As pestes

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Temos hoje várias pestes em uma só…
uma biológica, perigosa e outras cujo
mecanismo de transmissão é o mesmo
do século XIV, a ignorância.


O mundo já passou por vários surtos epidêmicos e, a proporção com que aconteceram, também resultou em impactos profundos na humanidade após esta crises.

A peste negra, difundida por ratos e suas pulgas contaminadas pelo Yersinia pestis, foi uma epidemia medieval que aconteceu nos idos de 1300 resultou em extermínio em massa da população. Estima-se em até 200 milhões de mortes.

Durante muito tempo, a Peste foi perpetuada pela limitação intelectual da época. Daniel Defoe, famoso por Robinson Crusoé, produziu um livro chamado “Um diário do ano da peste”, escrito em 1722, nos conta que os ingleses mastigavam fumo ou amarravam noz-moscada no pescoço além de acreditar que aquele surto seria um castigo de Deus. O livro ainda destaca narrativas dos aproveitadores, daqueles que tem interesses escusos por trás da realidade.

Logo em seguida, a transmissão do rato (por meio da pulga), esta virose passava a ser transmitida pessoa para pessoas através de secreções respiratórias. Sua solução portanto, exigia ações coordenadas, não adiantava eu resolver meu problema se o vizinho não mantivesse condições adequadas em uma fase da história sem educação, luz, agua abundante e muito menos saneantes comprados no mercado.

O que estamos vendo agora é a mesmo quadro, um doença que cursa tal qual uma gripe mas que vitima por volume de pessoas contaminadas. A solução não seria diferente… cooperação, o que seria também fácil passados dois mil anos do nascimento de Cristo.

Acontece que nós retornamos muitos anos, décadas e talvez séculos de uns tempos para agora. Com isso, surgiram admiradores de ratos e suas pulgas contaminadas e até mesmo defensores de fantasias e condutas preconizadas por psicopatas poderosos tal qual 1722.

Aqui é preciso separar a subjetividade política da realidade científica. É bem possível que muitos estejam utilizando a situação para uso político? A resposta é óbvia. Confirmando ou negando esta hipótese, qualquer uma das respostas não possui qualquer impacto sobre o problema real, basta entrar no site de qualquer empresa de comunicação mundial para avaliarmos a dimensão exata do problema.

Colocar uma enfermeira italiana chorando pode ser útil politicamente mas também precisamos prestar atenção no conteúdo da fala. Ela pode está sendo usada para interesses terceiros, mas mantém os interesses primários de descrever o fenômeno vocalizado.

Não há soluções simples. Na verdade, estamos muito próximo a termos que escolher entre mantermos nosso distanciamento social radical ou alguma flexibilização com fins a manter a atividade econômica. Como sempre, precisaremos aliar parcimônia e velocidade.

Em tempos passados, tínhamos líderes de espectros ideológicos diversos, mas com inteligência suficiente para agir. Neste momento, nosso líder maior é alguém mais preocupado com a próxima eleição do que com o boletim epidemiológico da COVID19.

Em epidemias, a ação concatenada institucional é fundamental e naturalmente surgem líderes que eventualmente não estavam no status quo. E a sensibilidade do líder preocupado com a solução do problema seria potencializar os mais aptos… mas o que nosso líder fez? Inicialmente negou o problema… e quando o problema se mostrou inegável, simplificou…quando ele tomou proporções maiores, derrubou o líder e seus discípulos.

Não há nenhuma chance de não passarmos por esta guerra. A questão é se todos vamos estar ao final de tudo isso, quem de nós ou dos nossos pode tombar nesta guerra? E as vítimas serão pela gravidade da doença ou porque um jovem que tinha uma forma benigna da doença que, ao negá-la, repassou-a com alguma conduta irresponsável?

Temos várias pestes em uma só… uma biológica, perigosa e outras cujo mecanismo de transmissão é o mesmo do século XIV, a ignorância. Naqueles tempo as luzes do conhecimento se materializaram na racionalidade, na Ciência e no Renascimento.

Fique em casa, lave as mãos porque todos precisamos seguir para ver o que vem pela frente.

Médico Sanitarista, mestre em epidemiologia, Secretário Municipal de Saúde de Passo Fundo de 2013 a 2017. Atualmente, coordenador do Curso de Medicina da IMED.

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