Os negacionistas radicais, os que repetiram
o discurso de Bolsonaro, que defenderam a
cloroquina em vez da vacina, esses deveriam
se antecipar e dizer: eu não quero ser vacinado.
Duas ideias para resolver as controvérsias em torno de quem nega a pandemia, nega medidas coletivas de proteção contra o coronavírus, nega a importância da vacina e se dedica a exaltar farsas e milagres bolsonarianos como o da cloroquina.
Imunidade de rebanho
A primeira ideia é essa e envolve convicção, engajamento e capacidade de entretenimento. Enquanto a vacina não chega, os negacionistas seriam encerrados voluntariamente, por algum tempo, em áreas escolhidas.
As áreas poderiam ser parques, praias, casas de festas, estádios de futebol. O negacionista entra sem máscara, faz uma declaração de que é uma adesão voluntária e se integra a outros negacionistas.
Lá dentro, cada um faria o que bem entendesse. Poderia beber, namorar, praticar esportes, tomar chimarrão, fazer rodas de conversa sobre a Terra plana, sempre sabendo que aquele é um reduto fechado e só com negacionistas.
Claro que somente seriam aceitos adultos. Eles ficariam ali por pelo menos quatro semanas, duas semanas além do tempo suficiente para que fosse vencido o período de incubação do vírus.
Seria uma espécie de Big Brother do negacionismo. As áreas teriam infraestrutura, banheiros, refeições e pessoal de apoio, que faria as vezes do suporte de saúde.
Sim, porque todos os infectados seriam tratados ali dentro, ou não teria sentido pregar o negacionismo e, quando doente, procurar socorro em hospitais com profissionais que correm riscos para salvar vidas.
O negacionista que desrespeita o trabalho heroico de médicos, enfermeiros e profissionais de saúde tem que ser valente.
E os que fossem morrendo? Seriam sepultados no entorno, em covas abertas nas proximidades. Em buracos semelhantes às covas coletivas para os pobres infectados, que estão sendo abertas desde março.
O negacionista não tem o direito de achar que pode infectar e ser infectado e dispor de todo o suporte que despreza. Nem os cemitérios estariam à disposição dos negacionistas.
Para que houvesse rodízio, uma turma de negacionistas entraria nos locais determinados. Ao final das quatro semanas, sairiam os sobreviventes. E uma nova turma assumiria as vagas deixadas, até que se completasse, pelo negacionismo, a imunidade de rebanho.
No fim da fila
A segunda ideia envolve a vacinação. A Organização Mundial da Saúde já tem protocolos preliminares para estabelecer prioridades na imunização, quando a vacina russa estiver pronta (ou alguém acha que a primeira vacina não será russa?).
Claro que os primeiros serão os profissionais de saúde, os idosos, os que têm doenças crônicas, as crianças e os adolescentes. Depois virão os outros. E bem no fim seriam vacinados os negacionistas, se sobrar vacina russa.
Os negacionistas precisam ter a ‘dignidade’ de assumir o negacionismo e admitir que devem ficar nos últimos lugares da fila de vacinação.
O negacionista covarde, que passou todo o tempo debochando dos mortos, desafiando isolamentos, recusando o usa de máscara e anunciando que a vacina é uma bobagem, esse deve esperar.
Os negacionistas radicais, os que repetiram o discurso de Bolsonaro, que defenderam a cloroquina em vez da vacina, esses deveriam se antecipar e dizer: eu não quero ser vacinado.
E assim tudo estaria resolvido.
Coluna originalmente publicada em blog do autor.