“O adulto que perde a criança interior envelhece rapidamente. O ser humano saudável é aquele que mantém sua capacidade de brincar. Nas relações afetivas isso é essencial” (Dr. Sérgio da Silva Lopes – in “O Código do Monte” – Ed. Fergs)
O período de infância, rico de possibilidades, de aprendizados espontâneos, de construção da identidade moral, do caráter, está sendo negligenciado pela família. As crianças precisam ser estimuladas a brincar, jogar, praticar o lúdico. Etimologicamente, brincar significa criar vínculos, socializar-se, conviver com o outro de forma prazerosa, de trocas e formação de regras que surgem naturalmente e que ajudam a consolidar a personalidade a em formação de maneira positiva.
Brincar com os filhos, entrar na brincadeira deles, sem instituir regras, desenhar, pintar juntos, criar histórias, cantar, dançar, encorajar a curiosidade natural da criança, caminhar, passear lado a lado, num parque, correr, jogar bola, peteca, dar risada uns dos outros, tudo feito naturalmente, sem pressa e sem celular, são folguedos saudáveis que promovem o sentimento de felicidade genuína para a criança. São momentos que a imunizam emocionalmente para o envolvimento com a drogadição e delinquência na adolescência.
Utilizando brinquedos simples, muitas vezes improvisados que se transformam, pela rica imaginação infantil, promovida pela plasticidade de seu pensamento, em navio, palácio, carro, casa, animal ou pessoa, e assim por diante, o infante vai se preparando para enfrentar os desafios da vida no futuro. Estas atividades lúdicas promovem a interação entre ele e outras crianças e também com os adultos que entram na brincadeira, e é atividade plena de sentido.
Nas cidades, existem poucos espaços para a atividade infantil. A criança é cercada dentro do lar, nos condomínios, pátios pequenos ou em escolas com locais naturais reduzidos. Ela precisa brincar com coisas simples como pauzinhos, pedrinhas, areia, água, folhas secas, pedaços de papel, lápis, giz, tinta, e assim vai deixando sua marca, seus desenhos nos lugares por onde passa, repetindo a história de seus antepassados. Nesta brincadeira, ela está se descobrindo e descobrindo seu espaço.
O período da infância, por equívoco da cultura atual, está diminuindo; crianças são estimuladas a queimar etapas importantes da infância e adolescerem mais cedo. A adolescência está invadindo o período da infância e da idade adulta, acompanhando outro fenômeno social que é o desaparecimento da adultez.
Devemos estimular a criança a ouvir, a criar e contar histórias. As histórias tornam-se um guia para o conhecimento da alma da criança. Podemos pedir às crianças que já estejam alfabetizadas que escrevam a história de sua vida, ou desenhem. Podemos ajudá-las a descobrir novos termos, enriquecer seu vocabulário, desta forma seu pensamento vai fluir através das palavras ou imagens. Elas gostam de receber mensagens escritas ou com desenhos, sempre se emocionam com estas manifestações. As palavras dos adultos devem brotar do coração, ser carregadas de sentimento e irão provocar momentos felizes para elas. Mesmo que tenhamos que corrigí-la.
Evitar depreciar com palavras a criança e o jovem porque as energias emitidas são a capturadas pelo psiquismo dos mesmos na forma negativa em que foram emitidas. Antes da corrigenda, o adulto deve se acalmar, respirar fundo e, de forma harmônica, analisar com infrator o equívoco e procurar corrigi-lo.
Tanto na fase infantil quanto na juvenil, a mente é repleta de sonhos, esperanças para o futuro, projetos de vida que irão se concretizar ou não. Sonhar passa a ser tão natural quanto respirar.
Os adultos devem questionar, carinhosamente, sobre estas futuras projeções: O que você está fazendo hoje para conseguir realizar o que sonha? Como pensa que será sua vida daqui a dez anos? Ajudar a aliar o sonho com a realidade sem destruir a esperança em seus corações pois os desejos e a imaginação precisam ser estimulados para que possam ser expressados.
A criança desobediente e mal comportada revela uma alma atormentada e desajustada, que se considera, inconscientemente, rejeitada, não amada. O desprezo pelos sentimentos expressos na infância e que são sufocados leva à dificuldade de comunicação na idade adulta. Quando o adulto silencia e se dispõe a escutar o infante, dar-lhe toda a atenção, acolher e ouvir o que ele tem a dizer, de forma receptiva, ele vai externar livremente que está sentindo e se aliviar emocionalmente.
A inteligência, que se expressa através do cérebro, tem fases de maturação e evolui por etapas. O senso moral vai se formando antes dos quinze anos. Se a criança ou adolescente apresentar um comportamento delituoso antes dos quinze anos e não for corrigido a tempo e reeducada, a chance de apresentar comportamentos e atitudes equivocadas e tornar-se adulto problemático é muito grande.
A criança tem muito entusiasmo por tudo que é normal, comum e natural. O espírito infantil é essencialmente imaginativo, criativo, a princípio tudo tem vida para ela. Atualmente os pais, por comodismo, estão embotando essa tendência natural quando oferecem somente brinquedos eletrônicos, movidos à pilha, barulhentos ou programas televisivos, jogos de videogame, celulares e outros. Alguns desses aparelhos possuem programas ou jogos inadequados, indecentes, violentos, contaminando a tendência natural da criança ao que é bom, belo e verdadeiro.
Os estudos sobre este assunto apontam que o uso indevido, prolongado de assistência destes programas artificiais ofusca a capacidade criativa e imaginativa da criança, que se torna passiva, fria e, às vazes, violenta.
Muitas ficam condicionadas, viciadas, ao som e imagens de certos programas e a tela dos vídeos passa a comandar suas vidas; elas não têm mais vida própria, não sonham, não acalentam esperança, nem têm imaginação para colorir suas vidas. Ficam alienadas. Os professores enfrentam este problema em sala de aula com o celular dos alunos….
Interessante ressaltar que o espírito de caridade existe naturalmente na criança. Ela é altruísta por natureza. A medida que cresce, por causa da cultura, ela vai se distanciando desse sentimento. Ela pode ser despertada para o valor de sua colaboração em um trabalho de grupo onde se sentirá útil dentro de um projeto coletivo. Se ela está emocionalmente educada apresenta maior capacidade de empatia e habilidade para resolver problemas de relacionamentos.
Os pais e professores podem estimular mais atividades ao ar livre e momentos descontraídos de arte, como: desenhar, pintar, ler, ouvir música, dançar, faze r escultura, dobradura, cantar, declamar, observar o tempo pela janela que é um quadro vivo e aproveitar todo o encanto e a magia que a infância oferece.
Uma questão importante é ensinar a criança a relaxar pois seus enrijecimentos musculares são comuns nesta fase, ela reclama de dor de cabeça, de barriga, cansaço, irritação, mau humor. Para atenuar estas tensões o adulto precisa orientá-la a descontrair pois o relaxamento provoca repouso e calma interior, mais harmonia e equilíbrio diante das exigências da vida.
A respiração superficial reduz o equilíbrio do corpo e da mente. Ensiná-la a relaxar através da respiração, fazendo isto de forma consciente: inspirar profundamente pelo nariz, encher os pulmões, alargar o diafragma, segurar a respiração, expirar, soltar o ar pela boca suavemente: repetir o exercício várias vezes. Esta ação inunda a criança de novas energias e de paz. Ao se exercitar dessa forma consciente ela vai se autoconhecendo, ajudando seu organismo a se harmonizar e se abrindo a novos aprendizados. Este exercício pode ser utilizado como experiência gostosa de encher balões e esvaziá-los, várias vezes, explicando que nosso pulmão é como o balão. A respiração é um aspecto importante da consciência corporal.
É normal que as crianças sofram de ansiedade sempre que tiverem de enfrentar situações novas. Se estiverem treinadas, saberão respirar profundamente e expulsarão a ansiedade, sentirão bons pensamentos que irão proporcionar a sensação da segurança e equilíbrio emocional e físico.
Conter a respiração é um mecanismo natural de defesa e expressa os estados emocionais que revelam ansiedade, temor de algum perigo, insegurança. A respiração deficiente gera sentimentos de derrota, impotência e medo. Respirar é oxigenar o cérebro. Ao respirar pouco, por expectativa de alguma coisa ou medo, o cérebro recebe pouca oxigenação, por consequência, vem apatia, desatenção e insegurança. Se a respiração ofertar grande quantidade de oxigênio ao cérebro somos induzidos a agir e reagir.
A raiva acelera a respiração, o medo paralisa, há bloqueio da ação, o corpo paralisa. Ao contrário, os estados de tranquilidade provocam uma respiração mais profunda, resultando em serenidade e paz.
Na escola, o exercício ritmado da respiração no grupo de alunos, em sala de aula, ajuda a estabelecer o contato emocional entre todos, de forma descontraída, despertando a criatividade e a camaradagem. Todos, a partir daí, vão se envolver na proposta de atividade do professor.
Nossa reflexão sobre a questão do valor do brincar e do ensinar a criança a descontrair tem por objetivo destacar a grande importância na vida do ser humano da fase infantil. A criança de hoje que é amada, protegida, nutrida, orientada, respeitada nos seus direitos vai desenvolver os sentimentos da afetividade, da harmonia, da saúde e do discernimento que lhe tornarão uma pessoa emocionalmente equilibrada e feliz no futuro, sua vida será plena de sentido. Que bom se tivermos contribuído para que isto aconteça.
Autora: Gládis Pedersen de Oliveira