Nossa proposta é provocativa. Quantas possibilidades nos aguardam no sentido de darmos novo direcionamento a nossa prática docente partindo da realidade, dando sentido profundo à vida do aluno e engajando-o em atividades significativas para ele, que lhe trarão, além de conhecimentos, a aplicação na realidade deles, a convivência com os outros e o autoconhecimento.
O que oferecer aos alunos? Qual será o papel dos professores? Como adequar, no Plano Político Pedagógico da Escola, a proposta da BNCC a ser gradualmente implementada, especialmente quanto ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais? Estes são alguns questionamentos inquietantes que surgem agora na mente dos diretores, equipe técnica e professores das escolas de todas as redes em nosso Estado.
Deixando de lado a questão dolorida histórica de desvalorização financeira do educador e a falta de recursos básicos nas escolas, que provocam desânimo natural, ousamos refletir, como educadora, sobre os desafios deste novo tempo que, após a parada obrigatória exigida pela pandemia da Covid 19, na esperança de retorno da normalidade, com todos os cuidados necessários, como poderemos agir no ensino, nas escolas.
Estamos no raiar de uma nova época, novo momento histórico para a Humanidade, onde a família e a escola têm papel relevante na reintegração da vida cotidiana da criança e do jovem, na busca, até, de recuperar o tempo perdido.
Sueli Ghelen Frosi, da Escola de Pais do Brasil afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola, para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos. Assista!
Entendemos que todo projeto educativo deverá partir da ideia de PERTENCIMENTO do aluno nos diversos grupos sociais que ele está inserido, família, rua, bairro, município. Trabalhar a sua história pessoal, da família, da escola, do município, do Estado, da nação, do mundo.
O aluno precisa sentir-se parte integrante de toda esta rede vibrante de vida, como um ser social e histórico e, de que forma ele poderá ajudar a promover a mudança para melhor. O trabalho decente ocorrerá num processo interdisciplinar e transdisciplinar visando atingir este fim.
O aluno precisa sentir que pertence a este lugar (município) onde seu lar está inserido, onde ele nasceu ou mora. Para sentir-se integrado a este meio, precisa conhecer a sua História, aprender a reverenciar os antepassados, a cultura, as expressões religiosas, a base da economia, sua produção, a organização política e administrativa, a situação do meio ambiente, a sua preservação etc. Esta abordagem pedagógica feita pela escola abre amplo leque de atividades didáticas que devem ser planejadas com a colaboração da comunidade escolar.
O meio ambiente onde estamos inseridos deve ser o ponto de partida para esta reflexão. Nesta perspectiva temos que levar em conta a administração pública do município, suas diversas secretarias e seus objetivos entrelaçados umas com as outras. Por que? A Secretaria de Educação deverá estar em sintonia maior com a do Meio Ambiente e as demais secretarias.
Temas como: Reciclagem e coleta de lixo, poluição da água, ar e solo, produção de energia limpa, adubo orgânico, os agrotóxicos e outros que serão levantados pelos grupos, proporcionam motivação de mudança de comportamento que trará interesse para o aluno participar.
Estas atividades práticas que vão surgir, ajudam a desenvolver as habilidades socioemocionais como: horta na escola, de legumes e ervas medicinais, hortas comunitárias, ajardinamento da escola, plantio de árvores. Participação de recuperação de áreas verdes, de locais públicos, enfim, uma gama de atividades que poderão surgir em forma de projetos construídos coletivamente na escola.
Toda atividade deve ser embasada no estudo das áreas de ensino e das disciplinas que a escola proporciona. É um trabalho de rede, de integração, que atingirá individualmente o aluno, despertando nele a vontade de colaborar, cooperar, interagir, produzir de forma fraterna, superando os desafios dos conflitos naturais pois ele pertence a este espaço e pode melhorá-lo.
Os recursos da Natureza representam a maior fonte de equilíbrio para a pessoa. A observação e a interação com a mesma estimulam a elaboração de bons pensamentos, da consciência participativa e estimula a vontade de executar atividades boas, produtivas, que nos aproxima uns dos outros com alegria e fraternidade.
Aprender com a Natureza o processo de comparação de vários aspectos da vida, de seu verdadeiro significado e leva a nos identificarmos o transcendental, o divino. É surpreendente para o aluno verificar que a semente guarda dentro de si a vida, a árvore, a nova planta.
Nos aflige ver, pelas mídias, as queimadas e desmatamento da floresta amazônica. Quem de nós não gostaria de ir até lá ajudar a apagar o fogo e plantar novas árvores para recuperá-la? Precisamos perceber que o meio ambiente de nosso município também está degradado, poluído, não podemos ir à Amazônia, mas podemos, em ação conjunta, através de educação consciente, ajudar a recuperar o espaço em que estamos inseridos e que dele usufruímos.
Nas grandes cidades de países desenvolvidos, verdadeiras selvas de pedra, encontram-se parques naturais, como em Paris, Madrid, Lisboa, Coimbra, New York, onde as escolas levam seus alunos para aprender jardinagem, semear, fazer mudas de vegetais, em local especial para esta atividade. Cada cidade deveria ter seu horto florestal, seu jardim botânico, espaços que são verdadeiras salas de aula natural, ao ar livre. Qual é a arvore ou planta símbolo de seu município? Você conhece?
Um dos maiores ecologistas e ambientalistas do mundo, o agrônomo José Lutzenberger, era gaúcho, nos deixou um grande legado; já é falecido. Ele atuou na Área de Educação Ambiental e na promoção de tecnologias brandas socialmente compatíveis, tais como: Agricultura Regenerativa, Manejo Sustentável dos Recursos Naturais, a Medicina Natural. Nos deixou um grande legado na promoção da luta pela preservação ambiental. Criou o Rincão Gaia, em Rio Pardo, RS, numa área de 30 hectares, que estava totalmente degradada, devastada pela exploração de basalto e hoje é exemplo vivo de como podemos recuperar a natureza e torná-la útil ao ser humano.
Nossa proposta é provocativa. Quantas possibilidades nos aguardam no sentido de darmos novo direcionamento a nossa prática docente partindo da realidade, dando sentido profundo à vida do aluno e engajando-o em atividades significativas para ele, que lhe trarão, além de conhecimentos, a aplicação na realidade deles, a convivência com os outros e o autoconhecimento.
O ano letivo de 2022 nos aguarda!
Autora: Gladis Pedersen de Oliveira
Edição: Alex Rosset