Quando leio nossos autores, fico a pensar: este texto será lido daqui a cem anos?
Muitos não me dão a certeza. Fabrício Bastos com seu “Caminho de cercas” me deu
esta convicção.
Foi a Vera Ione Molina que me passou o livro de Fabrício Bastos, Caminho de cercas. De cara, a capa (de Maria Bastos) me chama a atenção, uma foto de uma árvore quase solitária. Tons de cinza que me fazem pensar no conteúdo, antes da leitura, e depois também.
Um livro bem composto, pelo Prym da Editora Bestiário. Tem revisão da Vera Ione, com apresentação da Lélia Almeida, que dá a dimensão da profundidade grandeza do que vamos ler, por um autor leitor e exímio artista da palavra, um tanto machadiano. Já seria tudo isso muito bom, antes da leitura. E foi melhor ainda poder ler o texto de Ondina Fachel Leal que me leva a seu “Os gaúchos”. E Fabrício consegue nos falar de alguns deles e de outras personagens bem talhadas da urbe também.
Se me fosse dada a tarefa de compor os Melhores Contos Brasileiros eu já tinha certeza de incluir, é claro, Simões Lopes Neto e Darcy Azambuja (que poucos conhecem). Agora teria a certeza de colocar um do Fabrício Bastos, talvez demorasse na decisão entre Notícia do Campo ou Adágio.
Fabrício é um contista de mão cheia, e Caminho de cercas é um livro e tanto.
Fica difícil acrescentar algo mais, depois que você ler o que dizem dele a Lélia Almeida, consagrada contista e romancista, que conviveu com ele, e a Ondina Fachel Leal, que estudou e entendeu a alma do homem da pampa, da fronteira.
Também é necessário falar da narrativa, pois o autor mescla falas, “plausíveis realidades” com fantasias, sem medo de expor a alma, os desejos, os sentimentos das personagens que se sustentam na sua complexidade, imitando seres reais, porque as pessoas têm estes sentimentos todos que muitas vezes os autores não aliançam. Em alguns momentos, passagens me fizeram lembrar do Reynaldo Moura e seu Romance no Rio Grande.
Há contos no qual trata das relações familiares e de encontros que são um primor, pois, com sutilezas, com frases que mais soam um pensamento filosófico ou psicológico, vão mostrando o que somos, o que pensamos, o que pensamos e não expressamos.
Quando leio nossos autores, fico a pensar: este texto será lido daqui a cem anos? Muitos não me dão a certeza. Fabrício Bastos com seu “Caminho de cercas” me deu esta convicção.
Autor: Adeli Sell, professor, escritor e bacharel em Direito. Também escreveu “Areté, virtude, excelência.
https://www.neipies.com/arete-virtude-excelencia/
Edição: A. R.
Cyro Martins escreveu a Trilogia do Gaúcho a pé e Caminho de cercas me fez lembrar.