Como ensinar as crianças a amarem os anfíbios

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Como poderá existir vida num rio poluído? Quem está matando os sapinhos? Por que fazemos isso?

As crianças não têm emoções e/ou sentimentos formados quando nascem, tudo é um processo ao longo das suas vivências que vai se construindo conforme recebem informações das pessoas próximas e do mundo ao seu redor, logo elas não sabem diferenciar o que é feio do bonito, o que é o bom do mau.

Nas primeiras idades somos nós, adultos, os responsáveis pela formação espiritual das crianças, por isso cabe a nós um cuidado delicado para não enchermos seus espíritos de conceitos e pré-conceitos que dizem respeito somente às nossas vivências enquanto seres pensantes e sentipensantes de passagem pelo planeta Terra.

Para compreender o mundo, a criança precisa que o adulto lhe ensine aos poucos o que realmente merece ser colocado no seu pequeno espírito, o que pode ser apreendido e versado na sua razão. Assim, permitimos que a criança possa por si própria fazer escolhas, buscar alternativas e caminhos para um bem viver.

“Há crianças que brincam no meio da floresta, de tomar banho de rio, de contar as estrelas, de ver São Jorge na lua, de querer passar embaixo do arco-íris. Ah! Essa vida cheia de brincadeiras, de sorrisos, de comer as goiabas do vizinho e sujar a camisa com nódoa de caju”. Leia mais!

A tenra idade é a fase da aprendizagem que levaremos ao longo das nossas vivências. É nessa fase que encontramos crianças com sentimentos e emoções diante das pessoas e das coisas, conforme aquilo que os adultos as apresentaram. Se você disse para uma criança que tal coisa é feia e nojenta aquilo ficará marcado dentro do seu pequeno espírito talvez pela vida inteira, pois as primeiras impressões são as que ficam. Mudar esse sentimento só com muita confiança à pessoa que continuará a educá-la.

Nenhuma criança nasce sabendo diferenciar coisas feias de bonitas, mas nós adultos costumamos a todo instante dizer para elas que não peguem em tal coisa porque é nojenta, porque é feia, porque não gostamos daquilo e acabamos colocando no seu espírito aquilo que são sensações nossas, sem permitirmos que a própria criança experiencie essa vivência.

Claro é que, na maioria das vezes, acendemos o alerta de não deixar que as nossas crianças fiquem à mercê de coisas más ou quem possam a vir lhes prejudicar, mas tenhamos cuidado com a forma pela qual as educamos, pois todo ensinamento errado pode acarretar em traumas futuros.

Para entrar no assunto deste artigo, quero falar um pouco dos anfíbios, mais precisamente dos sapinhos, rãs e pererecas que vivem nos rios e lagos das cidades. Esses animais são indefesos e não fazem mal a ninguém. Considerados feios por uns e nojentos por outros, eles servem para equilibrar o meio ambiente comendo muriçocas e mosquitos como também para alimentar outros animais.

Não devemos ensinar às crianças a jogarem pedras ou sal em seus corpinhos indefesos. Isso é maldade. Isso é um ensinamento errado. Ao contrário, devemos ensinar às crianças o quão importante os anfíbios são para a nossa natureza.

Na minha pequena infância, aprendi que os sapos são bichos horríveis. Quando aparecia um sapinho dentro de casa, as pessoas jogavam sal em seus corpos. Eu não sabia por que faziam aquilo, eu só via e achava aquilo engraçado e esquisito. Hoje, adulta, vejo o quanto isso é prejudicial aos sapinhos, pois impede que os mesmos possam respirar, uma vez que a respiração é cutânea, ou seja, pela pele.

Na minha pequena idade, jogava-se sal para espantar o bichinho pra longe, era comum vermos sapinhos mortos no terreiro próximo de casa. Eu nem chorava porque aprendi que por bicho que a gente não cria em casa não é preciso chorar, e acreditava que só se devia chorar por gato e cachorro. Eu era uma menina boba e as pessoas faziam questão que crescesse assim.

Pois bem, depois de mostrar a importância dos anfíbios para o meio ambiente, venho pedir aos pais e professores que ensinem às suas crianças a amarem os anfíbios mostrando a importância que têm para o meio ambiente. Apresentando nas suas aulas ou rodas de conversas imagens desses bichinhos, locais onde vivem e seus costumes diários e noturnos.

Nunca dizer para uma criança que tem bicho feio na natureza, isso quem deve julgar é ela depois de se conhecer mais sobre tal bicho. Todo cuidado é necessário quando ensinamos às crianças a preservarem o meio ambiente.

Os sapinhos e rãs são pouco encontrados nos dias atuais nas cidades grandes, geralmente os encontramos em comunidades pequenas onde tem rios e lagos. Nesses locais devemos ter mais cuidado no respeito à natureza, principalmente aos anfíbios porque grande parte da população tem pré-conceitos sobre eles que se tornaram comuns no dia a dia, e ensinam às crianças que esses bichos são feios e nojentos, que devem ficar longe deles. Quando criança eu só sabia que sapo servia para fazer macumba, triste experiência.

Mas sapo, rã e perereca também servem para não permitir que mosquitos e muriçocas invadam as nossas casas, se eles forem extintos o meio ambiente será afetado e quem mora próximo de um rio ou lago verá um desencadeamento da natureza, ou seja, um número crescente de mosquitos.

Todo animal tem a sua importância significativa ao planeta. Eu escolhi os anfíbios por acreditar que eles são os que mais sofrem perseguição por parte de algumas pessoas, principalmente no que concerne aos sapinhos que são sempre vistos como um bicho que só serve para fazer macumba. Na minha infância, aprendi desde cedo que a gente quando quer o mal de uma pessoa coloca o nome dela num papel e coloca na boca do sapo, depois costura e pronto, ela só vai viver coisas terríveis. O que não é verdade. Os sapos não fazem mal a ninguém.

Vemos que o preconceito em relação aos sapos, rãs e pererecas ainda é muito grande até hoje.

Também deixo aberto para o professor ou pais falarem do uso dos animais para oferendas por parte de algumas religiões, como também do uso para experimentos científicos. Tudo isso precisa ser abordado com as crianças para que elas não cresçam bobas iguais a mim, pois essas informações erradas nós trazemos para a vida adulta e acabamos transmitindo para outras pessoas ao nosso redor que são leigas no assunto.

Ensinar às crianças a como amarem os anfíbios pode ser meio complicado porque a maioria delas vivem presas dentro de apartamentos, casas e condomínios, logo nunca conhecerão esses animais, porém há aquelas que vivem nas cidades pequenas onde já vemos uma queda no número de anfíbios, ou seja, eles estão desaparecendo e por nossa causa as crianças nunca mais poderão ver um sapinho ou uma rã no quintal de casa ou num passeio pelo rio.  

Os sapinhos são muito usados para experimentos científicos em laboratórios. Devemos ter cuidado com isso, pois se trata de uma vida. Este é um assunto para ser debatido com a questão ética.

Até onde podemos tirar uma vida para fazer uma experiência científica? O que vai acontecer com o sapinho se a nossa experiência fraquejar? E se eu matar o sapinho? São essas e tantas outras questões que devem ser abordadas neste assunto delicado. Toda vida importa para o equilíbrio e amor ao meio ambiente.

Outro assunto que também deve ser discutido com as crianças é a questão da rã, anfíbio encontrado nos rios e lagos também, serve como alimento ao homem. Mas até onde surge a questão ética da grande matança das rãs para alimentar pessoas que pagam caro pelo seu prato? Estamos desequilibrando a natureza tirando dela centenas de rãs mensalmente para alimentarmos os nossos desejos da gula?

Eu sei que alguns animais devem ser comidos pelos homens, mas defendo que sejam comidos quando se tem fome verdadeira e que não há outro alimento por perto para evitar o seu consumo desenfreado. Outro dia, conheci um restaurante onde tinha um tanque enorme cheio de rãs à espera de serem mortas para atender o desejo de seus clientes.

São por todos os motivos expostos acima que venho como uma pessoa que grita e pede socorro aos anfíbios que procuremos ensinar às nossas crianças o respeito e a admiração por todos esses bichinhos para que possam viver bem onde quer que estejam.

Nas aulas podemos mostrar as imagens de alguns deles e comentarmos sobre as suas existências e importâncias. Começando pela natureza e depois pela questão da ética, pois sem ela não podemos chegar ao espírito da criança, uma vez que toda ela cresce conhecendo os seus deveres e direitos das coisas baseadas nos nossos comportamentos diante do mundo.

É importante que cuidemos dos anfíbios antes que seja tarde demais. Os sapinhos são indefesos e quando invadem as nossas casas é porque nos rios e lagos algo de errado já está acontecendo, pois eles não costumam sair por aí fazendo mal a ninguém.

Também devemos mostrar às crianças que o conceito de feiura depende de nós, pois o que é feio não significa ser maldoso, e tendemos a criar esse tipo de sentimento pelas coisas feias como se elas trouxessem sempre algo desagradável para nós.

Os anfíbios estão desaparecendo por nossa causa. Antigamente, perto de mim, tinha um rio e eles vinham nos visitar todas as noites. Hoje, não tem mais rio e os sapos morreram todos.

O homem atingiu o meio ambiente com o seu crescimento desenfreado e a construção de prédios residenciais próximos a rios e lagos o que destruiu tudo que tinha ao nosso redor. É esse cuidado que devemos ter quando formos dar uma aula sobre a importância dos anfíbios, ou seja, eles só vão existir se existirem rios e lagos. Como poderá existir vida num rio poluído? Quem está matando os sapinhos? Por que fazemos isso? O que pode nos causar o desenvolvimento?

Que todo sapinho, rã ou perereca possa viver em paz nos rios e lagos espalhados pelo mundo inteiro.

E que as nossas crianças possam aprender a amá-los independente de boniteza, pois desde cedo as ensinamos a amarem ursos de pelúcia e essas sequer os conhecem passando-lhes uma imagem de que todo urso é manso e carinhoso quando não é verdade. Com base nisso podemos ensinar-lhes a amarem e respeitarem os anfíbios também se não tivemos pré-conceitos diante da natureza que tanto nos quer bem e nos proporciona um bem viver no planeta Terra. Ela só quer que a respeitemos.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: Alex Rosset

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