Sou ateu por acreditar que este mundo terrivelmente triste,
somente será belo quando a humanidade, sem nenhuma culpa
ou medo do “pecado”, assumir sua responsabilidade histórica com
a vida enquanto agente social materializado in loco e não entregar
nosso destino nas mãos de um ser onipresente que deve fazer
por nós aquilo que nossa covardia nos impede de fazer.

 

Antes de prosseguir, deixo claro meu respeito as nossas idiossincrasias. Sou ateu convicto e praticante. Tenho motivos racionais para, feita a depuração, ter conseguido superar lenda cultural-histórica-milenar criada pelo homo sapiens objetivando aliená-lo materialmente, espiritualmente e socialmente. Sou ateu por ser adulto, militante social e, sobretudo, historiador.

Penso que a ideia subjetiva de existir um ser onipresente, onipotente, onisciente é uma construção ideológica a – científica, consciente, radical, danosa, construída e sustentada tradicionalmente pelo homem e dissociada da realidade material objetiva.

Uma ideologia parida pelo fracasso da humanidade em compreender sua própria responsabilidade histórica enquanto agente social materializado nas formas de sociedades existentes em antanho e contemporânea.

Um instrumento acomodativo das forças sociais negador da nossa responsabilidade com o devir histórico. Limitador da ação prática individual e coletiva. Haxixe ilusório impositivo pela ideologia secular teocrática de obediência servil do homo sapiens a um ente superior que ama a humanidade, mas insiste em mantê-la na dor, sofrimento, tristeza, miséria carnal e espiritual.

Alimenta-se da aceitação passiva e inquestionável do dogma teocrático. Assassina violentamente o pensamento crítico. Ideologia criminosa. Tanto que obriga o senso comum a acreditar e defender, de forma ignorante e infantil, a parição de mulher virgem e a existência de uma cobra falante.

Nega que o homem tem o dever e a obrigação de lutar pela sua liberdade plena, individual e coletiva. Orienta-o a submissão e rendição em vida. Lança-o num mundo culposo cercado de pecados podadores do prazer humano. Impõe libertação somente a partir da aceitação da culpabilidade e conseqüente penitência corretora do “pecado” cometido.

É uma ideologia Intolerante e, sobretudo, ignorante. Não argumenta. Reproduz ipsis litteris o conteúdo existente no best seller orientador considerado sagrado. A humanidade só será plenamente feliz através da revelação.

A Revelação só é possível após desmaterialização terrena. No julgamento final ele, o onipresente decidirá se determinado ser viverá num paraíso sem injustiças sociais ou não. Para passar a eternidade ouvindo monótonos seres angelicais tocando harpas irritantes deve ter, em vida, agido de acordo com os lendários ensinamentos divinos.

Do contrário, se confrontar a ordem social vigente, se desenvolveu racionalidade crítica, se questionar dogmas eclesiásticos e, sobretudo, for ativista social praticante e ateu sofrerá ad infinitum no inferno.

Sou ateu por acreditar que tal construção ideológica ininteligível mata o homem em vida. Sou ateu por ter convicção de que o homem, somente ele, livre de ideias infantis e ingênuas, através da ação prática pode construir um mundo mais feliz, livre, pleno, fraterno, justo, solidário, coletivo, respeitoso, sem miséria, tristeza ou dor nesta vida e não além-vida.

Sou ateu por ser lutador libertário. Sou ateu por acreditar que o opressor não é invisível e está materializado entre nós. Somente nos oprime por encontrar entre os oprimidos defensores da sua política opressora.

Sou ateu por acreditar que o libertário também não é invisível e não dependemos dele para viver a vida na sua plenitude.

Sou ateu por ter consciência que a única forma de melhorar a minha qualidade de vida e de meus semelhantes é combatendo ativamente as políticas dos opressores (banqueiros, latifundiários, grandes empresários) e suas ramificações atuantes (empreiteiros, mineradores, madeireiros, indústria da pesca predatória, petrolífera…) porque são destruidoras do planeta e das esperanças do povo.

Sou ateu por acreditar que este mundo terrivelmente triste, somente será belo quando a humanidade, sem nenhuma culpa ou medo do “pecado”, assumir sua responsabilidade histórica com a vida enquanto agente social materializado in loco e não entregar nosso destino nas mãos de um ser onipresente que deve fazer por nós aquilo que nossa covardia nos impede de fazer.

 

“Não é seu papel julgar as pessoas. Só teremos paz no mundo quando aprendermos a respeitar as convicções dos outros. A cada um será dado conforme seus atos, não conforme suas crenças”. (jovem Guilherme Oss, em vídeo Ateísmo e liberdade de crença).

 

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