Os generais e os estudos acadêmicos que aprendam mais com a vida,
com a literatura, com o jornalismo, a arte, as avós, as tias e as mães.
Eu exalto sim as avós e as mães que sobrevivem sozinhas e
asseguram a sobrevivência dos netos e dos filhos com bravura.

 

Há uns 10 anos, fiz uma das reportagens que mais me gratificaram. Conversei com cinco mulheres da periferia de Porto Alegre. Todas sem homem em casa, sem marido, sem companheiro, sem namorado. Só elas e os filhos pequenos.

Cada uma ganhou uma página de Zero Hora. Eram Cinco Retratos de Mães Coragem. Tentei mostrar a cara que as estatísticas não mostram. Entrei nas casas em que as mulheres chefes de família fazem a gestão da educação, da comida, dos sonhos e das fomes.

Me lembrei disso agora depois da fala desse general que põe a culpa da criminalidade nas avós e nas mães. Procurei minha reportagem na internet e não encontrei.

Mas achei um estudo que esculhamba com a reportagem. O estudo dito acadêmico diz que eu tentei particularizar histórias de mães (e assim exaltei demais a ‘maternidade’), quando deveria ter exaltado o sentimento coletivo da luta pela superação etc etc.

É na linha da abordagem pretensamente esquerdista que desconsidera sempre o particular, inclusive no jornalismo. Quando é disso que o melhor jornalismo vive desde os anos 50.

Conta-se uma história para enxergar um contexto. É antigo como a Bíblia. Foi o que tentei fazer ao ouvir mulheres pobres e saber de suas vivências e realidades. Sustentei o texto numa apresentação em que faço referência a dados sobre a situação das mulheres que assumem tudo e levam a vida adiante.

Um terço dos lares brasileiros é chefiado por mulheres. São quase 30 milhões de lares. Eu fui criado por mulheres, por uma avó, a vó Nina, uma mãe, a mãe Nora, e minhas tias, Zina e Herondina.

Eu sei do que falo. Eu exalto sim as avós e as mães que sobrevivem sozinhas e asseguram a sobrevivência dos netos e dos filhos com bravura.

Os generais e os estudos acadêmicos que aprendam mais com a vida, com a literatura, com o jornalismo, a arte, as avós, as tias e as mães.

A direita e boa parte das esquerdas precisam aprender muito com as mulheres.

Ao criticar famílias chefiadas por mulheres, o general Mourão, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, provocou reações como a do escritor Marcelo Rubens Paiva. Ele foi criado pela mãe e pela vó porque o pai foi morto pela ditadura. A manifestação grosseira do general é o tema do comentário de José Lopez Feijóo.

 

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