Carta aos professores flagelados pela enchente no RS: maio de 2024

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Queridos colegas educadores: muita paz!

Quem vos dirige a palavra é uma colega, atualmente aposentada do magistério estadual, mas que já completou bodas de ouro dando aulas.

Vocês não estão sozinhos ou solitários neste embate desafiante de verem suas coisas, tão importantes, serem levadas pela correnteza das águas, inclusive, para alguns também, terem entes queridos tragados pela voragem impetuosa dos rios. Há uma rede de vibrações positivas, de nossos pensamentos, carregadas de amor, carinho, levadas pelas correntes do éter que procura chegar em seus corações com mensagens inarticuladas de coragem, ânimo, fé e esperança.

Vocês fazem parte do grupo que exerce a profissão mais nobre da sociedade: os que preparam as gerações novas para enfrentarem a vida. Levantem a cabeça, olhem para o céu, vislumbrem o futuro que em breve será repleto de alegria.

Jesus também foi professor, o Mestre por excelência, e Ele nos diz: “Pedi e obtereis, buscai e achareis”.  É preciso neste momento saber entregar a Ele a nossa prece. Integrar-se na oração é uma atitude que demonstra maturidade psíquica e saúde mental, apesar do sofrimento atroz que envolve vossas almas.

Em outra publicação no site, escrevemos queJesus explorava a imaginação de seus ouvintes pois, cada um, com a plasticidade de seu pensamento, criava mentalmente a cena dos episódios narrados na história, que sempre envolvia situações cotidianas, comuns à compreensão de todos.

Leia mais: https:// https://www.neipies.com/a-linguagem-simbolica-das-parabolas-de-jesus/

 Naturalmente, sabemos que vai ser preciso muito trabalho, ação, atividade, organização, elegendo prioridades para recomeçar. Buscar seus direitos de receber ajuda federal, estadual e municipal registrando-se legalmente para acessar estas fontes de recursos, sem intermediários. Os sindicatos a que cada um está vinculado estão acolhendo seus filiados, cadastrando-os, registrando suas necessidades pessoais, e, dentro do possível, encaminhando ajuda. 

Queridos colegas, não se deixem envolver pela excessiva tristeza, apatia, depressão. Evitem ficarem centrados em torno do problema. Movimentar-se e compreender que é necessária uma cota de sacrifício para conseguir a superação gradativa da tragédia individual e coletiva.

As famílias de muitos alunos também perderam tudo.  Não há mais a casa, móveis, roupas, material escolar, lembranças. Muitas escolas também foram arrasadas, ruas, bairros inteiros, municípios. Agora é olhar para a frente, para o futuro.  Tudo passa na vida…

É aconselhável, segundo a Psicologia, que é a ciência da alma, que a pessoa que passa por um trauma desta magnitude, com muitas perdas, aprenda a parar algumas vezes ao dia e olhar para dentro de si mesma, conectar-se com as dimensões superiores da vida, respirar fundo, inspirar, expirar, em silêncio, e reencontrar seu equilíbrio emocional e espiritual.  Chorar em silêncio, de vez em quando, lava a alma. Buscar a Deus, nosso Pai, entregar-se nas mãos Dele.

Tenham em mente que tudo que foi destruído pelas águas vai renascer, se regenerar, se renovar, para melhor. A História da humanidade registra que grandes avanços, em todas as áreas da vida, ocorrem depois de cataclismos destruidores. As agressões climáticas que se vive hoje estão modificando e recuperando a paisagem natural que o homem agrediu.

Na verdade, não existe estabilidade permanente na vida, tudo está em gradativa mudança. Estamos, sempre, sujeitos à alteração e à transformação repentina em nossas vidas pessoais. Para tal, é preciso flexibilidade para a mudança, desapego, sair do foco daquilo em que nos apegamos. É a lei divina da destruição, que faz parte da vida e que promove crescimento. É saudável nos renovarmos, nos desapegarmos das coisas materiais. Evitar ficar apegado ao passado.

Claro, queridos amigos, que existe um tempo de dor, de sofrimento, luto pelas perdas materiais e, ou afetivas; é normal. Não crescemos efetivamente se não tivermos perdas, elas são experiências necessárias para nosso desenvolvimento emocional e espiritual.

Nosso Mestre e irmão maior, Jesus, o nosso amigo certo das horas incertas, nos consola: “Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados” (Mateus, V, vv 5) Por isso, não desanimar, lembrar que a prece, na crise atual, é apoio para nossa alma atormentada.

Vamos refletir:  quais serão as consequências destes desafios que nos tiram do prumo?  É questão de tempo e de muito trabalho produtivo. Temos a certeza de que todos sairemos melhores e mais felizes desta situação.

Não fiquem calados: gritem, chorem, peçam ajuda dos colegas que, como eu, não foram atingidos pelas águas; que mesmo aposentados, continuamos vibramos por nossa gloriosa profissão. Contem conosco. Vamos nos unir em pensamento, pelas redes sociais, para que possamos trocar experiências e práticas docentes que dão certo. Não desistam de lutar, lecionar.  Vamos transformar nossas escolas em espaços lindos de acolhimento, ensino, aprendizagem, de muita arte e harmonia, onde todos se sintam felizes.

Fraterno abraço a todos.

Autora: Gladis  Pedersen  –  Pedagoga /gladispedersen@gmail.com. Também escreveu e publicou no site “A terra: nossa mãe comum”: https://www.neipies.com/a-terra-nossa-mae-comum/

Edição: A. R.

5 COMENTÁRIOS

  1. Agora precisamos ser solidários, nos amparar uns aos outros, de alguma forma todos fomos atingidos por está tragédia ambiental. É momento de acolher, orar, ajudar em todos os sentidos para que a vida possa ser retomada de forma mais consciente.

  2. Quando o desespero vem e o nosso querer não controla o choro, o luto parece se instalar em nosso coração, é hora de enxergarmos mãos amigas que se estendem em nossa direção, sentir o calor do aconchego e o olhar bondoso do irmão do caminho.
    Vejo na carta de Gládis aos professores flagelados, o propósito de ser “um farol em noite escura, uma ponte sobre as águas”, uma esperança de entrelaçamento de amor e compaixão, um gesto de humanidade.
    Gládis, neste momento, representas todos os professores que se unem às tuas considerações para levar aos colegas que enfrentam a reconstrução de sua história de vida, nossas vibrações de apreço e solidariedade. Por tudo isto, receba nossa gratidão.

    • Vamos nos disponibilizar para ajudar nossos colegas a enfrentar tamanho desafio e retomar as atividades.

  3. Lindo texto, verdadeira expressão de que o homem é munido pela esperança de um mundo melhor, onde possamos viver em harmonia com a natureza, sem agredi-la, com o outro, respeitando-o e consigo mesmo, se policiando e com mente aberta para o constante aprendizado.

  4. Um texto belíssimo, com a devida licença da autora quero fazer ecoar as palavras de fé e esperança deste texto.

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