Como alguém se torna pai

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Tornar-se pai é uma experiência diferente e complexa, irrepetível. Dúvidas e amor se misturam naquilo que podemos ser, ou não.

Ser pai é entregar amor, com a certeza de que os filhos sejam apenas bons seres humanos.

Ser pai é deixar os filhos seguirem seus próprios caminhos.

Ser pai é reencontrar a criança que fomos um dia, e com o olhar dela, deixar outras crianças serem mais felizes do que nós mesmos fomos.

Ser pai é estar presente, às vezes também como mãe.

Ser pai é dar oportunidade para o desenvolvimento das capacidades afetivas, emocionais, intelectuais e sociais de nossos filhos.

Ter uma relação afetuosa e incondicional com o filho ou com a filha é muito mais do que o cuidado econômico.

Um pai que mereça ser pai deve:

– Ser partícipe do cuidado com o filho ou com a filha.

– Compartilhar as tarefas domésticas e da criação dos filhos como alimentar, vestir, passear, fazer dormir, jogar, dar banho e ajudar nas tarefas da escola.

– Estimular e incentivar o desenvolvimento da criança, deixar livre, mas cuidar.

– Equilibrar o respeito e a obediência, os limites e as liberdades, saber dizer SIM e NÃO no momento certo.

Um pai presente na vida dos filhos:

– faz com que ele ou ela se desenvolva melhor.

– não sobrecarrega a mulher nas muitas coisas que já tem de fazer.

– faz com que o pai se sinta mais realizado e feliz.

– solidifica e qualifica o vínculo com o filho ou com a filha para os momentos difíceis da vida.

Assim escrevi uma vez sobre meu pai:

“Mesmo sem perceber, imito meu pai. Ando pelas ruas e também recolho parafusos nos bolsos. Depois, me acompanharão até em casa, habitarão uma lata.

Claro, os parafusos não são de aço. Chamam-se palavras, feitas de letras e sonoridades. E acaso não levo nos bolsos esse caderninho para anotar ideias? E a lata de querosene de meu pai não é este computador onde guardo as anotações e as transformo em textos?”

E assim escrevi sobre meu filho:

“Pensei viesse no bico da cegonha, foi a assistente social quem ligou. Esperei um recém-nascido, tinha três anos. Escolhi um dia astrológico para o nascimento, veio numa segunda treze, seguinte ao dia dos pais de 2012.

Quis abraçá-lo forte, esquivou-se por uma hora. Quando se escondeu num canto, apertei suas mãos e o puxei para mim. Então me abraçou forte. Assim muitas vezes. O mesmo nascimento a fórceps.

O primeiro dia lá em casa, levamos junto um peixinho para o lago. Um kinguio branquinho no meio dos vermelhos. E o peixinho foi encontrando pai, mãe, irmãos, avós…

Num entardecer, perguntou-me quem era o homem que segurava a mão de um menino. E eu disse “seu pai”. “Sabia que eu não tenho pai, apenas tias lá da Casa da Criança?”. “Você quer um pai?”. “Sim”. “Quem seria?” “Você”.

Virei pai comprando pão.

Autor: Pablo Morenno. Também escreveu e publicou no site “Leia para seu filho e com seu filho”: www.neipies.com/leia-para-seu-filho-e-com-seu-filho/

Edição: A. R.

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