As crianças necessitam aprender o que é fundamental para viverem bem. Faz-se necessário educar financeiramente as crianças para que aprendam que nem sempre podemos ter tudo o que desejamos.
Vivemos tempos difíceis financeiramente. A pandemia agravou a vida das famílias e alguns pais perderam os seus empregos ou tiveram os seus salários cortados pela metade. Desde sempre, sabemos que é preciso aprender a economizar se quisermos prosperar no futuro; o problema é que o dinheiro é tão pouco que mal sobra para fazermos uma poupança ou investirmos em algo. Também estamos mal acostumados com os apelos das mídias e saímos gastando todo o nosso dinheiro com coisas supérfluas.
Ainda não nos acostumamos a gastar apenas o necessário. É grande o número de pessoas endividadas, principalmente aquelas que usam cartões de créditos. O Serviço de Proteção ao Crédito – SPC registra grande número de inadimplentes a cada ano. Claro é que o salário mínimo no nosso país mal dar para pagar as despesas básicas de uma casa, imagine pensar em luxo ou coisa parecida.
Às vezes planejamos uma viagem, passar as férias num bom hotel, levar as crianças a um shopping no final de semana, mas não temos condições financeiras para realizarmos tais passeios. Ficamos angustiados e acabamos sofrendo com a falta de dinheiro para uma simples diversão com a família.
O avanço da internet e as propagandas encontradas nas mais diversas redes sociais são apelativas e nos induzem a comprar, comprar e comprar. Somos influenciados a todo instante a comprarmos, mesmo coisas que não nos serão necessárias para nada. Algumas pessoas vítimas de compulsão por compras, doença chamada pelos psiquiatras de oneomania são os que mais sofrem.
É preciso cuidado! É preciso saber o que você realmente necessita comprar! Há pessoas que para esquecerem as suas tristezas saem gastando tudo o que têm em compras e assim sentem-se recompensadas quando trazem nas mãos enormes sacolas cheias de coisas que não servirão para nada.
Vivemos num século em que somos incentivados a comprar. E, para que possamos viver bem e não nos endividarmos, é que precisamos educar financeiramente as nossas crianças no objetivo de crescerem conscientes a esses apelos das mídias as quais estão permanentemente conectadas e resistirem as mais diversas propagandas de estímulo às compras.
Devemos educar financeiramente as nossas crianças para que elas aprendam desde cedo a economizar, a gastar somente o necessário, a poupar seja quanto for e, principalmente, a saber administrar a sua mesada.
Antes de educarmos as nossas crianças, precisamos nos educar. Filhos de pais endividados não saberão como lidar com as suas mesadas. Assim como os pais, sairão por aí gastando a torta e a direita tudo o que acharem que precisam, quando na verdade são coisas pelas quais podem passar sem elas.
As crianças necessitam aprender o que é fundamental nas suas vidas para continuarem a viver bem. Não é porque o amiguinho da escola tem um tênis ou uma roupa de grife que ela também terá que ter. Se os pais não podem comprar é preciso que sejam sinceros e tenham uma conversa com a criança sobre as suas dificuldades financeiras.
Muitos pais sequer podem dar mesada no final do mês para os seus filhos. Às vezes as crianças recebem alguns trocados para comprar o lanche da escola. É esse dinheiro que deve ser economizado cuidadosamente.
A criança não precisa comprar um lanche maior do que a sua vontade de comer. Ela pode se satisfazer com um simples sanduíche e guardar o troco para fazer outra coisa. É desde a infância que se aprende a economizar.
Também devemos ensinar às crianças que a mesada não precisa ser gasta com bobagens, mas que elas podem fazer uma poupança ou mesmo ter um velho mealheiro de porquinho para guardarem as suas moedas.
Antigamente, toda criança tinha um porquinho onde poupava moedas para a realização de um sonho.
Chegou o momento de voltarmos a presentear as crianças com mealheiros. Eles são o início da educação financeira. Desde a tenra idade a criança é incentivada a guardar as suas moedinhas se quiser comprar esse ou aquele brinquedo. Isso é muito bom para a educação financeira de qualquer criança. É um incentivo que não vemos mais nos tempos atuais. Claro que as coisas mudam, mas algumas devem ser resgatadas para a boa educação dos pequeninos.
Existem aquelas crianças que recebem uma boa mesada por mês e essas são as que mais precisam de educação financeira. Nada de viver trocando de aparelho celular de seis em seis meses ou comprando o melhor tênis do momento. Chegou a hora de investir o dinheiro em outros negócios. Precisamos ensinar às crianças a como se tornarem pequenos investidores na bolsa de valores, a comprarem ações de grandes empresas e a fazerem negócios que ajudem a multiplicar as suas mesadas, tudo com o olhar cuidadoso dos pais ou responsáveis.
Chegamos aqui naquelas crianças que, infelizmente, passam dias e noites nos semáforos das grandes avenidas das nossas cidades limpando para-brisas de automóveis. Essas aprendem desde cedo a economizarem as suas moedas para levarem comidas às suas famílias e comprarem o que desejam. São crianças que enfrentam a fome, a sede, o frio e estão sempre a batalhar por uma vida melhor. O bom era que não fosse preciso elas trabalharem nunca, mas vivemos num país de desigualdades sociais graves.
As crianças que trabalham para sobreviverem também não estão salvas dos apelos das mídias. Essas sonham com bonés, tênis e aparelhos celulares de grifes. Talvez sejam as crianças mais vulneráveis na nossa sociedade, pois quando não ganham as moedinhas necessárias para a realização dos seus sonhos são influenciadas a práticas de pequenos roubos para adquirirem o que seus pais e seus trabalhos não podem lhes dar.
Faz-se necessário educar financeiramente as crianças para aprenderem que não temos tudo o que desejamos, que muitas vezes nem precisamos daquilo que a propaganda da rede social costuma mostrar.
Os pais devem ser os maiores incentivadores na educação financeira calculando junto com os filhos as despesas de água, luz, telefone e internet e até mesmo quanto gasta com a gasolina do carro mensalmente. Levando-os para fazerem supermercado juntos e pesquisarem os preços das frutas, do feijão, do arroz, do biscoito que a criança tanto gosta. Comparando os preços de um supermercado com outro. Mostrando para o filho a dificuldade de trabalhar trinta dias para ganhar X ou Y salário que muitas vezes só dar para pagar as despesas da casa e por isso eles custam tanto a fazerem uma viagem bacana.
Se a criança desde cedo aprender a ter responsabilidade financeira como as crianças que necessitam trabalhar para sobreviver, não gastarão as suas mesadas à toa. Sempre terão um dinheiro para mandar consertar o brinquedo quebrado, o aparelho celular que parou de funcionar ou o notebook que apresentou um defeito de uma hora para a outra.
As crianças imitam os adultos. Assim é que se os pais levam seus filhos às feiras e pechincham na hora das compras elas aprenderão desde cedo a fazerem negócios. Serão cuidadosas em gastar cada centavo que tiverem.
Na escola, a professora ou professor, pode fazer uma lista de coisas que as crianças gostam de comer e junto com elas pesquisar os preços dessas coisas em três ou quatro supermercados comparando as diferenças um para o outro. Também pode ser discutido os diversos aumentos de gás de cozinha que estamos tendo nos últimos meses. Outra coisa importante é pedir para que cada criança economize com o gasto de água e energia em casa e no final de cada mês veja o quanto economizou de um mês para o outro.
Que a criança também seja incentivada a registrar quanto gasta no seu lanche diário e no final do mês calcular quanto gastou ao todo e no que poderá economizar no mês seguinte. Também não é preciso comprar os melhores cadernos com capas duras e de super-heróis para estudar, as canetas cheias de brilho e encantamento, a melhor calculadora. Tudo deve ter um limite na hora da compra e isso deve ser mostrado à criança.
Nas aulas passeios, as crianças devem ser estimuladas a gastarem apenas o necessário. Se forem levadas a visitarem uma livraria, que comprem somente os livros que serão necessários para os seus estudos e deleites.
Os professores também podem trazer outros exemplos para a sala de aula como o de mostrar aos seus alunos o valor de um salário mínimo e com eles calcular o que se dar para gastar com esse dinheiro juntando aluguel de casa, água, luz e comida. Pedir às crianças sugestões de como economizar na água e na luz e incentivá-los sempre a não fazerem compras desnecessárias.
A educação financeira começa em casa, mas a escola também é responsável por ela. Os professores devem ter o cuidado de não deixarem as crianças gastarem as suas mesadas com coisas supérfluas que não vão lhes trazer nenhum benefício ou muito menos comprar por comprar. Estamos vivendo uma época em que economizar é a palavra do momento.
Os pais devem ter cuidado quando usarem os seus cartões de créditos na internet, pois muitas vezes as crianças se conectam em sites de compras e com o cartão aberto podem sair comprando tudo o que verem sem se darem conta que estão gastando o limite do cartão do papai ou da mamãe, trazendo com isso sérios problemas no final do mês nas faturas para os pais. Todo cuidado é pouco quando se usa a internet. Os pais também devem manter os cartões bem guardados e distantes das crianças menores. Elas nunca vão ter entendimento que não podem sair comprando tudo o que desejarem.
A professora ou professor deve trazer exemplos práticos para a sala de aula, principalmente os de famílias de classes diferentes para que as crianças aprendam desde cedo que vivemos num país de desigualdades financeiras enormes. Uns têm muito e outros não têm quase nada.
Educar financeiramente uma criança é extremamente necessário para os dias atuais. Resgate o velho porquinho e comece a incentivar o seu filho a poupar moedinhas para comprar o que ele deseja.
Não caia na tentação de presentear a sua criança com uma grande festa de aniversário e ficar endividado. É melhor um bolinho simples com os parentes e amigos e depois explicar para a criança o motivo da grande festa ter sido adiada. São coisinhas sinceras que dizemos a esses pequeninos que vão dando confianças para eles. Afinal, mentir às crianças não é uma coisa boa e de um jeito ou de outro elas vão acabar descobrindo.
Não tenha vergonha de dizer para a sua criança que não tem dinheiro para comprar aquele smartphone que ela tanto deseja ou que não pode matriculá-la no cursinho de inglês ou na aulinha de natação porque está em contenção de despesas. Ao invés de ficar envergonhado, conte para a sua criança sobre o quanto você trabalha para ganhar um salário no final do mês que só dar para pagar as contas da casa e comprar um ou outro remédio necessário.
A educação financeira deveria ser estudada ao longo de toda a nossa vida estudantil, assim seríamos pessoas mais cuidadosas com o nosso dinheiro.
Também peço aos pais que não tenham vergonha de contar aos seus filhos que será preciso trocar de escola no ano seguinte porque a mensalidade da atual está muito cara e a família está em contenção de despesas, ou seja, cortando tudo o que pode para não ficarem mais endividadas. Tudo deve ser explicado à criança para que ela compreenda e respeite as decisões dos seus pais.
Autora: Rosângela Trajano
Edição: Alex Rosset
Muito bom alertar para esta parte. Primeiramente educar os pais. Texto excelente.
Excelente texto… reflexão importante!
Realmente deveríamos ter educação financeira dentro de casa e da escola para as crianças desde cedo, procurando um equilíbrio entre o materialismo e consumismo x segurança, conforto e realização de projetos.
Danda querida só posso agradecer pelas dicas que lí sobre finanças. Lembrei minha infância, eu também tive um porquinho para juntar moedas e quebrar no fim do ano. Ótimo texto. 👍👏👏👏👏👏👏👏
Excelente texto, bom para abrir os olhos dos responsáveis sobre o conceito criança e finanças.
O conceito de compartilhar responsabilidades e apresentar a realidade vivenciada, trazer a criança como parceiro é uma tarefa complexa mas edificante. Parabéns, Danda Trajano!
Muito lindo sua história