As palavras, ditas, recitadas e destacadas em contextos próprios podem nos tornar seres humanos melhores. As palavras ditas e anunciadas através de poesias, de contos e de histórias mexem com as nossas sensibilidades e sempre são capazes de promover na gente os mais nobres sentimentos e perspectivas de vida mais leve, livre e solta.
Testemunho e acompanho, há três anos, como pai de uma das crianças que participa do Bandinho de Letras da UPF (Universidade de Passo Fundo), o quanto o estímulo e o despertar do gosto e prazer pela leitura e literatura fazem diferença na formação integral e socializadora das crianças que dele participam. A sintonia e o entrosamento com o Bando de Letras (cujo público são estudantes do ensino médio e ensino superior) é muito importante para o crescimento e desenvolvimento das crianças, pois os adultos são os espelhos e as referências das aprendizagens mais complexas.
Acredito, sobretudo, no poder humanizante das palavras. As palavras, ditas, recitadas e destacadas em contextos próprios podem nos tornar seres humanos melhores. As palavras ditas e anunciadas através de poesias, de contos e de histórias mexem com as nossas sensibilidades e sempre são capazes de promover na gente os mais nobres sentimentos e perspectivas de vida mais leve, livre e solta.
A arte, por natureza, é transgressora, inquietante e revolucionária. Quanto feita, vivida e apresentada por crianças, torna-se ainda mais interessante. As crianças são mesmo as melhores porta-vozes da poesia e da magia da vida que sempre se anuncia. Conviver com crianças e com professores e professoras que apostam no poder das poesias, dos contos e das belas histórias é dar mais sentido à nossa existência e também à nossa profissão.
O início de tudo…
A mágica da surpresa, do repentino, do inesperado, só não encantava mais do que o espetáculo que era apresentado pelo bando de alunos do curso de Letras que invadia as salas da Universidade de Passo Fundo (UPF). De repente, a aula teórica de um curso qualquer se tornava um espaço de estímulo à leitura literária. Isso iniciou há 20 anos, tendo, nos primeiros 15, ocorrido de modo informal, com apresentações e intervenções do Bando de Letras, que, em 2010, recebeu caráter institucional e tornou-se um Projeto de Extensão da UPF.
Desde sua fundação, o Bando de Letras foi acompanhado de perto pelo professor Eládio Weschenfelder. “Como professor de Literatura da UPF, componente da equipe organizadora das Jornadas de Literatura, membro do PROLER, do Pró-leitura, do projeto Autor Presente, dentre outros eventos em favor da promoção da leitura, pude acompanhar de perto o nascimento do Bando de Letras, seus desdobramentos e ações na comunidade acadêmica e na comunidade externa, especialmente nos meios de comunicação”, conta o docente, destacando que outros professores também incentivaram e acompanharam o Bando de Letras, ainda quando era realizado informalmente.
Há 20 anos
De acordo com o professor Eládio, o Bando de Letras surgiu como um desdobramento positivo das Jornadas Literárias e outros eventos relacionados aos projetos de estímulos às múltiplas leituras, especialmente as literárias. “Imagino que os encantamentos suscitados pelos contadores de histórias e dizedores de poemas como Eliana Yunes, Marina Colasanti, Fernando Lébeis, Gregório Filho, dentre tantos outros, tenham motivados os alunos a criarem um grupo de contadores de histórias e dizedores de poemas na UPF, mais propriamente no curso de Letras, onde encontraram terra fértil para se estabelecerem”, avalia.
O propósito dos alunos, segundo ele, foi criar um espaço alternativo de estímulo de leitura literária no curso de Letras, sendo uma alternativa de preencher o espaço acadêmico formal e demasiadamente teórico. A partir das apresentações não programadas e não liberadas, cerca de meia dúzia de alunos invadia as salas de aula, interrompendo abruptamente a aula que estava sendo ministrada, à luz de velas, lampeões ou focos, para fins de contar histórias e dizer poemas. “Os alunos adoravam. Alguns professores protestaram, alegando que suas aulas estavam sendo interrompidas por um ‘bando de alunos do curso de Letras’, prejudicando o conteúdo. Daí o nome Bando de Letras. Isso foi lá pelos meados de 1996”, relembra Eládio.
Os primeiros membros do Bando de Letras foram os alunos Alexandra Borin, Bárbara Rohde, Claudiléia Batistella, Clodoaldo Casagrande, Douglas Pereto, Jocelene Trentin, Paulo Henrique Amaral, Roberta Ciocari e Roberta Salinet. Antes das aulas e nos finas de semana, eles se reuniam para fazer a seleção dos textos, memorizá-los e planejar as ações e os lugares a serem invadidos, tais como rádio, televisão, clube de serviço, biblioteca, evento acadêmico e salas de aulas de outros cursos, especialmente os lotados no IFCH, como Filosofia, Psicologia e História. “Às vezes, os saraus eram realizados nas escadarias do prédio, nos corredores e na entrada, inclusive nas e sob as árvores próximas ao prédio. Um verdadeiro espetáculo pensado, mas não avisado com antecedência. Muitos foram seus seguidores a partir de então”, esclarece o professor.
As marcas dos 20 anos
Na opinião de Eládio, o Bando de Letras tornou-se referência de estímulo à leitura de textos literários, especialmente poemas e contos e, há 20 anos, é admirado pela promoção ao gosto pela leitura de crianças, jovens e adultos, não importando o espaço, a idade, o nível cultural. “São incontáveis as idas dos Bando de Letras a hospitais, escolas, bibliotecas, eventos acadêmicos, rádios e TVs, sempre levando a importância da leitura à formação de cidadãos. Todas as apresentações do Bando são especiais, pois são preparadas com dedicação voluntária de muitos participantes”, destaca, informando que, além de alunos do curso de Letras, participam do projeto acadêmicos de outros cursos de graduação, alunos de ensino médio do Integrado UPF e uma funcionária.
Bandinho de Letras
Originário do Bando de Letras, o projeto do Bandinho de Letras foi criado em 2011, abrindo espaço à comunidade externa, ofertando às crianças e a seus pais a oportunidade de participarem de um grupo artístico que promove a cultura da leitura, permitindo que também contem histórias e digam poemas a quem tiver o coração aberto.
“Contar histórias e dizer poemas é um gesto de amor a quem se conta, além de suscitar prazer e alegria a quem as conta”, define o professor Eládio.
Compõem o Bandinho de Letras 10 crianças de 8 a 12 anos, que se reúnem a cada 15 dias no Mundo da Leitura para selecionar leituras, memorizar textos de forma lúdica para serem ditos a quaisquer públicos. “Sabe-se que uma criança leitora é uma potencial leitora no futuro. Se o futuro pertence às crianças, por que não formar crianças leitoras e, consequentemente contadoras de histórias?”, aponta ele, destacando que alguns pais e funcionários da UPF também participam voluntariamente do Bandinho de Letras. “Não há quem não se emocione diante de um grupo de crianças que contam histórias. O Bandinho de Letras, no fundo, constitui uma prática leitora construindo pontes para ligar textos aos leitores. É mágico”, celebra.
Sarau “Pausa Poética”
Fonte do histórico e crédito das fotos: Assessoria de imprensa da Universidade de Passo Fundo (UPF).