Bolsonaro na Onu

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Para experimentados diplomata,
o presidente perdeu a última chance
de ser respeitado no exterior.

O discurso de Bolsonaro nas Nações Unidas foi marcado pela lenga lenga que seus seguidores usam diariamente nas redes sociais. Isto é, intolerância e digressões retóricas confusas. Levou para a tribuna seu delírio ideológico contra o comunismo, ideologia de gênero, ambientalismo e indigenismo, além, do fundamentalismo evangélico. Só faltou o gesto da arminha.

Como legítimo representante do populismo autoritário de extrema-direita, Bolsonaro mostrou ao mundo que em sua visão limitada não cabe espaço para a proteção dos direitos das minorias ou a promoção do bem-estar humano.

Subestima a ciência, o mercado de ideias, inclusive a liberdade de expressão, a diversidade de opinião e a verificação factual de alegações que servem a seus próprios interesses.

Teve o descaramento de afirmar que seu governo “protege as florestas”, quando se sabe que o desmatamento quase dobrou desde a sua chegada ao poder em janeiro, a um ritmo de 110 campos de futebol por hora. Disse que o Brasil usa apenas 8% do seu território para produção de alimentos. E a área usada pela pecuária? A ONU “comunista”, mostra que alcança 28,2%.

Estufou o peito para afirmar “nossa soberania”, esquecendo-se que cumpre ordens de Donald Trump, em um processo de hiperentreguismo e subalternidade completa.

Mentiu ao dizer que, em 2013, o PT importou dez mil médicos de Cuba. Os jornais o desmascararam em minutos. No começo, foram apenas 391. Mais: que os médicos entraram no Brasil sem comprovação profissional. A lei exigiu diploma de curso superior. Quem vive de fakes não abandona a prática. Ah! Ainda se queixou que a mídia mundial espalha mentiras sobre o Brasil. Uau!!

Mostrou claramente que o seu populismo negligencia as limitações da natureza humana e despreza as instituições governadas por normas e controles constitucionais que limitam o poder de atores humanos defeituosos como ele.

Os ideais de tolerância, direitos iguais foram devidamente menosprezados pelo presidente brasileiro que escancarou sua hostilidade aos índios. Sua vítima foi o cacique Raoni, cotado para empalmar o Nobel da Paz.

Papa Francisco recebe índio Raoni, durante realização do Sínodo para Amazônia. Veja mais, clicando aqui.

Bolsonaro esqueceu que estava falando para uma plateia mundial e não para sua claque de alucinados seguidores, ou para seus vizinhos milicianos do condomínio da Barra da Tijuca.

Demonstrando que ainda vive no clima da Guerra Fria, dedicou boa parte de sua fala para atacar os “comunistas”, o “marxismo cultural”. Tenho certeza que boa parte da opinião pública mundial pensou estar diante de um clone latino-americano de segunda classe, do senador Joseph McCarthy, que nos anos 1950 promoveu uma cruzada contra os comunistas nos EUA.

A lógica do nós contra eles (imprensa, socialistas, colonialistas) predominou. Para experimentados diplomatas o presidente perdeu a última chance de ser respeitado no exterior. Outros, não tiveram dúvidas em afirmar que esta foi a pior abertura da Assembléia Geral da ONU em todos os tempos.

Enfim, foi um discurso marcado por teorias conspiratórias, delírios ideológicos, mentiras, raciocínio anedótico, fundamentalismo evangélico e demagogia rasteira.

Já a imagem do Brasil no exterior continua descendo a ladeira. Há, pelo menos, uma consolação. Nossa bandeira nunca será vermelha. Ufa!!

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