabalhar forçadamente para sobreviverem.

Falar das crianças de Auschwitz é lembrar que toda criança tem direito ao brincar, à educação e ao viver perto dos seus pais e familiares. Que nenhuma criança deve sofrer castigos ou abusos. Primo Levi na referida obra citada acima nos alerta ainda

“Isto é o inferno. Hoje, em nossos dias, o inferno deve ser assim: uma sala grande e vazia, e nós, cansados, de pé, diante de uma torneira gotejante mas que não tem água potável, esperando algo certamente terrível, e nada acontece, e continua não acontecendo nada. […] [LEVI, Primo. É isto um homem. Disponível aqui. Acesso em 30 de novembro de 2018. p. 18]”

Imaginemos várias crianças num trem lotado, com sede, fome e calor, no escuro chorando pelos seus pais sem saber para onde estão sendo levadas e com medo do que vai lhes acontecer logo mais. Sim, isso é o inferno e se ele existiu algum dia na terra esse lugar foi Auschwitz. Que esse mal não aconteça nunca mais e que as nossas crianças nunca mais sofram nas mãos de soldados sem misericórdia no coração.

Os meninos de pijamas listrados de Auschwitz viam os soldados alemães brincarem de futebol com bolas de meias e ficavam a sorrir, de longe, com vontade de participarem daquela brincadeira. Crianças que antes de serem presas tinham um lar, brinquedos, amor e escolas. Agora não têm mais nada, sequer sabem como será o amanhã.

Luz sobre o caos – ensino do Holocausto para as crianças.

Primo Levi nos chama atenção quando cita uma expressão muito usada no campo de Auschwitz pelos judeus aos mais fracos muçulmanos aqueles que não tinham mais forças para nada, eram os selecionados às câmaras de gás, os que perdiam a vontade de viver, os que sofriam com a ausência dos seus filhos e esposas, os que não suportavam as dores do trabalho forçado.

Se para os adultos o sofrimento era enorme, imaginemos para as crianças que aos poucos ficavam sem conseguir respirar e iam morrendo nas câmaras de gás. Que todos nós possamos refletir sobre Auschwitz e lutarmos para que esse mal que violentou a humanidade nunca mais se repita e que as nossas crianças vivam na esperança de amanhãs melhores, alegres e esperançosos.

Salvemos as nossas crianças das mãos dos carrascos da destruição da humanidade, da violência e da maldade. E que elas nunca mais se assustem com campos de concentração. Aos nossos meninos e meninas um brincar de futebol nos parques verdes das cidades. Isto é ser homem, isto é ser humano, respeitar as crianças que um dia fomos e de quem somos responsáveis.

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