É aquietador escutar: “São muitos os homens bons”. “São inúmeras as boas mulheres”. E como faz bem ouvir, de vez em quando que seja, que nós também somos bons.
Procuro contar aos meus alunos os bons modelos e os melhores momentos revelados por médicos atuais e passados – sou professor de relação médico-paciente e de ética médica.
Não é assim que se faz com o futebol? Se priorizássemos a divulgação não dos “melhores momentos”, mas dos piores, continuaria ele sendo o esporte que mais admiramos?
Pesquisadores já fizeram levantamentos – Martin Seligman, Katherine Dahlsgaard, entre outros – sobre quais atributos pessoais consideramos dignos, éticos, formadores de um bom caráter: 1. capacidade de estabelecer relacionamentos honestos, leais e tolerantes; 2. ter boa empatia; 3. gostar, amar as pessoas e a vida; 4. agir de forma construtiva e querer sempre fazer o que é certo; 5. ser inteligente e capaz, sem deixar de ser humilde; 6. revelar senso de dever e de justiça; e 7. ser um otimista e não um crítico.
Admiramos quem tem algumas das qualidades referidas e, igualmente, aqueles que, não as possuindo, revelam vontade de tê-las e se esforçam para tanto.
Melhoramos com os bons exemplos, é lugar comum, mas, para tanto, precisamos que eles cheguem até nós. Quando muito se fala sobre o mal, sobra pouco espaço para o bem. O hábito de muito criticar, de muito apontar os aspectos negativos, gera desesperança e nada mais.
Pergunto: por que os escritores de novelas as povoam com personagens de mau caráter? Não se trata de propaganda às avessas do ser humano? E a propaganda não é a “alma” do negócio?
Evidentemente que não podemos dar uma de ingênuos, negar as maldades das pessoas distantes de nós e até das que nos são próximas. Negar que, como em todas as profissões, na medicina também há médicos que não deveriam ser médicos.
Mas se, ao passar para meus alunos a “novela da medicina”, eu priorizar os exemplos ruins, ao terminar a aula eles – e eu – verão reforçadas nossas próprias maldades, pois o bem e o mal, outro lugar comum, não convivem dentro de nós?
Ao contrário, como é aquietador escutar: “São muitos os homens bons”. “São inúmeras as boas mulheres”. E como faz bem ouvir, de vez em quando que seja, que nós também somos bons.
Autor: Jorge Alberto Salton. Também escreveu e publicou no site “Bruno estava infectado pelo maniqueísmo”: www.neipies.com/bruno-estava-infectado-pelo-maniqueismo/
Edição: A. R.