Elas crescem tendo que aprender tudo sozinhas sobre as suas emoções e sentimentos. Pouco nos preocupamos com o que as crianças sentem em relação a nós e as coisas ao seu redor.
Casimiro de Abreu, poeta brasileiro, escreveu um lindo poema para crianças intitulado “Meus oito anos” e nos seus bonitos versos ele nos diz “Como são belos os dias / Do despontar da existência! / – Respira a alma inocência / Como perfumes a flor;” que a inocência da criança possa ser respeitada e amada no seu jeito de ser sem querermos mostrar para elas como gostaríamos que fossem dizendo-lhes “veja como o seu amiguinho é comportado. Seja igual a ele.” As crianças têm as suas individualidades, também.
Falar de criança é sempre como um voltar à infância e brincar de amarelinha ou ciranda com os meus amiguinhos. É nunca deixar de ser criança para as coisas mais sérias que a vida nos desafia e nem sempre estamos preparados para lidar com elas. São tensões e sentimentos que nos tomam a alma e ficamos sem saber o que fazer.
Se para nós adultos essa correria da vida contemporânea nos provoca sentimentos e emoções que não temos a menor ideia de como conviver com eles imagine para as nossas crianças. Quando chegamos na idade adulta todos acham que devemos estar preparados para enfrentar os nossos medos e tristezas, as decepções e ingratidões que muitos nos provocam, mas não é assim.
Nunca estaremos preparados para perdas, principalmente se essas são de parentes próximos ou amigos que tanto amávamos. Choramos feito crianças. Ficamos tristes e questionando a vida. É um voltar a tenra idade de forma metafórica com emoções que vão tomando conta da gente sem nos deixar respirar um pouco de alívio de tantas explosões de sentimentos que nunca sentimos antes.
Ficamos assustados com emoções fortes que nos pegam quando acontece algo de surpresa. Isso porque não nos foi ensinado a nos conhecermos bem e sim conhecermos a parte artificial do mundo ao nosso redor. O famoso ensinamento de Sócrates “conhece-te a ti mesmo” não está sendo ensinado às crianças em casa e nem nas escolas.
Elas crescem tendo que aprender tudo sozinhas sobre as suas emoções e sentimentos. Pouco nos preocupamos com o que as crianças sentem em relação a nós e as coisas ao seu redor. Sabemos que logo a raiva e o medo passarão, que é coisa boba, coisa de criança que não precisa se preocupar muito. E isso vai se passando até chegar na fase adulta.
Não temos ideia de como lidar com a raiva de uma criança.
Sim, porque criança também tem o direito de ter raiva, de bater o pé e dizer que não quer isto ou aquilo, de ficar de cara fechada e de se negar a falar com alguém. Criança tem todo o direito de dizer não quando sentir vontade. A verdade é que não estamos preparados para enfrentar essas raivas. Como nos achamos “donos” da criança queremos que aja sempre conforme desejamos.
A raiva da criança é sempre vista como algo desafiador ao adulto, uma peraltice, uma birra ou muito mimo como se a criança não precisasse ser paparicada por nós com as suas bonitezas que desabrocham todos os dias ao alcance dos nossos olhos e nem nos damos conta dessas coisas lindas. Toda criança tem o direito de ter raiva e ficar abusada o tempo que quiser. Como tem o direito também de não aceitar o que nós, adultos tiranos, queremos lhes impor.
Imagine você com raiva no meio de uma reunião de trabalho. Muitas vezes acaba explodindo diante do seu chefe que não lhe compreende, que não aceita as suas ideias e sugestões. Assim são as crianças no meio de uma reunião familiar. Elas não querem apenas abraços, beijos e carinhos. Elas querem ser ouvidas, elas querem poder dizer não na hora que acharem vontade e ficar com raiva de você ou daquele parente chato que costuma beliscar as suas bochechas com perguntas bobas.
As crianças de hoje têm uma aprendizagem mais rápida devido o contato com outros meios de informação e mais pessoas do que as de antigamente.
Da mesma forma é a criança que sente medo. Todos nós temos medo de alguma coisa. Não adianta obrigar a criança a dormir no escuro e não querer que ela chore por isso. Para muitas delas a escuridão é assustadora. Se permita deixar o abajur aceso até a criança adormecer ou uma meia-luz ligada.
Não obrigue a sua criança a enfrentar um medo que ela nem sabe como conceituar. O medo é uma coisa terrível para os seres humanos.
Não ache que só porque o seu filho é um menino que ele vai se tornar um “homenzinho” logo e precisa enfrentar o medo sozinho. Essa história de que homem não sente medo não existe mais. E as coisas não são assim como as pessoas costumam dizer hoje em dia “se der medo vai com medo mesmo”.
Ninguém consegue sair do lugar quando sente medo. É preciso ajuda alheia. É preciso que os pais saibam cuidar das suas crianças enquanto elas não começam a materializar esse medo em forma de xixi na cama no meio da noite ou dores de cabeça, febre e outros sintomas físicos que logo se apresentam.
O contrário acontece com uma das emoções que mais apreciamos nas nossas crianças que é a alegria. Sim, na alegria todos compreendemos e achamos bonito os sorrisos e gritinhos que as crianças dão pela casa correndo de um lado para o outro. Ficamos contentes ao ver que elas estão crescendo felizes e cheias de energia. Com isso, não nos preocupamos em saber delas o que estão sentindo em relação a forma como as tratamos e como estão sendo tratadas pelas pessoas próximas.
A criança não guarda rancores igual aos adultos. Ela tem a ingenuidade e a imaturidade em relação as experiências dolorosas que vive. Não é que ela esqueça as coisas difíceis e as incompreensões que sofre. Está tudo guardado dentro do seu pequeno espírito e pode aflorar a qualquer momento. Essas coisas saem do instante presente para se apresentarem em qualquer outra fase da vida em forma de sintomas físicos e emocionais.
Se a criança fica encantada com algo que você não gosta não a proíba de sentir essa emoção. Deixe-a viver completamente. Apenas interfira se for algo ruim ou que lhe cause mal. Senão deixe que ela decida se vai continuar encantada ou não pela pessoa ou pela coisa ao seu redor. Na infância surgem muitos encantamentos.
Uma criança que sorrir e demonstra alegria também pode sentir-se desprotegida, muitas vezes incompreendida pelos seus pais e professores. Está ali brincando sorridente não significa que ela não precisa de menos cuidado que as outras. A alegria é momentânea. Ela também tem as suas dores e dúvidas. Quando tomamos dela algo que gosta ou negamos-lhe alguma coisa logo vai desencadear uma outra emoção que é a raiva e por isso nem sempre a alegria é sinal de felicidade plena na criança.
Para muitos pais deixar as crianças brincarem e estudarem sem muitas cobranças e que elas possam fazer o que bem gostarem está tudo bem. Não terão preocupações se permitirem que as crianças façam tudo o que bem quiserem. Afinal, é só coisa de criança. Seus filhos crescerão fortes e saudáveis, sem traumas e medos na vida adulta. Estão enganados os pais que pensam assim.
Toda criança precisa de limites e de ser ouvida. Por mais que tenha a liberdade de fazer tudo o que quiser vai chegar um momento em sua vida que ela vai necessitar aprender a lidar com as perdas, a saudade, a distância, as mudanças e, principalmente, a separação dos pais. Se as suas emoções não foram bem trabalhadas não saberá como enfrentar isso tudo. Poderá tornar-se uma criança ansiosa ou desenvolver a depressão.
Uma das emoções mais difíceis de lidar para nós adultos é o desprezo. Quando somos desprezados por quem mais amávamos sofremos bastante porque não fomos preparados para essa dor terrível. Na criança essa emoção se multiplica cem vezes mais. Ela não consegue entender por que foi largada na rua ou por que os pais não lhes dão atenção.
Ensine seu filho a lidar com as emoções • Casule Saúde e Bem-estar. Assista: https://youtu.be/iDaAU2i2yyw?t=52
Sentir-se desprezada por aqueles que deveriam cuidar e nos amar. Ser largada aos cuidados de pessoas estranhas o dia inteiro. Nunca ter o carinho dos pais porque estão sempre ocupados. Só os ver nos fins de semana e muito raramente. Não ter alguém de confiança para contar os seus segredos e sentimentos. Sentir-se sozinha no mundo como muitas crianças se sentem. Eu mesma já ouvi uma criança me dizer que se sentia sozinha e que era doloroso se sentir assim.
Uma outra emoção que precisamos trabalhar com as crianças é a surpresa. Não estamos preparados para perdas repentinas ou para mudanças. Quando nos surpreendemos com alguma coisa tendemos a ficar desconfiados. A surpresa quando é boa causa alegria, mas quando ela assusta a criança tirando-a da sua zona de conforto é necessário que se fale sobre ela.
No mundo contemporâneo somos surpreendidos todos os dias com notícias dolorosas, mudanças de endereços dos nossos pais que foram transferidos para trabalharem em outras cidades, mudanças de escolas, distanciamento dos avós e dos amiguinhos. Também podem ocorrer surpresas com o adoecimento ou a perda de um animal doméstico. Os pais devem saber o que fazer com os seus filhos nestes momentos inesperados.
As crianças nos oferecem surpresas todos os dias. Com o crescimento elas vão descobrindo coisas maravilhosas. E mais agora com o uso de aparelhos eletrônicos elas estão crescendo e desenvolvendo o pensamento mais rapidamente. As surpresas surgem de si mesmas e do mundo exterior. Estamos rodeadas por surpresas boas e ruins. O importante é que saibamos educar a criança para o momento do inesperado.
Algumas emoções são difíceis de serem compreendidas pelas crianças e nem todo adulto sabe como lidar com elas. O bom seria que estivéssemos sempre atentos no desenvolvimento das nossas crianças. Que lhes déssemos um pouco de atenção todos os dias mesmo por poucos minutos. As exigências desse nosso novo mundo são grandes demais. Não podemos perder, não podemos chorar em público, não podemos demonstrar fraquezas ou medo. São cobranças que vêm de todos os lados.
A criança está o tempo todo competindo consigo nos mais diferentes sentimentos. Tem que fazer a lição de casa escolar, ir para aula de idiomas, depois praticar o esporte e por último estudar para uma olímpiada que participará em breve. São muitas cobranças que fazemos cedo demais às nossas crianças.
Habilidades socioemocionais em crianças! Assista: https://youtu.be/xLUTQ_4AHd8?t=59
Quando se sentem exageradamente cobradas as crianças não sabem o que fazer porque nos seus pequenos mundos gostariam de apenas brincar e estudar. Mas, os pais querem que elas sejam as melhores em tudo. Desde cedo as nossas crianças já vão para escola pensando no que serão mais tarde. Damos para elas profissões difíceis e que exigem competitividades junto aos amigos.
O amiguinho que deveria ser amado passa a ser visto como um adversário que precisa ser vencido. A criança não entende por que o seu amiguinho é melhor do que ela nas notas escolares da escola e começa a sentir tristeza. Também pode desencadear aversão pelo amiguinho que é outra emoção nada legal que podemos sentir ao logo da nossa infância.
Uma das emoções mais bonitas encontradas na criança e que é extremamente sincera é o afeto. Se soubéssemos aproveitar esta emoção para aprendermos com ela a como amar as pessoas ao nosso redor do jeito que ela nos ama talvez sofrêssemos menos.
O afeto das crianças é verdadeiro, sincero, ela se doa por inteiro.
Ela aprende a amar os seus pais desde os primeiros dias de vida, depois vai aprendendo a amar quem lhe dá carinho e atenção. Com o tempo ela passa a amar as pessoas com as quais mais convive. Um afeto despido de qualquer interesse ou coisa parecida. Ela ama simplesmente por amar. Ela ama porque se sente querida e respeitada naquele lar e por todos.
Vejamos o exemplo do menino que ama uma árvore no livro “A árvore generosa” do escritor Shel Silverstein. Um clássico da literatura infantil. O menino ama tanto a árvore que pede tudo para ela porque confia que ela vai lhe dar tudo o que pedir e a árvore em troca por amar tanto o menino faz de tudo para atender os seus pedidos até que vai se desfolhando aos poucos quando o menino sem compreender direito começa a fazer pedidos difíceis e que ela não sabe como atender. Assim são as crianças quando nos amam, elas nos pedem coisas intrigantes e muitas vezes que não podemos lhes oferecer.
Devemos conversar sempre com elas sobre os seus pedidos para que não percam o amor pela gente ou fiquem desconfiadas de que não estamos lhes dando o que pedem porque não queremos. O amor deve ser sincero um para com o outro.
Já pensou se a árvore se rebela contra o menino e lhe diz um monte de coisas desagradáveis ou se ela deixa de amá-lo? O que o menino sentiria? A árvore prefere morrer a machucar o menino. É assim quando amamos, ou seja, nunca machucamos quem amamos verdadeiramente.
A criança que se sente acolhida e amada dificilmente terá problemas emocionais. No seu pequeno mundo tudo se apresenta de maneira correta e o seu imaginário será povoado por personagens felizes e sempre cheios de vontade de ajudar uns aos outros. Assim como ela é tratada quando precisa de ajuda. O afeto é uma das emoções mais bonitas de sentirmos.
Para amar incondicionalmente a criança precisa sentir outra emoção bastante significativa ao seu amadurecimento que é a confiança. Esta emoção que está tão difícil de encontrarmos nas pessoas grandes hoje em dia. Mas, a criança confia nos pais e em quem lhe dá carinho, por isso temos que ter cuidados com certos estranhos que se aproximam delas oferecendo-lhes presentes e um mundo perfeito.
A criança que sente confiança nos seus pais e responsáveis poderá falar sobre os seus sentimentos e até mesmo contar as suas coisas mais íntimas para um adulto. Ela sabe que não será julgada e nem castigada se abrir o seu coração porque quem está ali do seu lado merece a sua confiança. Lembrando que o afeto só se torna verdadeiro quando a criança confia em você. Afeto e confiança são duas emoções que andam juntas. Não adianta dá amor e não confiar na criança ou não passar confiança para ela.
Precisamos nos acostumar com a ideia de que uma criança não é uma máquina programada para se comportar do jeito que desejamos. Muitas são completamente diferentes do que gostaríamos que fossem. Elas se rebelam, quebram as coisas, fazem birras, chutam o pau da barraca, gritam, xingam e até mesmo mordem quando perdem o controle das suas emoções. Isso ocorre principalmente nas crianças que não se sentem completamente amadas pelos seus pais.
Você pode dizer que ama o seu filho verdadeiramente, mas será que o compreende? Será que na hora da sua raiva você não grita ou faz medo para o seu filho? Será que na hora da raiva você não o castiga ou bate nele? Na hora da raiva devemos controlar as nossas emoções para saber o que fazer com aquela rebeldia que a criança apresenta.
Cito para vocês um exemplo próximo de mim. Convivo diariamente com uma menininha de três anos de idade que a sua mãe diz amá-la de todo coração, mas sempre que essa menininha faz algo de errado que roube a paciência da mãe acaba recebendo gritos e puxões de orelhas. A menininha é muito carinhosa e pede desculpas para a mãe pelos seus erros. Aos três anos ela já aprendeu o que é pedir desculpas, mesmo que não saiba direito esse conceito ou talvez esteja imitando o que viu alguém fazer.
Será que essa mãe está sabendo lidar com as emoções da sua filha?
Quando a criança chora e quer ir brincar na rua recebe gritos e xingamentos. Não! Ela não pode brincar com os outros amiguinhos quando deseja. Somente vai brincar quando a sua mãe acha que é o momento. É assim sempre.
Nós adultos não respeitamos os desejos das crianças. Não as compreendemos, por isso muitas sofrem de problemas emocionais e estão lotando os consultórios psicológicos. No lugar de estarem em filas de psicólogos eram para estar brincando em praças e parques públicos correndo, pulando, se jogando no chão e sendo feliz sem medo daquele momento tão logo acabar.
O maior medo das nossas crianças é que as deixemos sozinhas um dia. Elas confiam tanto na gente que sabem não faremos isso, mas ao menor sinal de distância entram em desespero. A confiança na maioria das crianças nos seus pais é tão grande que quando eles as deixam em um determinado lugar elas gritam “eu quero a minha mãe” ou “eu quero o meu pai”. Elas vão sempre lembrar de quem ama e de quem lhes dar amor.
Existem outras emoções que podem ser discutidas pelos pais e professores das crianças. As que citei aqui são as mais importantes. Antes de julgar a sua criança ou se colocar como um tirano diante dela dê-lhe a oportunidade de poder mostrar o motivo pelo qual está agindo daquele jeito, chorar é a nossa primeira emoção de espanto diante do mundo e por isso o bebezinho é colocado nos braços da mãe para se acalmar. Continue acalmando a sua criança do mesmo jeito que fez na hora do seu parto.
Deixo vocês com o poema de Rosana Rios intitulado “Guarda-chuvas” que diz os seguintes versos “Tenho quatro guarda-chuvas / todos os quatro com defeito; / Um emperra quando abre, / outro não fecha direito. / Um deles vira ao contrário / seu eu abro sem ter cuidado. / Outro, então, solta as varetas / e fica todo amassado.”
Que possamos abrir o guarda-chuvas da infância com o cuidado necessário para que as emoções das nossas crianças sejam compreendidas e aceitas como expressões de quem deseja crescer sem ser amassado.
Autora: Rosângela Trajano
Edição: Alexsandro Rosset